Presidente da Câmara Municipal do Porto sente-se insultado pelo bispo da cidade, Manuel Linda, acusando a diocese de agir como "um qualquer agente imobiliário"
Rui Moreira acusou a diocese do Porto de querer impedir o direito de preferência da Câmara Municipal do Porto na alienação das casas nas Eirinhas e em Miragaia, comportando-se como um agente imobiliário privado e impedindo os moradores de continuarem nas suas casas.
Visivelmente irritado, na reunião do executivo da cidade que se realizou na manhã desta quarta-feira, o presidente da Câmara Municipal do Porto afirmou sentir-se insultado pelo bispo Manuel Linda e quis deixar em ata uma declaração: "Pela minha parte, até que eu saia, não haverá nenhuma deliberação, que trarei aqui ou que vote favoravelmente, no sentido de contribuir com qualquer tostão que seja para a Igreja Católica".
Rui Moreira explicou aos vereadores que enviou uma carta ao bispo mostrando a sua preocupação e pedindo que, em situações futuras, a Câmara fosse informada para que pudesse adquirir as habitações e salvaguardar os interesses dos moradores. Porém, percebeu que a diocese tinha usado um estratagema de permutas para impedir a intervenção da autarquia. "Preocupa-nos muito que esta matéria seja tratada pela Igreja Católica de uma forma economicista como se fosse um qualquer agente imobiliário, ainda por cima recorrendo a truques", disse o presidente.
"Eu não pedia ao bispo para ele reverter nada, era apenas para dar nota para o futuro: sempre que no futuro sempre quisesse alienar património desta natureza, não faria mal nenhum informar a Câmara, porque a Câmara estaria em condições de comprar", disse. "A resposta do senhor bispo não foi resposta nenhuma, é insultuosa, porque uma não resposta é insultuosa", lamentou.
Na sua declaração, Rui Moreira recordou que "a relação histórica entre a Igreja Católica e a cidade do Porto foi sempre complexa", porém tinha vindo a melhorar e foram estabelecidas várias parcerias entre a autarquia e a diocese, nomeadamente na área social. "Tenho a consciência que desde que cá cheguei procurei manter essa relação. E foi possível, quer com o bispo Manuel Clemente, quer com o bispo dom Francisco. Tenho tentado manter essa relação com Manuel Linda, mas temos tido vários episódios particularmente infelizes", explicou.
O autarca queixa-se que a Obra Diocesana tem tomado várias decisões sem informar aquele que é um dos seus principais parceiros e financiadores. "Essa é uma matéria que nos preocupa. E esse assunto tem uma outra dimensão: estas casas foram oferecidas à igreja católica com um determinado objetivo, é um legado que pretendia garantir os direitos históricos daqueles moradores." "Consideramos que o procedimento da diocese foi incorreto", concluiu.
"Tudo isto acontece ao mesmo tempo que a Igreja Católica tem hoje receitas na cidade do Porto de monumentos que são do Estado", disse, referindo-se à Sé e aos Clérigos. "É bom termos a noção de quem são os bens que a Igreja explora. Mas ao mesmo tempo quando é preciso arranjar a igreja de São João da Foz ou a Igreja Matriz da Campanhã, os párocos vêm aqui bater a porta porque a igreja não tem dinheiro e então ja é interesse patrimonial da cidade."
Foi o acumular de todas estas situações que levou Rui Moreira a declarar que, até ao final do seu mandato, não pretender dar "qualquer tostão" à Igreja. Além disso, o presidente da Câmara do Porto anunciou que vai escrever uma carta ao núncio apostólico, responsável pela nomeação do bispo, "dando nota da nossa preocupação e que a igreja nao se está a comportar como é tradição na cidade do Porto".
O executivo do Porto aprovou por unanimidade um voto de protesto, apresentado pela CDU, pela alienação de imóveis no bairro das Eirinhas e em Miragaia por parte da Diocese do Porto. Segundo o Jornal de Notícias, as casas das Eirinhas, propriedade da diocese, foram alvo de uma permuta, sendo o novo proprietário uma empresa de construção civil, o que levou os moradores a temerem ficar sem casa. Na Zona Histórica, foram permutados três prédios por três T1 na Boavista.
Num comunicado publicado na sua página oficial da Internet, a Diocese do Porto explicou que as permutas que fez de alguns dos seus imóveis, que têm sido alvo de críticas, não têm como intuito fazer dinheiro para o transferir para outros negócios.