O maior castelo do mundo à entrada de uma caverna

CNN , John Malathronas
6 fev 2022, 23:00

O castelo de Predjama tem histórias incríveis para contar - e tem uma ligação à série "A Guerra dos Tronos"

O castelo de Predjama é um dos mais extraordinários do mundo. Foi construído à entrada de uma caverna, no fim de um vale, no sudoeste da Eslovénia.

Localizado numa ravina com 123 metros, este castelo aparece em registos de 1202 e consta do livro de recordes do “Guinness” como sendo o maior castelo do mundo construído à entrada de uma caverna.

Com uma fachada renascentista que remonta à década de 1580, a palavra "imponente" não é suficiente para descrevê-la. No entanto, para o guia turístico e historiador Vojko Jurca, a fachada pode ficar aquém do esperado à primeira vista.

"É isto", diz ele com orgulho, ao indicar uma latrina externa com um telhado inclinado e uma porta tapada. Pode parecer banal, mas a história por trás dela não é.

A história centra-se no barão ladrão Erasmo von Luegg, um herói local que agia como o Robin Hood e que fugiu para o castelo em meados da década de 1480. Von Luegg refugiou-se aqui depois de matar o Conde Pappenheim, marechal da corte imperial de Habsburgo, num duelo cuja legitimidade foi controversa.

Como forma de retaliação, o imperador Frederico III de Habsburgo ordenou que se montasse um cerco em Predjama.

Mas Erasmo manteve-se firme. Ele usou uma rede de túneis secretos escavados nas rochas, que lhe permitiram trazer mantimentos e recolher a água da chuva.

O barão fez troça dos seus adversários ao enviar-lhes cerejas frescas trazidas do Vale Vipava, local que ficava a 20 quilómetros a oeste do castelo. Para tal, usou essas passagens subterrâneas.

Esta situação chegaria ao fim, depois de um ano e um dia, quando um criado traiu Erasmo. Jurca diz: “Quando Erasmo foi à latrina, localizada num terraço no terceiro andar, o criado acendeu uma tocha de madeira para dar o sinal.

Momentos depois, ouviu-se uma bala de canhão. Esta matou Erasmo enquanto ele fazia as suas necessidades. Nos anos seguintes após o incidente, a latrina foi reconstruída.

Da Eslovénia a Westeros

A forma como mataram Erasmo não passou despercebida aos fãs da série "Guerra dos Tronos". Foram apontadas semelhanças para o final indigno do Lorde Tywin Lannister, personagem que foi atingida por uma besta enquanto estava na latrina.

Os fãs também repararam que os últimos proprietários do castelo de Predjama, a família Windisch-Grätz, usaram-no como uma cabana de caça até ao final da Segunda Guerra Mundial. No brasão desta família está representado um lobo, que é o símbolo da casa nobre Stark.

O autor da série, George R. R. Martin, visitou o castelo numa noite, em junho de 2011, após uma sessão de autógrafos em Trieste.

O autor disse no seu blogue: "Ao irmos para casa, parámos no castelo mais incrível que foi construído à entrada de uma caverna enorme. Sem dúvida que algum dos castelos em Westeros tem de ser parecido com este. Que vista deslumbrante, sobretudo à noite.”

Lenda e história são apenas parte dos atrativos de Predjama. Para entender a forma como a obra se funde com a natureza, terá de visitar este castelo.

À medida que nos aproximamos do castelo, vindos de qualquer direção, encontramos as quase escondidas sentinelas à volta desta fortaleza. Estas só são visíveis quando estamos perto e serviram para vigiar quem se aproximava.

Ao entrarmos no castelo, percebemos que, na Idade Média, a segurança era mais importante do que o conforto. O castelo era invencível, mas o frio e a humidade tornavam-no inabitável.

Atualmente,a entrada para o castelo faz-se através de uma ponte levadiça. A entrada original era mais alta e fazia-se por duas portas mais frouxas. Chegava-se até elas através uma escada de madeira, que podia retirar-se com facilidade.

