À falta do polvo Paul, temos a Goldman Sachs e a Bloomberg

29 mai 2014, 11:24
Polvo Paul - Alemanha

Brasil é o maior favorito à vitória no Mundial, Portugal nem por isso, dizem matemáticos, economistas e adivinhos. Até Stephen Hawkins meteu a colherada.

O polvo Paul morreu há já quase quatro anos, em Oberhausen - de causas naturais, sossegam-nos as notícias da época, embora as mortes das celebridades sejam quase sempre pretexto para teorias da conspiração.

Mas não será o óbito de um molusco cefalópode, mesmo um de precisão lendária na escolha do mexilhão, a privar-nos de um dos prazeres sacramentais dos Campeonatos do Mundo. A par da coleção de cromos e do desfile de novos equipamentos a compilação de profecias quanto a vencedores, surpresas e goleadores é um clássico que, nas últimas edições da prova, tem irmanado adivinhos, cientistas, universidades e instituições bancárias. Além de polvos, claro.

Assim, os últimos dias ficaram assinalados pela divulgação de vários estudos, mais ou menos científicos, e que se levam mais ou menos a sério, definindo as probabilidades de cada seleção vencer os seus jogos, até à conquista do título supremo.

Um deles é da autoria da Goldman Sachs – e talvez não seja má ideia levá-lo a sério, considerando a facilidade com que a multinacional de investimento saiu a ganhar com a gestão da crise do subprime, de 2007 em diante – embora nessa altura não tenha avisado o público para o que aí vinha.

O relatório do Mundial, que vai na quinta edição – a primeira foi feita para o França 98 – tem 67 páginas que cruzam estatística, história, geografia, análise económica e simples palpites. Como provavelmente não tem tempo para o ler até ao fim, nós resumimos-lhe as principais conclusões:



- Messi é o principal favorito a ganhar o prémio de melhor marcador, considerando a média das odds atribuídas pelas casas de apostas (8/1). Neymar vem na segunda posição (10/1), com Cristiano Ronaldo e Suarez (14/1) logo a seguir – embora a presença do uruguaio esteja em dúvida, tal como a de Diego Costa, cotado a 20/1, assim como Fred e Higuaín.

- Segundo os critérios de análise utilizados, o Brasil é de longe o principal candidato à vitória final (48,5% de probabilidades), à frente de Argentina (14,1%), Alemanha (11,4%), Espanha (9,8%) e Holanda (5,6%). Para a Goldman Sachs, Portugal surge no nono lugar entre os 32 participantes, com apenas 0,9% de hipóteses de levar o caneco, atrás dos cinco países já citados e ainda de Itália, Inglaterra e Uruguai.

- Camarões, Japão, Costa Rica, Honduras, Gana e Argélia são as seleções que, para os senhores dos investimentos, não têm sequer uma hipótese de ir até ao fim – ao contrário de Irão, Coreia do Sul e Austrália, todos com 0,1%

- Segundo o modelo de simulação da fase de grupos, e posterior cruzamento na segunda fase, a Goldman Sachs antecipa que Portugal passa no segundo lugar do grupo G, elimina a Rússia nos oitavos e cai perante a Argentina nos quartos.

- Portugal tem 54% de hipóteses de passar o grupo, 30,8% de passar os oitavos, 11,7% de chegar às meias-finais e 4,2% de chegar à final.

- Brasil, Argentina, Alemanha e Espanha são, por esta ordem, as seleções com mais probabilidades de chegar às meias-finais. Nas últimas duas edições de Mundiais a Goldman Sachs acertou dois semifinalistas em quatro, mas em 2002 deu água nos quatro tiros: nem um dos seus submarinozitos chegou às meias-finais

- Usando o método altamente científico de pedir o voto dos seus clientes, o relatório termina ainda com a apresentação de um onze ideal do Campeonato do Mundo, formado pelos seguintes jogadores: Neuer, Dani Alves, Sergio Ramos, Thiago Silva e Lahm; Hazard, Iniesta e Ribéry; Neymar, Messi e Cristiano Ronaldo. Ficamos assim a saber que as preocupações defensivas não abundam no meio da alta finança.

