José Pacheco Pereira é "amigo" de Marcelo, tem "estima" por ele, mas não gostou mesmo nada do que Marcelo fez ao representante da Palestina em Portugal: "Parecia que estava a comentar um jogo de futebol". António Lobo Xavier é um admirador do estilo "desconcertante" do Presidente e gaba-lhe o ato de ter ido a uma manif pró-Palestina - mesmo que isso possa não ser o melhor em termos "reputacionais". Alexandra Leitão lamenta a "confusão" que o Presidente fez entre Hamas e Palestina mas também tem um elogio a fazer pelo que o Presidente fez à posteriori. A análise do Princípio da Incerteza
José Pacheco Pereira, que se assume “amigo” de Marcelo Rebelo de Sousa - por quem, aliás, tem “estima”-, considera que a posição do Presidente foi “inaceitável”, começando desde logo pelo "tom" com que se dirigiu ao chefe da missão diplomática da Palestina em Portugal, no Bazar Diplomático, na sexta-feira passada.
“Parece que estava a comentar uma espécie de videojogos ou um jogo de futebol. Aquela maneira de comentar é inaceitável perante um acontecimento que tem a dramaticidade desta guerra”, critica José Pacheco Pereira, em declarações feitas no programa Princípio da Incerteza.
Além do tom “inaceitável”, José Pacheco Pereira considera ainda que “o interlocutor é errado”, referindo-se ao facto de Marcelo Rebelo de Sousa se ter dirigido àquele representante da Autoridade Palestiniana para afirmar que “vocês não deviam ter começado” o conflito com Israel. “O ‘vocês’ é inaceitável. Ele depois disse ‘alguns de vocês’, mas o ‘vocês’ condena todos os palestinianos. (...) Todas as palavras são erradas”, argumenta Pacheco Pereira.
Alexandra Leitão subscreve José Pacheco Pereira neste ponto, afirmando que “os representantes do povo palestiniano, que não o Hamas, são vítimas do próprio Hamas”.
Neste contexto, José Pacheco Pereira considera que Marcelo Rebelo de Sousa “está num caminho que lhe retira qualquer autoridade nesta matéria para ter um papel que é suposto um Presidente da República ter em função da gravidade do conflito”.
“Tenho pena, sou amigo dele, tenho estima por ele, agora de facto é inaceitável”, lamenta o comentador da CNN Portugal.
José Pacheco Pereira e Alexandra Leitão concordam que a posição de Marcelo Rebelo de Sousa sobre esta matéria "distancia-se da política externa portuguesa", que a antiga ministra diz estar a ser "pautada por moderação". "O Estado português tem estado muito bem nesta matéria internacionalmente", elogia.
António Lobo Xavier, por sua vez, diz não ter "ideia nenhuma de que exista um desalinhamento entre a posição do Presidente da República e a do Governo português". Para o comentador, o "discurso informal, o estilo de proximidade e de desconcertante predisposição para falar" a que o Presidente da República já nos habituou "por vezes tem o seu lado sedutor mas também tem o seu lado de risco".
E o que se passou na sexta-feira com o representante palestiniano foi precisamente isso, considera António Lobo Xavier: "No Bazar Diplomático não é costume falar-se dos acontecimentos políticos e de geoestratégia internacional. O que aconteceu é que o Presidente foi chamado para a conversa. Não foi o Presidente que perguntou, ele foi desafiado para a conversa por um diplomata palestiniano militante, e o Presidente da República, que é hábil e que tem uma grande experiência, não teve capacidade para evitar, pela sua própria natureza, uma conversa longa sobre um tema delicado e sobre o qual não se pode falar de forma desformalizada".
"Como as palavras são perigosas, como não é possível falar de assuntos de milhares de mortos civis, de conflitos sangrentos e horríveis de forma desformalizada, eu aceito que o melhor é sair desse tema ou evitá-lo, a não ser que queiramos fazer declarações solenes e bem pensadas sobre a verdade completa", defende António Lobo Xavier, lembrando a expressão "a verdade por inteiro", cunhada pelo ex-presidente norte-americano Barack Obama.
Apesar das críticas, António Lobo Xavier e Alexandra Leitão assinalam a "coragem" de Marcelo Rebelo de Sousa ao marcar presença na manifestação pró-Palestina que decorreu este domingo em Belém. "É um aspeto que eu admiro. Não sei se resulta bem do ponto de vista da reputação do Presidente, mas esse é um gesto de um seu lado que eu admiro. Para ele era mais confortável ficar na varanda do Palácio de Belém ou fechar-se na sua sala, mas resolveu enfrentar a responsabilidade pelas suas palavras e é um dos lados de que eu mais gosto neste Presidente", diz António Lobo Xavier.