O gás natural é caro e dá dinheiro à Rússia. Eis 5 maneiras de usar menos gás para aquecer a sua casa

CNN , Isabelle Jani-Friend
27 mar 2022, 20:00
Gás natural

O custo do gás natural já estava a subir rapidamente à medida que o mundo saía dos repetidos confinamentos da covid e a procura por energia disparou. Agora, a guerra na Ucrânia está a fazer subir ainda mais os preços.

Na Europa, os países estão a planear reduzir drasticamente a sua dependência do gás russo e, embora os EUA não importem muito gás da Rússia, também estão a sentir o impacto dos preços elevados, que estão ligados aos mercados globais. Acontece o mesmo no Reino Unido, que apenas depende do gás da Rússia em 3%.

Milhões de pessoas estão dispostas a desembolsar centenas, possivelmente milhares, de dólares extra apenas para manter as suas casas aquecidas este ano. Mas há muitas maneiras de reduzir as contas, e muitas delas também ajudarão a combater as alterações climáticas e a reduzir o preço do gás - o que significa menos dinheiro para exportadores como a Rússia.

Baixe o termóstato

Reduzir a temperatura pode ter um grande impacto nas contas.


Esta é uma das coisas mais simples que podemos fazer para poupar energia. A Agência Internacional de Energia (AIE) diz que um edifício médio na Europa está fixado nos 22 graus Celsius na estação em que se usa o aquecimento. Se todos os edifícios da União Europeia reduzissem a temperatura em apenas 1 grau Celsius, por exemplo, a União gastaria menos 10 mil milhões de metros cúbicos de gás por ano.

Isso é aproximadamente a mesma quantidade de gás natural que a cidade de Nova Iorque consome em três meses, ou o que a Hungria ou a República Checa consomem num ano.

No Reino Unido, os lares podem poupar 80 libras por ano nas contas de aquecimento, segundo os especialistas da uSwitch, uma empresa de comparação energética do Reino Unido.

Esta pode ser uma pequena quantia de dinheiro, mas no que toca às alterações climáticas, equivale a menos 19 milhões de toneladas de emissões de gases de efeito de estufa. Noutra perspetiva, é aproximadamente o mesmo que 4,2 milhões de carros norte-americanos emitem ao longo de um ano, segundo a Agência de Proteção Ambiental dos EUA.

As temperaturas mais baixas dentro de casa são algo a que nos podemos habituar. Na Austrália, por exemplo, as pessoas são aconselhadas pelo Conselho Climático a manter as casas entre os 18ºC e os 20ºC. Às vezes, os australianos vivem nessas temperaturas simplesmente porque é difícil aquecer bem as casas por lá - muitas não estão preparadas para o clima frio e o isolamento pode ser mau. Ainda assim, as pessoas conseguem.

Nos EUA, o Departamento de Energia recomenda que as pessoas ajustem os termóstatos para os 20º C, mas a temperatura interior média mais popular nas casas americanas é entre os 21º C e os 24ºC. Portanto, há muita margem de manobra para reduzir a temperatura.

“Controlar melhor os nossos sistemas de aquecimento não custa nada e reduziria imediatamente as nossas contas”, disse à CNN Will Rivers, da Carbon Trust, um grupo com sede no Reino Unido que fornece soluções para a crise climática.

Instale alguns painéis solares

Os painéis solares podem fornecer energia a todos os eletrodomésticos e ao aquecimento.

Podermos ou não fazer isto vai depender de sermos ou não o proprietário da casa. Os painéis solares são mais eficientes em casas com telhado, mas algumas empresas também instalam painéis para apartamentos.

A energia solar é renovável e os painéis - também conhecidos como painéis fotovoltaicos (PV) - são uma boa fonte de energia barata em muitos países. Os painéis captam a energia do Sol e convertem-na em eletricidade, que pode ser usada diretamente para alimentar os eletrodomésticos das casas ou pode ser armazenada numa bateria para usar mais tarde. Se parte dessa eletricidade não for usada nem armazenada, o excesso de energia, normalmente, pode ser vendido a uma rede elétrica central. Se houver muitos dias de Sol seguidos, até podemos ganhar dinheiro com a energia que depois vendemos.

Os painéis não precisam de luz solar direta para funcionar, portanto, continuam a ser eficazes em dias nublados, pois a radiação solar continuar a estar presente. No entanto, quanto mais forte o Sol, mais eletricidade será gerada.