Se tiver tempo e paciência, pode ler o relatório integral aqui

A divulgação deste relatório deu um segundo fôlego ao jogo das previsões feito pela agência Bloomberg em finais de abril, e prontamente recuperado nesta quarta-feira, para efeitos de comparação com o documento da Goldman Sachs. Também neste estudo o Brasil surge como claro favorito, bem destacado à frente das restantes equipas (22% de possibilidades de ser campeão, contra 12% da Alemanha, 11,4% da Argentina e 9,2% da Espanha). Portugal surge desta vez na oitava posição entre 32 equipas, com 4% de hipóteses de conquistar o título, em igualdade com a França e ainda atrás de Holanda, Colômbia e Bélgica. Outras tendências apontadas pelo estudo:

- Para a Bloomberg, não há qualquer hipótese de o Brasil ficar pelo caminho na fase de grupos (100% para a passagem aos oitavos), logo seguido de Argentina (93,8%), Bélgica (84,2%) e Alemanha (80%).

- Nos cálculos usados pela agência, Portugal tem 61,8% de hipóteses de passar o grupo, 35% de chegar aos quartos de final e 18% de atingir as meias, como em 1966 e 2006.

- Usando as probabilidades de emparelhamento, a Bloomberg antecipa que o desfecho mais provável para Portugal é ser eliminado pela Bélgica nos oitavos. Para os jogos da primeira fase, a Bloomberg atribui 24% de hipóteses a Portugal para vencer a Alemanha, 54% para bater os EUA, e 55% para derrotar o Gana. Se o embate dos oitavos for com os belgas, dizem, estes levam ligeira vantagem (53/47%)

- A Bloomberg aposta no mesmo lote de semifinalistas avançado pela Goldman Sachs: Brasil, Argentina, Espanha e Alemanha. Mas, neste caso, a vítima na final será a Espanha.



Se quiser o quadro de previsões jogo a jogo, pode vê-lo aqui

Se Goldman Sachs e Bloomberg estão de acordo em considerar o Brasil como principal favorito à vitória no Mundial, não seria um estudo feito numa Fundação brasileira a desmenti-los. É, de facto, essa a principal conclusão do simulador criado por dois professores da Escola de Matemática Aplicada da Fundação Getúlio Vargas, que dá 28% de hipóteses à equipa de Scolari, contra 16% à Espanha e 12% à Argentina.

Segundo este simulador, Portugal tem 1% de possibilidade de se sagrar campeão e 45% de passar num dos primeiros lugares do grupo G. Nos jogos da primeira fase, o simulador, que comptuou os resultados de 100 mil simulações para cada jogo, deu 25% de probabilidade a uma vitória da equipa de Paulo Bento sobre a Alemanha, 34% a um triunfo sobre os EUA e 47% sobre o Gana.

Pode ver o estudo completo aqui, e acompanhar as atualizações com os resultados reais

E se todos estes números resultam na conclusão de que o Brasil é o maior favorito à vitória no Mundial, e que Alemanha, Espanha e Argentina vêm logo a seguir, talvez tenha chegado a altura de questionar-se: será mesmo preciso estudar tanto para chegar aí? Provavelmente, não.



Por isso, talvez o melhor seja adotar a abordagem bem humorada do físico Stephen Hawking, que nesta quarta-feira deixou a receita para a vitória da Inglaterra no Brasil: jogar de vermelho, em 4x3x3, apanhando árbitros europeus e evitando temperaturas elevadas. Pouco importa que só por uma vez, em 19 edições do Mundial, uma equipa de vermelho tenha vencido a final, se Hawking o diz deve ser verdade. Até porque, génio da física ou não, há sempre a costela cabalista nestas coisas, que permite ver nesta sucessão de coincidências um sinal divino de que a taça está destinada à Inglaterra. Não é, Gary Lineker?



Resta saber o que diria a tudo isto o polvo Paul, se fosse vivo. Mas o mais provável é que se limitasse a abrir outro mexilhão, sem dizer nada.

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