Houve "O Princípio da Incerteza" na CNN Portugal. E há incerteza parlamentar em Portugal
Pacheco Pereira, comentador da CNN Portugal, considera que "era bom que houvesse mais responsabilidade na campanha [para as europeias], quer por parte da AD, quer por parte do PS", uma vez que o novo Executivo "teve uma entrada complicada e difícil, não tem estado de graça" e não "vai conseguir cumprir as suas promessas".
"Um Governo de combate é um Governo de combate a quê? À oposição", diz. "O Governo tem uma enorme dificuldade em fazer passar as coisas na Assembleia da República. Fez uma coisa, que foi tentar levantar a questão das contas públicas. Até, em alguns aspetos, provavelmente tem razão. Estamos num conflito que, na realidade, é uma distração. Porque nem o Governo vai conseguir cumprir as suas promessas, nem o Parlamento vai dizer amém a tudo aquilo que o Governo vai dizer. Eu confesso o meu desinteresse, porque isto é coreografia. É coreografia por parte do Governo e é, muitas vezes, também coreografia por parte da oposição."
Pacheco Pereira argumenta que "o Governo, se quer negociar a sério, tem de dar contrapartidas". "Tem de dar contrapartidas ao Chega se quer o voto do Chega; tem de dar contrapartidas ao PS se quer o voto do PS. Portanto, ninguém vai dar de graça a possibilidade de passar medidas, a não ser que sejam tão populares que seria arriscado chumbá-las. Nós, neste momento, não temos um verdadeiro Governo. Nós não temos um verdadeiro Governo", diz, acrescentando que só há "uma solução para garantir estabilidade, que é fazer um acordo". "Como o Governo não tem condições para fazer um acordo com o PS, nem o PS quer, só tem condições para fazer um acordo com o Chega. Não fazendo um acordo com o Chega, vai estar sempre no fio da navalha."
A palavra-chave e a muleta
Por sua vez, Miguel Macedo defende que o que "é bom para o país e para as gerações futuras" é "termos contas equilibradas e termos objetivos de redução sustentada da dívida a longo prazo". "O anterior Governo fez aquela declaração e aquelas afirmações todas em torno de que o resultado é positivo para o país, da redução da dívida para uma percentagem abaixo dos 100% do PIB. O que é que descobrimos depois? E o que é que há de errado e grave nesta matéria? O que descobrimos depois foi que houve um conjunto de operações que viabilizaram aquele resultado que verdadeiramente não significa uma redução da dívida."
Lembrando que o foi há "exatamente um mês que o Governo viu viabilizado o seu programa na Assembleia da República", o comentador acrescentou que, "num mês, o Governo já tomou uma série de iniciativas". "E essas iniciativas vão de encontro àquilo que tinha proposto em campanha eleitoral. Quer a questão do apoio aos mais idosos - a alteração que houve ao complemento solidário do idoso -, quer o programa que já apresentou em matéria de habitação, quer o reforço do apoio aos idosos em matéria dos medicamentos. São tudo componentes que foram sendo propostas pela AD e foram sendo discutidas na campanha eleitoral. Iniciou um conjunto de negociações com vários setores da Administração Pública. E, portanto, não há, neste momento, nenhum suporte para a afirmação perentória de que o Governo não vai cumprir as suas promessas."
No entanto, ressalva que "estamos num quadro muito difícil na Assembleia da República" uma vez que "quer a oposição quer o Governo têm de ter uma predisposição para negociar". "Não basta dizer que nós tínhamos esta proposta no nosso programa, quer para o Governo, quer para os partidos da oposição. Porque isso significa deixar margem zero para uma palavra que, para mim, é a chave nesta legislatura, que é compromisso. De que é que cada um deles, Governo e oposição, estão disponíveis para abdicar para encontrarem uma solução? A solução não é tudo aquilo que o Governo quer, nem tudo aquilo que cada um dos partidos da oposição entende que devia ter."
Já Alexandra Leitão diz que é "competência da oposição, da oposição democrática, fiscalizar a atuação do Governo, tentar influenciar a governação no sentido daquilo que são as suas posições. A comentadora da CNN Portugal questiona como "devem os partidos de oposição - e designadamente o partido que lidera a oposição - recusar a possibilidade de fazer aprovar as suas propostas que têm no programa eleitoral".
"É dever da oposição escrutinar, fiscalizar, reagir" e "também tentar fazer passar as suas medidas, caso contrário será uma espécie apenas de muleta do Governo, sem prejuízo naturalmente de acordos de regime em matérias que o justifiquem".