Reveladas as causas do apagão na Península Ibérica. Tudo começou na central fotovoltaica da Iberdrola em Badajoz

19 jun, 18:31
Apagão total (Lusa)

A Iberdrola rejeita qualquer responsabilidade e acusa a REE de uma gestão "imprudente e negligente"

A central fotovoltaica Núñez de Balboa, da Iberdrola, localizada na província espanhola de Badajoz, foi identificada como o ponto de partida do apagão na Península Ibérica a 28 de abril, considerado um dos mais graves de sempre nos dois países.

A informação consta de relatórios técnicos confidenciais analisados pelo governo espanhol e pela operadora da rede elétrica, a Red Eléctrica (REE), aos quais o jornal elDiario.es teve acesso.

Após 49 dias de investigação, as autoridades responsáveis pelas investigações do episódio concluíram que o apagão foi provocado por uma “conjugação de fatores”, sem atribuir uma única causa determinante. Entre os elementos identificados estão falhas na regulação da tensão, erros operacionais e um funcionamento anómalo da central da Iberdrola, que gerava cerca de 250 megawatts quando surgiram as primeiras oscilações.

Segundo o relatório técnico, a central Núñez de Balboa apresentou um comportamento instável e atípico para uma instalação solar, com flutuações bruscas de potência reativa e ativa, algo mais comum em centrais nucleares ou a gás.

"Em apenas alguns segundos, a geração da central oscila com uma amplitude pico a pico de cerca de 70% da produção que tinha imediatamente antes da oscilação. Esse comportamento contrasta com o de outras centrais que utilizam a mesma tecnologia conectadas ao mesmo nó ou a nós próximos", lê-se no documento publicado na noite de terça-feira pelo governo espanhol.

A operadora REE classificou o incidente como uma “reação em cadeia”, iniciada por volta das 12h03 daquele dia, sem qualquer aviso prévio. Uma segunda flutuação, por volta das 12h16, coincidiu com um aumento súbito da produção da central para 350 MW. Embora os parâmetros da rede estivessem normais, os especialistas apontam para um possível defeito interno ou falha de controlo na unidade solar.

A Iberdrola, questionada pelo mesmo jornal espanhol, rejeitou qualquer responsabilidade e acusou a REE de uma gestão "imprudente e negligente", segundo algumas fontes. A elétrica espanhola defende que cumpriu todos os protocolos estabelecidos de forma “impecável” e criticou a operadora por não ter conseguido controlar o sistema face às perturbações.

O governo espanhol também responsabiliza a REE por uma má gestão da reserva técnica, essencial para estabilizar o sistema em momentos críticos.

Renováveis passam a controlar tensão na rede espanhola 

Um dia depois da divulgação do relatório, a entidade reguladora do país anunciou que as unidades de energia renovável, tanto solar como eólica, vão passar a controlar a tensão da rede elétrica em Espanha em igualdade de circunstâncias com outras tecnologias de produção convencionais.

A Comissão Nacional dos Mercados e da Concorrência (CNMC) de Espanha informou esta quinta-feira que aprovou a revisão do quadro regulatório relativo às obrigações de controlo de tensão na rede elétrica de 12 de junho, dia em que ainda não tinham sido reveladas as conclusões oficiais sobre as causas do apagão na Península Ibérica em 28 de abril.

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