Petróleo cai pela primeira vez para abaixo de antes da guerra. Mas gasolinas continuam mais caras

4 ago 2022, 21:05
Extração de petróleo em Nefteyugansk, Rússia (Reuters)

Barril cotou esta quinta-feira nos 93,2 dólares por barril, atingindo pela primeira vez um custo inferior ao da véspera da invasão da Ucrânia pela Rússia. Os preços dos combustíveis em Portugal também estão em queda mas continuam mais caros do que então. Desvalorização do euro é uma das razões. Mas há mais contas a fazer

O petróleo atingiu a meio desta quinta-feira os 93,2 dólares por barril, no índice Brent, habitualmente usado como referência para a Europa. É a primeira vez que o valor nos desce abaixo do nível a que estava antes da invasão da Ucrânia pela Rússia, a 24 de fevereiro. Os combustíveis, no entanto, continuam muito acima do preço de então.

Petróleo em forte queda

No último mês (desde 7 de julho, quando fechou nos 113,5 dólares), o petróleo desceu 18%. E, desde o máximo deste ano (a 7 de março, quando chegou a negociar nos 139,13 dólares por barril), a queda é de 33%.

Mas a marca atingida hoje é relevante por ser, ao longo dos últimos mais de cinco meses que dura a guerra na Ucrânia, a primeira vez em que a cotação está abaixo da véspera do início do invasão: a 23 de fevereiro, um barril de petróleo custava 94,05 dólares.

Hoje está mais barato.

Mas os combustíveis não.

Gasóleos continuam 10% mais caros… mesmo após descida do imposto

A queda do custo do petróleo não se repercute, no entanto, proporcionalmente no custo dos combustíveis em Portugal.

Os valores atualmente praticados em Portugal estão abaixo dos máximos alcançados desde o início da guerra: o preço final do gasóleo simples custava esta quarta-feira 1,826 euros por litro em média em Portugal, menos 27,4 cêntimos do que no máximo de 2,1 euros por litro praticados a 23 de junho; já o preço da gasolina simples 95 custava esta quarta-feira 1,889 euros por litro, menos quase 30 cêntimos do que no máximo de 2,188 euros por litro praticados a 10 de junho.

Ainda assim, os preços continuam mais caros do que antes da invasão da Ucrânia pela Rússia:

Estes aumentos só não são maiores porque o Governo entretanto cortou em maio o Imposto sobre os Produtos Petrolíferos (ISP), numa medida entretanto estendida até ao final de agosto. Como explicou o Ministério das Finanças em comunicado no início de julho, "a diminuição da carga fiscal será de 28,2 cêntimos por litro de gasóleo e 32,1 cêntimos por litro de gasolina".

Dito de outra forma, se não fosse a redução temporária dos impostos, os combustíveis estariam hoje aos seguintes preços:

Dito de outra forma, embora o petróleo esteja já abaixo do que estava antes da guerra, o preço do gasóleo estaria quase 23% mais caro se o governo não tivesse descido o ISP.

Porque não descem os combustíveis? O factor euro (e os refinados)

A primeira razão é o euro, que desvalorizou cerca de 9,3% face ao dólar desde a véspera da invasão da Ucrânia pela Rússia. Assim, se a cotação do Brent está abaixo de então em dólares, continua mais 9% mais caro quando convertido para euros.

Isso mesmo explica António Comprido, presidente da Apetro, associação que representa as empresa petrolíferas em Portugal. “Há o aspeto da taxa de câmbio”, realça à CNN Portugal, “não podemos comparar o preço do barril de petróleo em dólares com o preço que se paga dos combustíveis em euros”.

Ainda assim, esta desvalorização do euro só explica parte da diferença entre o aumento dos combustíveis e o agora nivelamento do petróleo face a antes da guerra. É aí que António Comprido argumenta com a justificação que tem vindo a ser repetida ao longo dos últimos meses: as distribuidoras de combustíveis não compram petróleo em bruto (avaliado pelo índice Brent) mas sim produtos refinados. E estes variam de forma diferente.

“O preço dos combustíveis não está indexado ao preço do barril”, responde o presidente da Apetro. “O que se verificou é que o preço dos produtos refinados sofreu um aumento muito maior do que o petróleo. Isso aconteceu porque em Portugal usávamos muitos produtos refinados que vinham da Rússia. Com embargo ao petróleo russo, isso tem um impacto muito direto”.

Irão os preços descer mais?

A evolução dos mercados internacionais sugere novas descidas dos preços finais dos combustíveis na próxima semana, mantendo a tendência do último mês e meio. “Verifica-se, desde meados de junho, uma queda dos preços”, sublinha António Comprido.

Quanto a evolução depois da próxima semana, a volatilidade dos últimos meses não permite certezas. Os preços internacionais do petróleo têm variado em função das sanções à Rússia, à diversificação de fontes de abastecimento, aos anúncios de produção pelos países produtores – e às expectativas económicas.

Os receios de recessão económica no próximo ano nos Estados Unidos e possivelmente em alguns países europeus é um dos fatores que tem vindo a levar à descida da cotação do petróleo. Com menos crescimento económico, há menos consumo de energia. Logo menos procura de petróleo.

 

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