Alexandra Leitão não tem "nada contra" o facto de Seguro apostar "ao centro" mas preferia vê-lo "um pouco mais à esquerda"

27 out, 10:41

No programa Princípio da Incerteza, a socialista explica as suas dúvidas sobre o candidato agora apoiado pelo PS. Pacheco Pereira não sabe em quem vai votar mas diz que o país precisa "de alguma dureza, pouca moleza". Pedro Duarte considera que Marques Mendes - o qual Pedro Duarte apoia - e António José Seguro são "candidatos que oferecem segurança" pelo facto de serem "previsíveis". Mas voltemos a Alexandra Leitão

Alexandra Leitão diz que "ainda não" decidiu se vai apoiar publicamente António José Seguro. Depois de sublinhar que vê "como absolutamente natural e lógico o apoio do Partido Socialista", faz um reparo ao candidato presidencial: "Está a fazer um grande esforço - ou melhor, não sei se está a fazer esforço, está a afirmar-se muito ao centro. Nada contra, pelo contrário, mas eu acho que ele devia almejar a ocupar o espaço do centro-esquerda e até um pouco mais à esquerda".

A socialista considera que "esse espaço não está ocupado". "O espaço do centro-esquerda está desocupado, ou melhor, António José Seguro tem de o ocupar - é ele que naturalmente tem de o ocupar. Reparem: o almirante Gouveia Melo viu isso, por isso é que nas últimas entrevistas tem feito claramente respostas a tentar posicionar-se no centro-esquerda."

Alexandra Leitão afirma que "que é muito importante que António José Seguro vá à segunda volta", mas diz que "gostaria de o ver afirmar mais claramente as suas ideias e o seu posicionamento". "Os outros candidatos à esquerda não só não representam exatamente o centro-esquerda. São três pessoas com quem eu simpatizo pessoalmente e como políticos - Catarina Martins, António Filipe e Jorge Pinto -  mas que dificilmente poderão ser, creio eu, quem passará à segunda volta". 

Sobre André Ventura, "se passar à segunda volta - é quase certo que não ganhará porque a sua taxa de rejeição é tão elevada". "Em princípio, seja quem for o candidato que passa à segunda volta com Ventura, poderá, enfim, granjear uma votação, nem que seja pela rejeição a Ventura. Mas a verdade é que se passar à segunda volta já é um ótimo resultado para André Ventura."

"Alguma dureza, pouca moleza"

Pacheco Pereira confessou que não sabe em quem vai votar porque "o panorama não é, propriamente, muito animador". "Como é que eu decidirei? Por várias coisas. Pela posição em relação à situação da Europa e da Ucrânia. Isso, para mim, é uma questão fundamental em que o Presidente da República pode ter um papel. Aí, de facto, quem tem sido mais claro é o almirante. Aliás, Seguro, sobre essa matéria, fez uma declaração muito ambígua. Isso é, por exemplo, um fator que pesaria em função do almirante. O que é que pesa contra o almirante, do meu ponto de vista, é que a sua força vem de coisas que eu não gosto que sejam elementos de força na vida política portuguesa. Ou seja, por ser militar e por ter uma candidatura que, no seu início, era uma espécie de manifestação de populismo militar. Ele tem tentado moderar essa relação, mas isso é a força dele. A força dele não é o que ele hoje diz."

Referindo ser amigo de Marques Mendes, Pacheco Pereira refere que o candidato tem muitas qualidades, mas realça que o país vive "um período em que precisa de pessoas com alguma dureza, com pouca moleza e alguma decisão".

"Isso é um dos elementos que eu terei em conta. Dureza para quê? Dureza porque este tempo não está para brincadeiras. Dureza em vários aspetos - os aspetos que têm que ver com os poderes presidenciais, que têm que ver com o papel do Presidente da República na política externa, que têm que ver com o combate a todas as tentativas de desvirtuar o sistema constitucional, o sistema democrático, estão em cima da mesa. Tentativa, por exemplo, de transformar o Tribunal Constitucional, tentativa de alterar a própria Constituição - e aí eu acho que o presidente tem de ser muito claro e agora, como se costuma dizer, traçar umas linhas vermelhas. Agora, eu sou a pior pessoa para me perguntar sobre as candidaturas presidenciais. Reconheço mérito em vários deles e reconheço deméritos em vários deles."

O paradoxo - e a segurança

Pedro Duarte, comentador da CNN Portugal e presidente da Câmara do Porto - e apoiante declarado de Marques Mendes -, considera que "Gouveia e Melo não dá garantias" enquanto Presidente da República. Por outro lado, há “um conjunto de candidatos sem ambição de vitória”, entre os quais Cotrim Figueiredo, António Filipe e Catarina Martins, que representam “partidos em fase difícil” e que, ainda assim, “recorreram aos seus melhores ativos políticos”.

“Provavelmente estes três nomes serão os melhores candidatos que podiam apresentar nesta área política destes três partidos. Um bom resultado de qualquer um destes três candidatos pode ser um problema para as lideranças dos três partidos. É um bocadinho paradoxal, é uma corrida à parte, digamos assim, mas não deixa de ter o seu interesse”, observa Pedro Duarte.

Pedro Duarte distingue ainda dois tipos de candidatos: os previsíveis, entre os quais inclui Luís Marques Mendes e António José Seguro, e os imprevisíveis, categoria onde coloca André Ventura e Gouveia e Melo.

"Marques Mendes e António José Seguro são oriundos de famílias políticas ou de espaços políticos que nós conhecemos há muito tempo. Conhecemos o seu pensamento desde também há muito tempo, o seu posicionamento geral, quer do ponto de vista mais setorial, quer do ponto de vista genérico, constitucional, se quisermos. E, portanto, são candidatos que nos oferecem, se quisermos, previsibilidade e oferecem-nos segurança."

E questiona: “Numas eleições presidenciais queremos alguém entusiasmante ou alguém que nos dê garantias de segurança e fiabilidade? Provavelmente é essa segunda vertente que conta mais.”

Pedro Duarte classifica André Ventura como “errático do ponto de vista comportamental” e Gouveia e Melo como um candidato cujo "pensamento político" é ainda uma incógnita, acrescentando que o antigo chefe da Marinha “ainda tem muito para provar até ao dia das eleições”.

"Há uns textos escritos já enquanto candidato, mas não sabemos sequer muito bem por que razão é que eles surgem e são profundamente vagos, eu diria. E depois há esta característica mais recente: é que ele surge numa candidatura, eu diria de uma forma oportunística, a tentar ocupar um espaço que seria o espaço natural do governo Chega. Um bocadinho mais populista - e esse espaço foi ocupado com a candidatura de André Ventura e rapidamente parece que Gouveia e Melo se tornou uma personalidade centro-esquerda. Ora, isto não dá garantias, não é? Alguém que se move em função de o vento estar a soprar mais para a esquerda ou para a direita não é aquilo que se deseja, julgo eu, para um presidente da República."

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