No Princípio da Incerteza desta semana, José Pacheco Pereira, Miguel Macedo e Alexandra Leitão analisaram o impasse político nas negociações para o Orçamento do Estado do próximo ano
Sem fazer "futurologia", Pacheco Pereira considera que atualmente "estamos numa situação em que a probabilidade de o Orçamento do Estado não passar é grande", apesar das "conversações não estarem terminadas". "Neste momento há dois partidos que podem garantir a viabilização do Orçamento de Estado, o Chega ou o PS. Aparentemente tem sido uma negociação, ou pelo menos uma conversa, ou uma pressão sobre o PS. O PS passou por um período de hesitação, aparentemente agora abandonou essa hesitação e tem tomado posições muito mais claras que indiciam a não aprovação do Orçamento. Não sei, as conversações não estão ainda terminadas, é suposto haver propostas por parte do Governo, mas aparentemente a existência daqueles dois pontos como pontos centrais que impedem o PS de votar a favor, ou eventualmente até se abster, podem significar que não vai haver acordo entre o Governo e o PS."
Afirmando que o "Chega também não quer eleições", o comentador da CNN Portugal lembra que "o Governo disse que não governava com duodécimos, mas o Presidente da República fala em crise política - deixou de falar em convocação de eleições antecipadas". "Portanto, isto é navegação de cabotagem. Todos os dias a gente olha para a costa e é o que acontecer na costa. Agora, o Governo está a fazer uma coisa. Bom, o PSD e o primeiro-ministro atacaram o PS de uma forma inaceitável. Quer dizer, parecia que queriam que o PS ou se sentisse pressionado e chantageado ou pura e simplesmente se afastasse. Isso é evidente. Aquelas conferências de imprensa, aquelas histórias das datas, isso é mais que evidente", refere.
Pacheco Pereira considera que "agora" o Governo "está a fazer outra coisa mais inteligente e mais complicada, que é estar a dar benesses todos os dias". "Ainda hoje deu um suplemento aos bombeiros. Está a dar benesses, aumentos de salários, alterações nas carreiras, toda a panóplia de benesses. Muitas são justas. O problema é que é claramente uma estratégia para criar ao PS a seguinte questão, e ao mesmo tempo eleitoralmente beneficia com essa questão, que é ou aprovam o orçamento ou todas estas pessoas, grupos, sindicatos, classes profissionais, a quem a gente disse que ia dar isto, isto e aquilo", vão continuar a ter "mais ofertas".
Por sua vez, Alexandra Leitão considera que "hoje há um consenso nacional de que o IRS Jovem é injusto, ineficaz, provavelmente inconstitucional e irreversível", afirmou este domingo no programa "Princípio da Incerteza", da CNN Portugal. Para a deputada do PS, "uma vez aplicadas" essas medidas, "são irreversíveis, permanentes, injustas, erradas e ineficazes". "O único sítio onde foi proposto um IRS jovem parecido com este foi pela Frente Nacional em França. Não admira, portanto, que o Chega concorde".
"O Partido Socialista disse pela voz do seu secretário-geral que estes dois aspetos não podem estar no orçamento. A partir daí não é tática, não é nada, não podem estar, não fazem parte do projeto político que um partido de centro-esquerda defende. Dir-se-á 'bom, mas quem ganhou as eleições foi o governo'. Muito bem! E o governo está no seu direito de dizer 'bom, vocês nisso é a linha vermelha, nós também não devemos apostar'".
Por sua vez, Miguel Macedo afirma que, "se o PS pretende amputar o IRS Jovem e o IRC, tem de aceitar que está a desresponsabilizar o Governo dos resultados que adviriam ou não da aplicação dessas duas medidas".
"Ora, não tem mal considerar que essas medidas são importantes, nada determina que elas estejam fora da negociação, mas quero chamar a atenção para um ponto que é este: se o Partido Socialista pretende amputar dois aspetos que o Governo considera essenciais, designadamente do seu programa económico, então tem de aceitar como inevitável que está a desresponsabilizar o Governo dos resultados", considera Miguel Macedo.
Lembrando que "as conversas, pelo que se sabe publicamente, não correram nada bem", Miguel Macedo diz que as mesmas "não estão encerradas, uma vez que, pelo que é público, o Governo aparentemente irá apresentar contrapropostas em relação às objeções colocadas pelo Partido Socialista".