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Economista, Professor Associado e Coordenador na Universidade Europeia

Portugal está a perder o seu talento mais valioso. A reforma fiscal não pode esperar

14 jan, 12:38

Na última semana, Cavaco Silva lançou um alerta que não pode deixar de ser bem ouvido nos corredores Assembleia da República. O Ex-Presidente da República avisa que Portugal precisa de uma verdadeira reforma fiscal. Este apelo, reforçado por Carlos Tavares, antigo ministro da Economia, defende, inclusivamente, a criação de uma “Comissão da Reforma Fiscal”.

Os dados são alarmantes. Portugal ocupa o 64.º lugar em 67 países no ranking da fuga de cérebros do World Talent Ranking 2024 do reputado Instituto Suiço Institute for Management Developmen. Não é difícil perceber porquê. Em 2023, 75% dos trabalhadores por conta de outrém entre os 18 e 35 anos ganhavam menos de 1.000 euros líquidos mensais. É uma realidade que, em vez de reter talento, empurra os mais qualificados para fora do país.

A asfixia fiscal que recai sobre as empresas e os trabalhadores é um dos principais responsáveis por esta situação. Com um dos IRCs mais altos da OCDE e o quarto maior esforço fiscal da União Europeia, a economia portuguesa está presa num ciclo vicioso. Sem alívio fiscal, não há margem para inovação. Sem inovação, a produtividade estagna. E sem produtividade, não há melhoria estrutural dos salários e da qualidade de vida.

É neste contexto que os jovens, particularmente a geração Z (nascido entre 1995 e 2009), demonstram uma clara propensão para emigrar. Segundo um estudo da Business Roundtable Portugal e da Deloitte, 48% desta geração revela propensão para deixar o país. A falta de modernidade nos contextos profissionais, a ausência de inovação e os baixos salários são, provavelmente, os principais fatores.

Os efeitos de um quadro assim são devastadores. Em 2024, Portugal foi o quinto país do mundo com mais escassez de talento, segundo a ManPowerGroup, uma das grandes multinacionais americanas. A saída contínua de jovens qualificados não só agrava o défice de produtividade, como compromete o futuro demográfico do país. Dados do Obervatório da Emigração indicam que 70% dos portugueses que emigram têm entre 15 e 39 anos, reduzindo drasticamente o número de casais em idade fértil em Portugal.

O impacto deste êxodo também se reflete de forma dramática no sistema de pensões. De acordo com o último relatório de envelhecimento da Comissão Europeia, a taxa de substituição do salário pela pensão em Portugal não atingirá os 39% em 2050. Isto significa que, sem uma correção estrutural, a qualidade de vida das gerações futuras será insustentável.

Os jovens não querem mais promessas. Querem mudanças concretas. Querem modernidade, inovação e salários competitivos. Mas nada disto será possível sem um choque fiscal. Este não é apenas um debate técnico ou político. É uma questão de sobrevivência económica e social.

A redução do esforço fiscal permitirá atrair e reter talento, aumentar o investimento privado e fomentar a inovação. No entanto, é crucial reconhecer que um choque fiscal bem-sucedido não “se paga a si”. Será necessário um plano responsável para compensar o défice gerado, que poderá passar pela redução da despesa pública, alterações nos impostos sobre o consumo ou reformas na administração pública.

É fundamental que o país ouça o “grito” de alerta do Ex-Presidente da República Cavaco Silva. Sem uma união nacional em torno do desígnio da “reforma fiscal”, Portugal continuará a perder os seus melhores talentos para o estrangeiro, enquanto a produtividade e a competitividade do país continuarão a definhar.

Se Portugal ambiciona ter jovens que sonhem em ficar, e não em partir, é tempo de abandonar as medidas paliativas e de enfrentar o problema de frente. O apelo está feito. Agora, cabe aos decisores políticos escutarem.

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