"Isto destruiu-nos." Adonis morreu enquanto aguardava transferência hospitalar em Portimão, pais querem respostas

TVI , MSM
2 jun 2023, 21:25
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O casal britânico explica como viveu todo o processo e critica a demora nos serviços de saúde portugueses

Os pais do bebé de 11 meses, que morreu em Portimão enquanto aguardava transferência hospitalar, dizem que as suas vidas foram destruídas. O casal britânico chora a perda do pequeno Adonis, que morreu 48 horas depois de ter sido visto pela primeira vez no serviço de urgência, e exige respostas das autoridades portuguesas.

Deza Powell e Paul Larochelle, de Londres, criticam a demora na transferência para uma unidade de cuidados intensivos. Mas também a falta de informação.

“Alguém tem de assumir responsabilidades pelo que aconteceu”, disse Powell, citada pelo The Guardian. A mulher, de 45 anos, considera que o filho não teve o melhor tratamento. “Ele não tinha dignidade”, referiu, apontando ter existido “falta de reconhecimento”, “falta de empatia” e “falta de compaixão”.

“Há muitas perguntas para as quais não temos respostas”, lamentou Deza Powell, acrescentando: “Lemos, como toda a gente, o que aconteceu ao nosso filho [nos meios de comunicação portugueses] e é a pior coisa que se possa imaginar. Ninguém pediu desculpas por nada. Mas agora um pedido de desculpas seria muito pouco e muito tarde. Isto destruiu-nos. Não sei como vamos seguir em frente. Acho que nunca mais vou conseguir ir de férias com as crianças. É como se o tempo tivesse parado para nós… Não desejo isto nem ao meu pior inimigo.”

Powell garantiu que levará o caso até às últimas consequências: “Não quero que mais nenhum pai tenha de passar por esta dor.”

A mulher levou Adonis ao hospital de Portimão no dia 17 de maio, segundo dia de férias da família em Portugal, por apresentar dificuldades em respirar e febre, informa o The Guardian.

Adonis foi sujeito a exames e os pais foram informados de que, provavelmente, se tratava de uma bronquiolite, uma inflamação das vias aéreas inferiores, muito comum nos primeiros dois anos de vida. O menino recebeu alta e foram-lhe prescritos alguns medicamentos – ibuprofeno, paracetamol e uma bomba para a asma.

No dia seguinte, “pareceu melhorar”, contou a mãe, acrescentando: “Estava a comer. Via-se que não estava a 100%, mas estava a voltar ao normal. Estava apenas um pouco prostrado e cansado. Coloquei-o na cama e dormiu muito bem.”

Na manhã seguinte, Adonis estava “mole” e tinha “o olho esquerdo inchado”, mas comeu um iogurte e bebeu água.

Powell levou Adonis de novo ao hospital, onde foi sujeito a mais testes. Mas a mãe diz ter-se sentido frustrada, por sentir que a equipa médica não estava a reagir de forma célere. Por isso, acabou por pressionar e colocar uma série de questões. Do outro lado, diz que só ouviu “não sei”.

Depois veio uma longa espera sem informações: “Eles disseram-me que os seus pulmões tinham entrado em colapso e, literalmente, foi a última coisa que me disseram entre as 14:00 e as 19:00. Fomos deixados num corredor. Fui tentando avaliar o que se estava a passar pelas caras das enfermeiras e todas elas estavam a chorar. Eles estavam a correr abaixo e acima pelo que me pareceu ser uma eternidade.”

Os pais contam que foram então informados de que estavam à espera de transporte aéreo, para transferir Adonis para a unidade de cuidados intensivos pediátrica do Hospital de Faro. Mas esse transporte só terá chegado três horas depois.

Deza Powell e Paul Larochelle descrevem um cenário de caos e confusão durante todo o tempo de espera. “Um homem entrou e disse: ‘parou de respirar, mas eles estão com ele e a fazer o melhor que podem'”, recordou o pai, que a seguir fez o que lhe parecia apropriado: “rezar, rezar, rezar”.

Pouco depois, o casal, que tem mais oito filhos, foi informado da morte de Adonis. Puderam ver o corpo, mas a mãe disse que “não estava pronta para vê-lo” e que “estava a gritar tanto” que teve de “ser sedada”. Por isso, Paul Larochelle foi antes. Ainda incrédulo, este pai disse que embalou o filho: “Para mim, o pior, o que nunca esquecerei, é a rigidez do corpo… e todo o seu peito estava queimado [pela desfribilação]. Eu queria sair do quarto, porque não queria que a Deza notasse o que eu notei, o corpo do bebé a mudar à sua frente. O seu corpo estava muito frio.”

O corpo de Adonis foi transladado para o Reino Unido na terça-feira. Será sujeito a nova autópsia e será feito um inquérito, escreve o The Guardian.

A família disse que tentou aceder a documentação das autoridades portuguesas e que está a recolher fundos para pagar a um representante legal, para descobrir o que aconteceu.

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