O antigo líder do PS antecipa que, consigo, dissoluções só “em último recurso”
António José Seguro quer ser um Presidente da República “menos nos telejornais”, usar a dissolução do parlamento como “o último dos últimos recursos” e recusará “golpes constitucionais” na formação de governos.
Em entrevista à agência Lusa, o candidato presidencial apoiado pelo PS escusa-se a fazer uma avaliação dos mandatos de Marcelo Rebelo de Sousa, mas demarca-se do ainda Presidente da República em alguns dos temas que marcaram os últimos anos em Belém.
“Quero que seja o último dos últimos recursos, portanto, deve ser utilizado quando daí decorre um bem maior para o país”, responde quando questionado sobre quando deve ser utilizada a chamada `bomba atómica´ da dissolução do parlamento.
Seguro não considera que um chumbo do Orçamento do Estado “implique necessariamente uma dissolução do parlamento”, tal como aconteceu em 2021 com o Governo de António Costa.
“Eu não quero ser um presidente reativo nem um presidente que ameaça em público. Eu quero ser um presidente ativo (…) e aí é preciso conversar muito com os atores políticos, com os líderes dos partidos”, disse.
O antigo líder do PS antecipa que, consigo, haverá “menos presidente nos telejornais mas mais presidente a fazer aquilo que deve”.
Quanto à possibilidade de dar posse a um governo liderado pelo Chega na sequência de uma eventual vitória do partido de André Ventura numas legislativas, Seguro reitera a ideia que tem defendido segundo a qual não se vai “substituir aos tribunais” porque são esses que verificam a constitucionalidade e legalidade dos partidos.
“Eu não alinho em golpes constitucionais. Um democrata, eu sou um democrata, respeita a voz do povo. Então o povo diz-me uma coisa e eu faço outra na Presidência da República? Estaria a trair o contrato de confiança que quero ter com portugueses”, justifica.
Questionado se considera mais difícil a sua eleição uma vez que, das últimas eleições legislativas e autárquicas, saiu vencedora a direita, o antigo líder do PS defende que “as democracias vivem sempre com equilíbrios” e que estes “surgem de diferentes maneiras”, considerando que “o país precisa de um presidente agregador, inclusivo, que saiba ouvir todos".
“Sinto-me livre, sinto-me sem amarras, não dependo absolutamente de ninguém. A mim ninguém me dá ordens absolutamente nenhuma e se julgam alguns que podem fazer algumas declarações para me capturar, estão enganados. Estou aqui firme que nem o granito”, afirma.
Questionado sobre a razão de não se afirmar à esquerda, o candidato apoiado pelo PS, partido que liderou entre 2011 e 2014, responde com uma pergunta: “O meu percurso político deixa dúvidas do que é que eu fiz na vida, das minhas origens?”.
“Agora, eu estou noutra condição, não estou na luta partidária. Isso é para a vida partidária, para os líderes e para as legislativas. Eu sou candidato a Presidente da República, dirijo-me a todas e a todos os portugueses sem exceção, sem discriminação absolutamente nenhuma”, justifica.
Perante a insistência sobre os motivos de não se colocar no campo da esquerda e os apoios que tem recebido ao centro e à direita, o candidato presidencial afirma que “a vida política portuguesa está demasiado engavetada e metida em condomínio e há rótulos para tudo”.
“Os ‘ismos’ e os ‘istas’ são claustrofóbicos, no meu ponto de vista, portanto, eu prefiro valores. Porquê? Os valores unem, os rótulos dividem”, enfatiza, lamentando "uma certa viciação numa certa intriga política de uma bolha que não compreende o país".
Certa é a prioridade que definiu para o seu primeiro ano de mandato, caso seja eleito.
“O primeiro ano do meu mandato como Presidente da República terá essa prioridade. Saúde para todos. Salvar o Serviço Nacional de Saúde”, aponta, através da exigência de um pacto de regime.
A demografia, os impactos da inteligêncis artificial e a habitação serão também prioridades, disse.