Antigamente, os visitantes entravam primeiro no tribunal. Neste local, fazia-se justiça de forma sumária. Não era concedida aos súbditos muito mais do que este tipo de justiça, exceto se tivessem azar.

A seguir, temos um dos espaços mais agradáveis. A sala de jantar encontra-se isolada por paredes com mais de 1,5 metro de espessura. Também é aquecida por uma cozinha pequena, mas funcional e na qual uma fenda serve como um exaustor natural.

Também poderá ver uma latrina original, cujo assento dá para um penhasco. Neste caso, a gravidade fará o seu “trabalho sujo”. Erasmo teria usado palha, musgo seco e folhas de couve em vez de papel higiénico. Pelo menos, supõe-se que tenha usado tudo isso antes de ter explodido.

“Buracos assassinos”

Se subirmos até ao terceiro andar, podemos encontrar seteiras e os “buracos assassinos”. Estes eram usados para derramar óleo a ferver e resina fundida aos inimigos.

É aqui que encontramos o terraço com vista para o vale, bem como o anexo mais famoso da história eslovena.

Ao lado, está o quarto. É o mais quente, pois é o único com uma lareira. Os guardiões do castelo viveram aqui até à década de 1980.

Na parte de cima, podemos encontrar o sótão. Este local serviu como caserna e guarita. As vistas do Vale Lokva são lindas e a perder de vista.

Converteram-se as casernas num museu militar. Aqui, veem-se os vários tipos de arsenal medieval, tais como: machados de batalha, alabardas, bestas e manguais.

Curiosamente, aqui encontra-se uma passagem que nos leva diretamente para a sala de tortura. Provavelmente, quem não fizesse bem o seu trabalho, seria forçado a ir para esta sala, sem qualquer tipo de cerimónia.

A partir daqui, também pode entrar nas profundezas da caverna. Explore-a até que a luz da entrada diminua e se torne uma mancha. Assim, pode contemplar o cenário.

Dá-se o nome “karst” ao extenso sistema de cavernas de calcário no sul da Eslovénia. Esta é uma homenagem a Carso, nome que foi dado ao planalto acima de Trieste.

Durante séculos, este foi o terreno calcário mais conhecido. Por isso, a palavra tornou-se genérica e serve para descrever qualquer terreno calcário com buracos, tal como um queijo suíço.

Sob o castelo, encontramos uma caverna que se estende por mais de 14 quilómetros. É a segunda maior em comparação com as grutas de Postojna.

Esta caverna não dispõe de infraestruturas que permitam visitas turísticas. Contudo, durante os meses de verão, é possível visitá-la com equipamentos de escavação adequados, lâmpadas e um guia especializado.

Durante o inverno, esta caverna encontra-se fechada porque uma colónia de morcegos usa-a para acasalar e hibernar.

Homenagem em forma de árvore

De volta ao castelo, um sistema unidirecional leva-nos ao quarto dos cavaleiros. Esta divisão é marcante graças aos seus nichos góticos e por causa do seu teto ser pintado com sangue de boi.

Vemos como os construtores desta estrutura fizeram um bom aproveitamento das rochas existentes. Um pequeno poço perto da saída foi convertido num canil para cães de caça e a entrada de uma caverna serviu como estábulo.

Ao sairmos do castelo, o guia Vojko faz mais uma paragem numa vila próxima. No cemitério local da Nossa Senhora das Dores, encontramos uma tília doente, mas que está a ser tratada.

A igreja foi consagrada por volta de 1450 pelo bispo de Trieste, futuro Papa Pio II. Vojko diz: “Reza a lenda que plantaram esta tília por cima do túmulo do barão Erasmo.”

A árvore ficou gravemente danificada num incêndio em 2001. No entanto, como esta significava tanto para os habitantes, estes chamaram arboristas para tratarem dela.

A árvore ainda sobrevive, tal como o próprio castelo de Predjama.

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