DECISÃO 22: o Tarot do novo poder: do Papa, ao Diabo, o quem-é-quem do jogo

Sex, 04 fev 2022

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Hoje deitamos cartas ao futuro. Com o fim das eleições, esta newsletter deixa de ser diária. Mas regressa em formato semanal daqui a oito dias. Escreva-nos. Leia-nos. E assine. Olá.

O mundo mudou (muda sempre)

Há uma semana a maioria absoluta era “impossível”. Há uma semana tudo estava “em aberto”, o PS à frente mas em “empate técnico” com o PSD. Há uma semana o país já esperava a subida da IL e do Chega, e a descida do BE e do PCP, mas a saída do CDS do Parlamento era “improvável”. Há uma semana era outro país.

Não parece. Rapidamente acertámos os azimutes, encomendámos o enterro político a Rio e a Rodrigues dos Santos, não estranhando se abrissem covas na história do PCP e do BE para que outros líderes emergissem, o que ainda não se demonstrou. E o PAN entrou em ebulição com o “estou disponível” de André Silva, o Chega centrou-se numa polémica em torno da eleição da presidência da Assembleia, surgiram os primeiros nomes no Parlamento, atiraram-se outros nomes de possíveis ministros, andaremos nisto no dia-a-dia que se segue.

Mas convém parar e perceber a volta que isto deu. Uma maioria absoluta do PS, em prejuízo da sua esquerda e com uma direita diferente, é um ambiente político novo que ditará quatro anos diferentes. O PS terá liberdade para fazer o que quiser. A oposição mudará de estilo e de conteúdo. O Presidente não será o avô que embala músicas de adormecer.

Nas últimas semanas, esta newsletter manteve um ritmo diário, participando no esclarecimento para um voto mais esclarecido. Recebemos centenas de perguntas de leitores, publicámos dezenas de confirmações de factos, interagimos com os leitores.

Deixamos agora de publicar a newsletter diariamente, mas mantemo-nos aqui. Porque a situação política está longe de estar esclarecida. E porque o país e o mundo continuam a sua própria vida, estamos em seca, os juros estão a subir, a quinta vaga da pandemia terá já passado o pico, Manuel Pinho está detido em Portugal, Rendeiro está detido na África do Sul, o governo de Boris Johnson soma demissões, a avançada da Rússia sobre a Ucrânia faz os Estados Unidos mover tropas, enquanto a China declara ao lado de Putín ser contra o alargamento da NATO…

O mundo roda sempre vivo. Esta newsletter regressa daqui a uma semana para falar consigo, falar disso.

Respostas aos leitores

Nas últimas semanas, todos os dias, respondemos a dezenas de perguntas de leitores. Pode consultar uma escolha dessas perguntas e respostas aqui.

Factos primeiro

A abstenção desceu mesmo? O PSD teve mais votos e menos deputados? A TAP está falida? O SEF vai ser extinto? O IRS vai descer? Foram dezenas de questões como estas que esclarecemos com verificação de factos todos os dias. Pode ler respostas aqui.

Best (and worst) of

A história é escrita pelos vencedores e o grande vencedor destas eleições foi António Costa. Mas há matizes diferentes na avaliação dos ganhadores e perdedores. Hoje deitamos cartas, num balanço a meio de um processo político em curso:

 

O Imperador: António Costa. Provavelmente sente-se o melhor condutor do mundo. Já não tem de negociar com ninguém nem de aturar parceiros, tem sim quatro anos pela frente para fazer o que quer. O que quer?

 

O Eremita: Rui Rio. Quis fazer tudo sozinho no partido, acabou sozinho no partido. Rodeou-se dos seus e os seus eram os que não desafinam nem o desafiam. Perdeu. Sairá da liderança do partido, ficará como deputado, na bancada que ele próprio escolheu. Será a voz do futuro líder uma voz isolada ou uma voz esmaecida com o tempo?

 

O Diabo: André Ventura. É detestado pelos outros partidos, entra em contradições permanentes, alimenta o preconceito e a divisão, terá doze bocas alimentadas de poder no Parlamento. Representa a terceira força política na AR, com mais tempo e mais dinheiro para fazer oposição. Que mais dirão além da palavra “vergonha”?

 

Os Enamorados: João Cotrim de Figueiredo. A Iniciativa Liberal está muito feliz consigo própria, depois da escalada fulgurante na Assembleia. Sobretudo através do voto urbano e com penetração no voto jovem. Como farão oposição com o poder que lhe delegaram? Repetindo a palavra “liberal” ou construindo caminhos possíveis?

 

O Julgamento: Jerónimo de Sousa. Foi o grande sacrificado da geringonça. Porque representou a concórdia e a negociação com o PS dentro do PCP, acabando frágil, em perda no Parlamento e nas autarquias. O PCP lida com o seu próprio declínio, querendo rejuvenescer sem modernizar e regenerar sem degenerar. Onde? Nas ruas?

 

A Sacerdotisa: Catarina Martins. O Bloco deu um trambolhão e não quer ser trambolho. Vive uma crise, não de identidade mas de meia-idade, já não é jovem e não quer parecer velho. Perdeu a energia que antes arregimentava uma população contestatária, mas não desiste da líder. Por enquanto.

 

A Roda da Sorte: Inês Sousa Real. Fez a campanha sozinha, acabou sozinha no Parlamento, mas os ausentes já dizem se dizem presentes para pôr em causa o seu domínio. Tem a dificuldade de explicar que não ser de direita nem de esquerda é diferente de não ser carne nem peixe.

 

A Temperança: Rui Tavares. Eis uma esquerda muito esquerda e pouco radical, próxima do PS e capaz de captar votos jovens. Será bem recebido, mas pode ser engolido pela falta de diferença visível. Valerá o deputado mais do que o partido?

 

O Louco: Francisco Rodrigues dos Santos. Fez uma campanha por vezes surreal, acabou como o coveiro do partido, que agora o despacha sem saber como se despachar a si mesmo para viver outra vez ou morrer de vez. O líder demissionário não é culpado de tudo, mas foi incapaz de convencer eleitores suficientes.  

 

O Papa: Marcelo Rebelo de Sousa. Não era nada disto que queria, mas ganhou uma nova centralidade no sistema político. Costa e Marcelo ficarão como pares de uma década. Como vai equilibrar a fiscalização, os vetos e as intervenções críticas com a estabilidade que porfia e diz representar? A sua função é muito mais difícil do que agora parece. Entre a irrelevância e oposição, precisa de manter a base que sempre lhe deu poder: a popularidade.

Agora nós

Ao fim de dois meses e meio de lançamento, a CNN Portugal continua líder nos canais de informação. Estamos sempre na sua televisão. E sempre aqui.  

A seguir

Envie-nos as suas perguntas e questões que quer ver debatidas através das nossas redes sociais. Não só sobre política, mas sobre temas da atualidade. Daqui a uma semana voltamos a publicar esta newsletter. Vamos falando.

 

Acompanhe-nos a qualquer hora na televisão e no site da CNN Portugal. Até à próxima semana!

 

Esta newsletter foi escrita com recolha e tratamento de informação dos jornalistas Beatriz Céu e Pedro Falardo.

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