Há nove meses que a gasolina não estava tão cara. Impostos explicam apenas uma parte da subida das últimas semanas, mas também o calor tem a ver com esta história. Compreenda as razões.
Primeiro subiram devagarinho, na semana passada aceleraram e hoje voltam a subir: entre o dia de Nossa Senhora de Fátima (13 de maio) e a partida do Papa de Portugal (depois da Jornada Mundial da Juventude), os preços de venda dos combustíveis em Portugal subiram entre 20 e 30 cêntimos por litro.
Passaram menos de três meses desde que, a 13 de maio, os combustíveis atingiram o valor mais baixo do ano – e o mais baixo desde a pandemia. Naquele sábado que juntou milhares de católicos em Fátima, atestar um depósito de 50 litros de gasóleo custou 69,7 euros. Este sábado, quando milhares de fiéis receberam o Papa Francisco também em Fátima, atestar o mesmo depósito já custou 81,7 euros – mais 12 euros.
E hoje, os custos voltam a aumentar: as previsões apontavam para uma subida de 5,5 cêntimos por litro, mesmo se a gasolina deve manter-se o PVP.
Assumindo estas estimativas para esta segunda-feira, então um litro de gasóleo simples custa neste momento, em média em Portugal, cerca de 1,689 euros – mais 29,5 cêntimos que a 13 de maio. Já um litro de gasolina 95 custa em média 1,817 euros, mais 21,4 cêntimos que no dia de Nossa Senhora de Fátima.
Veja na tabela seguinte as variações de preços de venda dos vários combustíveis, com base nas estimativas e nos dados oficiais da Direção-Geral de Energia e Geologia:
Estes aumentos tornam de novo a vida mais cara para os condutores – e pesam nos custos de transporte de produtos, o que pode vir a causar novas pressões sobre a inflação.
Mas porque estão os preços a subir tanto? Eis as razões:
1. Impostos subiram
Não é só em Portugal – e não é só nos combustíveis: nas últimas semanas, os preços das matérias-primas, em geral, voltaram a subir. Mas é em Portugal que há uma razão específica para esse aumento ser mais pronunciado: o governo repôs parte do imposto que reduziu há mais de um ano para atenuar a subida dos preços.
A redução da carga fiscal foi de “30 cêntimos por litro de gasóleo e de 31,6 cêntimos por litro de gasolina em maio”, conforme comunicou então o Ministério das Finanças. Contudo, esta redução foi atenuada entretanto: “a redução da carga fiscal passará a ser de 23 cêntimos por litro de gasóleo e de 25 cêntimos por litro de gasolina” em agosto, segundo decisão do governo.
Ou seja, um litro de gasóleo está agora a pagar mais 7 cêntimos por litro de imposto do que pagava em maio; a gasolina, mais 6,5 cêntimos.
Dos quase 30 cêntimos de aumento dos gasóleos, falta explicar 23 cêntimos.
2. Petróleo mais caro
O barril de petróleo arrancou esta semana nos 86 dólares (índice Brent), quando no início de maio estava nos 72 dólares. Uma subida de quase 14%, que é semelhante também em euros (a moeda europeia recuperou recentemente a sua cotação face à divisa norte-americana, depois de algumas semanas em perda).
A subida do petróleo está relacionada sobretudo com reduções da produção: na semana passada, a Arábia Saudita anunciou a extensão do corte de um milhão de barris por dia durante mais um mês, ameaçando ir ainda mais longe no outono. Também a Rússia anunciou reduções na casa dos 300 mil barris por dia durante setembro.
Como sublinha fonte oficial da Associação Portuguesa de Empresas Petroliferas (Apetro), a cotação do petróleo corresponde a 38% do preço final do gasóleo, enquanto a incorporação de biocombustível pesa 4%, e os custos de armazenagem, distribuição e da comercialização - que inclui a margem do grossista, das companhias e do governo - são 9% no caso da gasolina e 10% no gasóleo.
3. E produtos refinados também mais caros
Acontece que as gasolineiras não compram petróleo bruto, mas sim produtos já refinados. Ora, o custo destes tem vindo a subir, em parte por causa do… calor extremo, que afeta a sua capacidade de produção.
A fonte oficial da Apetro realça precisamente que "houve uma subida da cotação dos produtos refinados”. A associação setorial garante ainda que existem fatores externos a influenciar os produtos refinados líquidos, como a guerra na Ucrânia.
Este será o principal factor com impacto no aumento dos preços.
4. Margens e preços livres
Recorde-se que os preços dos combustíveis são livres em Portugal, podendo cada marca e mesmo cada posto de abastecimento decidir quanto quer cobrar. Daí que as diferenças de preços em Portugal, no mesmo dia e para o mesmo produto, superem com frequência os 30 cêntimos. Tipicamente, as estações de serviços mais caras são as situadas nas autoestradas, sendo as mais baratas as associadas a marcas de supermercados.
Os dados da ENSE - Entidade Nacional para o Setor Energético ainda não permitem confirmar se as gasolineiras estão ou não a aumentar também as suas margens brutas de lucro. Mas cedo tal poderá ser confirmado. Recorde-se que, ao longo dos mais de 17 meses desde o início da guerra, os reguladores nunca apontaram casos de abuso nas margens.