O atual e o anterior ministro referem-se a períodos diferentes do ano letivo. Pedimos ao professor Davide Martins que fizesse as contas aos alunos sem aulas no período referido por João Costa e concluímos que são mais 20 mil do que diz o anterior ministro da Educação
Esta sexta-feira, no segundo dia de aulas em muitas escolas, há ainda 101.280 alunos sem aulas a pelo menos uma disciplina. As contas são do professor de Matemática Davide Martins, que se dedica à recolha de dados dos diferentes mecanismos de colocação de professores e a fazer as contas que vai publicando no Blogue D’Ar Lindo, dedicado aos temas da educação.
Mas há um ano, seriam mais ou menos os alunos nestas circunstâncias em pleno início de ano letivo?
A polémica instalou-se, esta quinta-feira, depois de o antigo ministro da Educação, João Costa, ter dito, no Parlamento, que o atual detentor da pasta, Fernando Alexandre, estaria a inflacionar o número de alunos sem aulas a pelo menos uma disciplina no ano passado. João Costa disse que esse número está muito longe dos 324.228 alunos avançados por Fernando Alexandre.
“No final da segunda reserva de recrutamento, os alunos sem professor a, pelo menos, uma disciplina, eram 72.894”, disse João Costa.
O gabinete do atual ministro já veio esclarecer que "o número de 324 mil alunos referido pelo MECI diz respeito a alunos que estiveram sem aulas a uma disciplina, em algum momento, durante o mês de setembro". Ou seja, não são valores comparáveis.
“O número que o atual ministro tem avançado é um somatório. Nunca naquele dia, naquela semana à quela hora tivemos um número tão alto”, explica João Pereira, dirigente da Fenprof.
“Se olharmos para o período imediatamente antes do início do ano letivo e para a falta de docentes, os números que avançámos o ano passado estavam entre os 92 mil e 100 mil alunos sem aulas. Um número mais próximo do que avança o anterior ministro. Se olharmos para a oferta de escola desde 30 de agosto até ao início das atividades letivas, o número andava pelos 220 mil. Se juntarmos os dados da semana seguinte, são então mais 100 mil. Nós aqui temos os tais 320 mil, um número mais próximo daquele que avança o atual ministro”, acrescenta João Pereira.
Pedimos ao professor David Martins que nos fizesse as contas ao período referido por João Costa – o fim da Segunda Reserva de Recrutamento, que saiu a 8 de setembro de 2023 -, concluímos que o número de alunos sem aulas também é relativamente superior ao avançado pelo anterior ministro. “Se a segunda reserva de recrutamento saiu a 8 de setembro e considerarmos o período entre 8 e 13 de setembro (porque houve um fim de semana pelo meio), temos 1.119 horários em contratação de escola, que dizem respeito a um total de 14.760 horas, o que corresponde a 4.920 turmas e 98.004 alunos sem aulas a pelo menos uma disciplina”, contabiliza Davide Martins.
Para chegar a estes resultados, depois de consultar o número de horários e de horas a concurso, o professor considera uma média de três horas semanais por disciplina. Divide o número de horas a concurso por três e obtém o número de turmas. Depois disso, considerando que cada turma tem uma média de 20 alunos (“E sabemos que a maioria tem mais e muito poucas têm menos”, frisa), faz a multiplicação do número de turmas obtido por 20 e obtém o número de alunos.
Fazendo as mesmas contas para o mesmo período que se refere João Costa, mas para este ano letivo, concluímos que a situação da escassez de professores piorou do ano passado para este. “No mesmo período, 8 a 13 de setembro (vamos considerar 6 a 13 de setembro, porque 8 calhou ao fim de semana, temos 1.243 horários, com 20.200 horas. Dá um total de 6.733 turmas e 134.667 alunos sem aulas a pelo menos uma disciplina”, contabiliza.