Descida do crude e desvalorização do dólar estão a ajudar automobilistas. Mas pouco
A tomada de posse de Donald Trump no início deste ano, e a sua política radical de tarifas, tem produzido ondas de choque nos mercados internacionais. Incluindo nos mercados cambiais e de matérias-primas. Tanto que as cotações internacionais do petróleo e do dólar estão em queda acentuada. O seu efeito combinado tem consequências nos preços dos combustíveis – mas menores do que se poderia esperar.
O preço de venda da gasolina simples em Portugal deverá subir, esta segunda-feira, para um patamar, em média em Portugal continental, de quase 1,7 euros por litro. Este valor não chega a ser 5% mais baixo do que aquele que se verificava, em média, há cerca de quatro meses, a 15 de janeiro. Um litro de gasolina simples custou em média, nesse dia, cerca de 1,75 euros. Já no gasóleo simples, os preços atuais estão cerca de 8% mais baixos do que há quatro meses.
São notícias positivas. Mas tornam-se mais pálidas quando se percebe que, no mesmo período, o preço das matérias-primas caiu muito mais do que isso. O barril de petróleo, medido pelo índice internacional Brent, caiu de 15 de janeiro para 11 de maio de 82 para cerca de 64 dólares, ou seja, -22%. Sucede que, no mesmo período, o dólar se desvalorizou mais de 9%. Comparando o Brent não em dólares mas em euros, verifica-se pois que o preço do petróleo bruto desceu nestes quatro meses cerca de 29%. Ou seja, mais de cinco vezes o que desceu o preço de venda da gasolina em Portugal.
Petróleo representa apenas parte do PVP
Não é a primeira vez que este tipo de fenómeno ocorre – e a diferença entre a forte queda do petróleo em euros e a ligeira descida dos preços de venda dos combustíveis é explicada pelo reduzido peso dessa componente. O resto são margens de comercialização e, sobretudo, impostos.
António Comprido, presidente da EPCOL – Empresas Portuguesas de Combustíveis e Lubrificantes explica que “é matemática simples”, já que “o petróleo representa apenas uma fração do preço final do combustível”.
“O preço final nunca pode acompanhar o preço bruto porque há muitos outros custos em cima. Todos os produtos têm custos e os combustíveis têm uma fatia muito grande, que é praticamente fixa. São os impostos, posso dizer, que no primeiro trimestre deste ano, isto em termos médios do trimestre, os impostos pesaram 55% na gasolina e 50% no gasóleo”, explica António Comprido. E os impostos não variaram, reforça o responsável.
Além dos impostos, “temos os todos de refinação do petróleo, de distribuição, as reservas, os custos de ter os postos de abastecimento a funcionar. Portanto, tudo isso são valores que não variam com o preço do petróleo.”
Ainda assim, António Comprido sublinha que os preços dos combustíveis têm descido em todas as comparações: “O preço da gasolina está 2 cêntimos mais baixo que a semana passada; 2,1 cêntimos mais baixo que o mês passado; 5,7 cêntimos mais baixo do que no dia 31 dezembro do ano passado; e 12,3 três cêntimos mais baixo do que no dia 8 de maio de 2024. E o gasóleo é semelhante, embora os valores sejam ligeiramente inferiores: está 1,6 cêntimos mais baixo em relação à sexta-feira da semana passada; 1,7 cêntimos mais baixo em relação ao dia 30 de abril; 10,1 cêntimos mais baixo em relação a 31 de dezembro de 2024; e 6,1 cêntimos mais baixo em relação ao dia 8 de maio de 2024.”