Era uma condição médica que afetava uma mulher grávida que morreu no sábado enquanto era transferida depois de não ter tido vaga no Hospital de Santa Maria, em Lisboa. A ministra da Saúde demitiu-se horas depois de a TVI / CNN terem divulgado este caso
1/ O que é
A pré-eclampsia é uma “doença específica da gravidez humana, caracterizada por hipertensão arterial e alterações renais”, começa por explicar o médico Nuno Clode, presidente da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Medicina Materno-Fetal. Por norma, a pré-eclampsia é identificada após a 20ª. semana de gestação, quando a mulher é diagnosticada com hipertensão gestacional e a esta se junta uma elevação de valores de proteína na urina. Pode trazer complicações para a mãe e para o feto, mas também apenas para um deles.
A pré-eclampsia “pode ter uma miríade de manifestações e nas suas fases mais graves pode levar a convulsões, quando chega a este ponto é eclampsia”, diz o médico.
Sofia Batista, médica de Medicina Geral e Familiar e correspondente médica da CNN Portugal, destaca que “é uma condição de grande risc mas a maioria das situações, quando bem acompanhada, tem um desfecho favorável”.
2/ Quão comum é
“Cerca de 20% das mulheres que engravidam têm hipertensão arterial (HTA) estabelecida, uma situação que complica 15% dessas mesmas gravidezes”, disse Vitória Cunha, secretária-geral da Sociedade Portuguesa de Hipertensão, em entrevista ao Jornal Médico. Nuno Clode adianta que “a pré-eclampsia é frequente” e “à volta de 5% das grávidas podem ter” esta condição se não for feito o devido acompanhamento e controlo.
3/ Quais as causas
“As causas de pré-eclâmpsia ainda são questionadas e investigadas”, diz Sofia Batista, que adianta que esta condição está associada a “anomalias no desenvolvimento da placenta numa fase muito precoce da gravidez”, como é o caso de a placenta não conseguir “invadir o útero tão suficientemente como o desejado para o fluxo sanguíneo adequado”
4/ Quais os sintomas
“Muitas vezes a pré-eclâmpsia nem sequer dá sintomas, infelizmente até a mulher chegar a uma fase mais avançada da condição”, diz a médica Sofia Batista. Nas fases mais avançadas “pode aparecer dor de cabeça forte, algumas alterações da visão abruptas, que a mulher não tinha antes, dificuldade respiratória e um estado de confusão”. Além disso podem ainda ocorrer edemas (inchaço) nas mãos, nos pés e no rosto.
5/ Como se faz o diagnóstico
Além da avaliação dos sintomas mencionados acima e dos níveis de proteína na urina, o diagnóstico passa também pela medição da tensão arterial, sendo considerada alta quando os valores são iguais ou superiores a 140/90mmHg e documentados em duas determinações separadas de pelo menos quatro horas, esclarece a Sociedade Portuguesa de Hipertensão. A subida da tensão arterial é um dos sinais de alerta na gravidez ao qual o Serviço Nacional de Saúde pede para que as grávidas prestem atenção.
6/ Qual o tratamento
Segundo Nuno Clode, a pré-eclâmpsia “só se trata de uma maneira”, que é “terminar a gravidez, tirando a placenta”, o que, diz, não é grave quando a mulher já está com 35 ou mais semanas de gravidez. “O problema é quando surge em fases muito precoces”, sendo, nestes casos, o internamento e a monitorização as opções mais comuns. “A vigilância é fundamental.” Também Sofia Batista diz que “costumamos dizer que o parto é a cura, entre aspas, da pré-eclâmpsia”, no entanto há formas de atuação que ajudam a controlar a condição e a evitar que escale para eclâmpsia. “Quando se identifica uma mulher com elevado risco de pré-eclâmpsia, os obstetras, está indicado por estudos mais recentes, dão uma dose baixa de aspirina”, esclarece a médica, que continua: “Pode haver o aconselhamento de restrição de atividade e esforços e, nas situações mais preocupantes, o internamento”. Mas “temos poucas armas [de ação], infelizmente”.
7/ Quais os riscos para a mulher
“Quanto mais cedo é diagnosticada formalmente, menor é o risco de ter uma forma grave [da condição], mas, apesar de tudo, a maioria dos casos não tem este desfecho”, afirma Sofia Batista, referindo-se à morte de uma mulher grávida depois de não ter tido vagas no Hospital Santa Maria, em Lisboa. No entanto, adianta, “há riscos” que devem ser tidos em conta e que as mulheres não devem ignorar: “pode haver um descolamento de placenta, pode haver falência aguda dos rins e fígado, edema pulmonar, hemorragia cerebral, uma série de condições muito grandes". "Pode ter impacto no corpo todo da mulher.”
8/ Quais os riscos para o feto
“Como é uma doença placentária, o bebé pode não crescer de forma adequada, em última análise pode levar à morte do feto”, adianta Nuno Clode. Sofia Batista também destaca o risco “da restrição do crescimento intrauterino”, o que pode levar ao nascimento prematuro.
9/ Quem são as grávidas mais vulneráveis
Nuno Clode esclarece que a pré-eclâmpsia “é mais frequente em primeiras gravidezes, em mulheres muito jovens e mais idosas”, mas também em mulheres que, antes de engravidarem, já têm “alguma patologia como hipertensão e diabetes”. Sofia Batista acrescenta ainda como fator de risco as gestações múltiplas.
10/ Como prevenir
A adoção de um estilo saudável que permita controlar fatores de risco - como hipertensão, obesidade e diabetes - são estratégias a ter em conta, mas a médica Sofia Batista diz que as consultas pré-conceção podem fazer toda a diferença, pois é feita “uma avaliação de risco para a mulher nas mais variadas condições”, incluindo esta.
11/ Quais os cuidados após o diagnóstico
“Estas mulheres devem ser acompanhadas e vigiadas pois têm sempre um maior risco de desenvolver algumas condições no futuro, como doenças do foro cardiovascular e renal”, adianta a correspondente médica da CNN Portugal, apelando a uma “vigilância médica mais apertada”. Apesar de a pré-eclâmpsia “se resolver” dias ou semanas após o parto, estas mulheres devem ter um “maior cuidado” com o estilo de vida: devem seguir “uma alimentação equilibrada, reduzir os níveis de sal o mais que possam, ser ativas fisicamente e fazer uma vigilância médica adequada”.