Ucrânia e Rússia iniciam a maior troca de prisioneiros da guerra enquanto o Kremlin deixa uma promessa

CNN , Ivana Kottasová, Victoria Butenko, Svitlana Vlasova e Eve Brennan
23 mai, 19:06
Prisioneiros de guerra ucranianos (AP/D.R.)

Sergei Lavrov garante que a Rússia está pronta para entregar a Kiev um documento com as condições para alcançar uma paz duradoura na Ucrânia

A Rússia e a Ucrânia concluíram a primeira fase do que se prevê ser a maior troca de prisioneiros desde o início da guerra, com a libertação de quase 800 pessoas esta sexta-feira.

A troca de prisioneiros continuará no sábado e no domingo, prevendo-se que Kiev e Moscovo troquem 2.000 pessoas - 1.000 de cada lado.

O acordo para a libertação de 1.000 prisioneiros de cada lado foi o único resultado significativo da reunião entre Kiev e Moscovo, realizada em Istambul na semana passada, que marcou a primeira vez que as duas partes se encontraram diretamente desde a invasão russa da Ucrânia, em fevereiro de 2022.

“Estamos a trazer o nosso povo para casa”, declarou o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, na rede social X, acrescentando que 390 pessoas regressaram à Ucrânia na sexta-feira. Segundo Zelensky, o grupo inclui 270 militares e 120 civis.

Prisioneiros ucranianos acenam com bandeiras em celebração após a troca esta sexta-feira. (Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, via Telegram/Reuters)

De acordo com o Centro de Coordenação Ucraniano para o Tratamento de Prisioneiros de Guerra, três mulheres e 387 homens estavam entre os libertados desta sexta-feira.

O Ministério da Defesa russo afirmou num comunicado que “270 militares russos e 120 civis” foram devolvidos à Rússia. Os civis foram capturados pelas tropas ucranianas em Kursk, a região russa onde a Ucrânia lançou uma incursão surpresa no verão passado. Desde então, a Rússia recuperou a maior parte do território.

No entanto, Zelensky disse mais tarde que os civis russos devolvidos pela Ucrânia eram “sabotadores e colaboradores russos” que foram detidos por agentes ucranianos.

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, garantiu que a Rússia está pronta para entregar a Kiev um documento com as condições para alcançar uma paz duradoura na Ucrânia. O rascunho do documento será entregue assim que o processo de troca de prisioneiros estiver concluído, segundo a agência de notícias estatal russa RIA Novosti, que cita Lavrov. 

Tal como nas anteriores trocas, os prisioneiros libertados foram levados para um local de encontro em vários autocarros, depois de terem sido libertados pela Rússia na fronteira ucraniana. Na fronteira, muitos receberam bandeiras e pulseiras com as cores da Ucrânia.

Fotografias e vídeos divulgados pelo governo ucraniano mostram dezenas de homens vestidos com fardas militares, a maioria deles com a cabeça rapada, a posar junto a bandeiras.

Vários dos homens libertados podem ser vistos a falar com os seus entes queridos ao telefone, alguns a chorar ao ouvir as vozes do outro lado.

Um vídeo mostra pessoas de aldeias ao longo do trajeto do comboio a saírem com bandeiras, saudando os retornados.

"Sinto-me feliz porque estou em casa, é só isso. Estou feliz por vós, por nós, por estarmos aqui. Rezámos e pedimos que isto acontecesse", afirmou à CNN Vasyl Gulyach, que passou dois anos e meio em cativeiro.

A CNN também falou com Anton Kobylnyk, um jovem de 29 anos que passou mais de três anos em cativeiro. “Sou teu, recebi a tua carta”, disse ele à sua namorada Yulia ao telefone. “O que fizeste, ao esperar por mim durante estes 37 meses, é um grande feito e uma contribuição inestimável para a nossa relação”, disse-lhe.

Ao mesmo tempo, os soldados russos que foram feitos prisioneiros pela Ucrânia foram entregues às autoridades russas na fronteira.

Do lado ucraniano, dezenas de pessoas esperaram durante horas para saudar os repatriados num ponto de encontro na região de Chernihiv, no norte da Ucrânia, muitas delas na esperança de verem os seus familiares entre os que estão a ser trazidos de volta.

Prisioneiros ucranianos libertados esta sexta-feira amarram pulseiras com a cor da bandeira ucraniana nos pulsos. (Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, via Telegram/Reuters)

Muitos trouxeram bandeiras ucranianas e fotografias dos seus entes queridos - para o caso de algum dos retornados os reconhecer e lhes dar informações sobre o seu paradeiro.

Enquanto esperavam, as sirenes de ataque aéreo soaram por toda a Ucrânia, indicando que um ataque russo poderia estar iminente.

Milhares de civis ucranianos foram raptados pelas autoridades russas na Ucrânia ocupada e deportados para a Rússia, onde foram mantidos sem acusação ou julgamento.

O seu estatuto é complicado: uma vez que foram detidos ilegalmente, a Ucrânia considera-os reféns civis. A Rússia tem, nalguns casos, afirmado que devem ser reconhecidos como prisioneiros de guerra, algo que Kiev tem estado relutante em fazer porque poderia colocar os civis que vivem nas zonas ocupadas da Ucrânia em risco de serem detidos arbitrariamente.

Um acordo alcançado na reunião de Istambul

As autoridades ucranianas e russas não deveriam declarar publicamente que o acordo estava em curso antes de estar concluído. No entanto, o presidente dos EUA, Donald Trump, quebrou essa convenção na sexta-feira, anunciando a troca nas redes sociais à medida que esta se ia desenrolando.

A reunião de Istambul foi inicialmente proposta pelo presidente russo, Vladimir Putin, em resposta a um ultimato de cessar-fogo ou sanções dado a Moscovo pelos aliados europeus de Kiev - que muitos viram como uma clara tentativa do líder do Kremlin para distrair e atrasar.

Mas, embora o regresso de centenas de detidos ucranianos seja um enorme alívio para as suas famílias e entes queridos, continua a ser um pouco dececionante como único resultado tangível da tão falada reunião.

No seu habitual discurso à nação, Zelensky disse que esta troca de prisioneiros é o “único resultado significativo” da reunião da semana passada na Turquia, acrescentando que a Rússia estava a bloquear “tudo o resto”.

As trocas de prisioneiros têm acontecido regularmente, a última das quais no início deste mês.

O Centro de Coordenação Ucraniano para o Tratamento de Prisioneiros de Guerra disse que a troca de 7 de maio, que viu mais de 200 militares ucranianos regressarem a casa, foi a quinta troca deste ano e a 64.ª desde o início da invasão em grande escala da Rússia.

O departamento afirmou, na altura, que 4.757 cidadãos ucranianos foram libertados desde março de 2022.

A Ucrânia e os seus aliados exigiram que a Rússia aceitasse um cessar-fogo imediato e incondicional em Istambul, mas tal não aconteceu.

Kiev também propôs conversações diretas entre Zelensky e o seu homólogo russo, Vladimir Putin.

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