O Energy Saving Trust, uma organização do Reino Unido que promove a eficiência energética, diz que um sistema fotovoltaico solar doméstico pode reduzir as contas de eletricidade entre 15 a 25%, no Reino Unido.

Nos EUA, um lar médio pode poupar 260 dólares por mês usando os painéis solares e o armazenamento de energia numa bateria. Isso representa entre 10 000 e 35 000 dólares ao longo de 20 anos, segundo o site de mercados de energia, EnergySage.

Os painéis solares conseguem fornecer energia para uma bomba de calor (mais sobre isto abaixo) e outros eletrodomésticos, bem como diretamente para o aquecimento da água e do ar.

“Desta forma, todo o aquecimento do ambiente, o aquecimento de água, a iluminação e os eletrodomésticos usarão esta eletricidade, e a energia solar fotovoltaica será bem utilizada em nossa casa, durante todo o ano. É um sistema de zero emissões de carbono”, disse ele.

Há uma série de fatores que determinam o custo de um sistema de painéis solares, como o tamanho do sistema, os equipamentos utilizados, as características do telhado, a mão de obra envolvida na instalação e a localização. Segundo a EnergySage, os painéis solares nos EUA custam cerca de 20 474 dólares para um sistema de 10 quilowatts (kW), o que dará a energia adequada a uma grande casa familiar. Em média, demora entre sete a oito anos a termos o retorno sobre o investimento. Mas muitos países, estados ou até autoridades locais oferecem subsídios, portanto, isso pode acontecer mais cedo.

Bombas de calor

Técnicos instalam uma bomba de calor em Folkestone, Inglaterra.

Os especialistas em energia com quem a CNN falou disseram que a melhor maneira de reduzir a nossa pegada de carbono em casa é através da “eletrificação do calor”. Na verdade, “eletrificar tudo” em geral é um mantra para muitos defensores da ação climática. Isso porque, agora, podemos alimentar a maioria das coisas com eletricidade vinda de fontes de energia limpas e renováveis, e isso significa uma menor necessidade de carvão e gás para a energia ou óleo para os carros.

Então, o que são ao certo essas bombas de calor de que todos falam? São caixas grandes que ficam no exterior e extraem calor do ar, do solo ou da água para o canalizarem para uma casa. Normalmente, usam quatro vezes menos energia do que as caldeiras a gás.

“Precisamos de acabar com a dependência do gás, e a melhor maneira de o fazer é mudando para bombas de calor. Dessa forma, estaremos a remover completamente o gás das nossas casas”, disse Ed Matthew, diretor de campanhas do E3G, um grupo de reflexão europeu.

A AIE disse que duplicar os números atuais de instalação de bombas de calor na UE economizaria 2 mil milhões de metros cúbicos adicionais de gás, num ano. Também poderia reduzir o consumo de gás de uma casa em 90%. E, como a UE importa a maior parte do seu gás, esta é uma medida que pode reduzir bastante a dependência energética da Rússia.

As bombas de calor funcionam particularmente bem em climas muito frios. Os países nórdicos, incluindo a Finlândia, a Suécia e a Noruega, têm os maiores números de instalação de bombas de calor na Europa, disse Matthew.

Nos Estados Unidos, mudar para uma bomba de calor pode economizar uma média de 557 dólares por ano nas contas de aquecimento e arrefecimento, segundo um estudo realizado pela empresa de pesquisa de energia Carbon Switch.

A bomba em si e a instalação, no entanto, podem ser caras - uma média de cerca de 10 000 dólares - portanto, dependendo do nosso sistema de aquecimento atual, pode demorar um pouco até equilibrarmos as contas. Mas muitos países e estados oferecem bons descontos para a instalação de bombas de calor e, nesse caso, as poupanças são visíveis mais cedo.

No Reino Unido, por exemplo, estão disponíveis subsídios de até 6 000 libras para novas bombas de calor. Uma família britânica média pode poupar até 261 libras por ano com este sistema, de acordo com a análise do Regulatory Assistance Project (RAP), um grupo sem fins lucrativos com sede em Bruxelas. Isto é significativo, já que as contas anuais de energia devem aumentar em pelo menos 600 libras, depois de o governo ter suspendido o teto sobre os preços de forma às empresas de energia conseguirem sobreviver à crise.

