O candidato democrata Zohran Mamdani pode vir a ser o primeiro presidente muçulmano da Câmara de Nova Iorque
“Parece sempre impossível até estar feito”. Através das palavras de Nelson Mandela, foi esta a principal mensagem do jovem democrata de 33 anos que está a mexer com a política nos Estados Unidos. Zohran Mamdani, que nasceu no Uganda, foi o protagonista de um dos maiores acontecimentos na corrida à liderança da Câmara de Nova Iorque após ter ganho as primárias do Partido Democrata contra Andrew Cuomo.
O seu adversário, milionário, um homem de influências e uma das figuras de maior destaque entre os democratas, procurava o regresso à vida política, mas, ainda com os resultados finais por apurar, que se espera que sejam conhecidos no início da próxima semana, assumiu já a derrota. "Esta noite é a noite dele. Ele mereceu-a. Ele ganhou", disse Cuomo na quarta-feira
Mamdani destacou-se por ter conseguido angariar muitos donativos privados e pela sua campanha contra o poder, feita essencialmente nas redes sociais, onde é seguido por mais de dois milhões de pessoas e através das quais conseguiu criar uma ligação com a população mais jovem.
O até então desconhecido candidato tem escalado o mundo da política de forma muito célere. Com o objetivo de elevar a qualidade de vida dos nova-iorquinos, as suas medidas assentam, essencialmente, no aumento de impostos sobre os mais ricos, no congelamento das rendas, no financiamento de creches, na aposta em mercearias públicas, na construção de habitação acessível e na gratuitidade dos transportes. Estas foram algumas das ideias levadas a cabo por Mamdani durante a sua campanha e que o ajudaram a tornar-se num fenómeno político em Nova Iorque.
A juntar a isto, Mamdani deixou ainda claro o seu posicionamento pró-palestiniano, referindo-se à ação militar de Israel em Gaza como “genocídio”.
Os adversários de Mandami consideram irrealistas os objetivos do jovem político, afirmando que não está preparado para enfrentar o desafio. Já Mandami argumenta que não tem a “experiência de corrupção, escândalo e desgraça” de Cuomo, e que isso pode ser uma mais-valia na sua vida política.
O candidato foi também alvo de críticas dentro do partido, como escreve o Financial Times, citando um estratega democrata de Nova Iorque, que diz que “Zohran não é o futuro do Partido Democrata”: “Ele está a traficar sonhos e, quando não conseguir realizá-los, as pessoas ficarão ainda mais descontentes com a política.”
Mas ainda que alguns democratas considerem Mamdani demasiado radical, a vitória do jovem político poderá servir de modelo para o partido a nível nacional numa altura em que ainda se sente a derrota de Kamala Harris nas presidenciais do ano passado.
Donald Trump, aliás, já demonstrou o seu descontentamento perante a vitória de Mamdani nas primárias ao apelidá-lo de “lunático 100% comunista” e afirmar que “os democratas passaram dos limites”. Trump acrescentou ainda que Mandami “tem uma aparência horrível”, uma “voz irritante” e que “não é muito inteligente”.
Zohran Mamdani nasceu em Kampala, Uganda, e é filho de pais com ascendência indiana. Viveu na Cidade do Cabo, África do Sul, e aos 7 anos mudou-se com a sua família para Nova Iorque. Frequentou a escola secundária de ciências do Bronx e, mais tarde, licenciou-se em estudos africanos no Bowdoin College, no Maine, onde contribuiu para a fundação da associação Estudantes pela Justiça na Palestina.
Colaborou nas campanhas de alguns candidatos democratas em Queens e em Brooklyn, chegando mesmo a trabalhar de perto em Queens com os residentes que eram despejados das suas habitações.
Em 2020 foi eleito pela primeira vez para a Assembleia de Nova Iorque, cargo que desempenhou durante vários anos. Atualmente vive na zona de Astoria, em Queens, com a sua mulher Rama Duwaji.
As eleições autárquicas estão marcadas para novembro. Caso vença, Mamdani será não só o primeiro presidente muçulmano da Câmara de Nova Iorque, como também o mais novo a alcançar o cargo.