Isole melhor

Cerca de um terço de todo o calor perdido numa casa sem isolamento foge pelas paredes.


Dependendo da idade do nosso edifício, há boas hipóteses de muito do calor estar a fugir de nossa casa através de janelas mal ajustadas e de um mau isolamento. Este é um grande problema no Reino Unido, que tem, em média, as habitações mais antigas e com mais “fugas” da Europa, segundo o BRE, um grupo consultivo ambiental do Reino Unido.

Para manter as contas de energia baixas e reduzir as emissões de carbono, a aplicação de isolamento é uma das formas mais eficientes e económicas de manter os edifícios quentes.

Segundo a Agência de Energia do Reino Unido, se moramos numa casa com paredes sólidas, em vez de paredes com cavidades, até 45% do calor pode escapar. É provável que isso aconteça, independentemente do país em que moramos.

Uma forma de melhorar a eficiência energética das nossas casas é isolá-las do telhado até às fundações, disse Matthew da E3G. O isolamento doméstico envolve materiais usados ​​para evitar que o calor saia ou entre.

“Existem diferentes tipos de isolamento”, disse Matthew à CNN. “O isolamento de uma parede com cavidades, o isolamento de loft e à prova de correntes de ar são muito rentáveis, enquanto que a aplicação de isolamento numa parede sólida é muito mais complexa e cara.”

As paredes com cavidades são isoladas por um profissional que injeta materiais nas cavidades ou nos espaços da parede. As paredes sólidas podem ser isoladas pelo lado exterior, uma técnica usada para manter as casas mais antigas aquecidas durante mais tempo.

Para isolar o telhado, um material de fibra mineral é colocado entre e sobre as vigas. Este material retém o calor e evita a entrada de correntes de ar. O piso também pode ser melhorado com a colocação de um novo isolamento.

Isolar tanques de água, tubos e radiadores, e usar selante à prova de correntes de ar, são outras maneiras fáceis e rápidas de economizar dinheiro nas contas de energia.

Cerca de um terço de todo o calor perdido numa casa sem isolamento foge pelas paredes, enquanto que até 25% pode ser perdido pelo telhado. Embora o impacto exato do isolamento seja diferente em cada casa, Rivers, da Carbon Trust, diz que, em alguns casos, pode reduzir a exigência de aquecimento até 50%.

Vale a pena fazer isto antes de mudar para a energia renovável. As bombas de calor, por exemplo, são muito mais eficazes se utilizadas em conjunto com um isolamento robusto.

Piso aquecido

O aquecimento por piso radiante é uma forma económica de aquecer a casa.

Muito bem, esta medida envolve levantar o chão, mas se estivermos em condições de o fazer, o piso aquecido é uma ótima opção.

Historicamente considerado um luxo, é na verdade uma das maneiras mais económicas e energeticamente eficientes de aquecer a casa.

O piso radiante funciona a uma temperatura mais baixa do que os radiadores normais, regula o calor num espaço maior, aquece rapidamente uma divisão e pode reter o calor durante um bom período de tempo, mesmo depois de desligado.

Existem dois tipos principais de piso radiante - à base de água e seco. Ambos podem ser alimentados por painéis solares ou turbinas eólicas. O piso radiante à base de água usa bombas de calor, enquanto que o piso radiante seco usa eletricidade e é mais fácil de instalar do que as tubagens de água. Mas atenção. Se a nossa eletricidade vem principalmente de carvão ou gás, esta não é uma opção verde e pode até não economizar muito dinheiro.

Reduzir a dependência do gás russo não será simples, explica Matthew, mas agora tornou-se mais claro do que nunca que o mundo precisa de usar menos gás natural.

“A crise na Ucrânia é um alerta para que as potências dos EUA e da Europa acelerem a transição do gás. Não apenas pelo clima, mas também pela nossa segurança energética”, disse ele.

Claro, se temos uma casa arrendada ou se vivermos num apartamento, as nossas opções para fazer muitas destas mudanças podem ser limitadas. Mas podemos sempre entrar em contacto com o proprietário ou a administração do prédio para expressar a nossa preferência por formas mais limpas de aquecimento em relação ao gás natural. Estas medidas também devem reduzir drasticamente as contas de energia.

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