Uma antiga ponte submersa numa gruta da ilha espanhola de Maiorca está a ajudar os investigadores a determinar quando é que os humanos se estabeleceram nas ilhas do Mar Mediterrâneo ocidental há milhares de anos.
Uma nova análise da ponte de 7,6 metros de comprimento no interior da Gruta de Genovesa revelou que os humanos viveram em Maiorca, uma das maiores ilhas do Mediterrâneo, muito antes do que se pensava. As descobertas podem reduzir a diferença temporal entre o momento em que os humanos se estabeleceram nas regiões oriental e ocidental do Mediterrâneo.
Um estudo que pormenoriza as conclusões foi publicado a 30 de agosto na revista Communications Earth & Environment.
A falta de registos escritos e a escassez de provas arqueológicas têm dificultado a compreensão do momento em que os humanos colonizaram e se estabeleceram nas ilhas do Mediterrâneo.
Mas um “anel de banheira” revelador, juntamente com formações minerais detetadas na ponte, permitiu aos cientistas estimar que a estrutura foi construída há cerca de 6.000 anos, disse o principal autor do estudo, Bogdan Onac, professor da Escola de Geociências da Universidade do Sul da Flórida.
“A presença desta ponte submersa e de outros artefactos indica um nível sofisticado de atividade, o que implica que os primeiros colonos reconheceram os recursos hídricos da gruta e construíram estrategicamente infraestruturas para a navegar”, disse Onac.
Uma gruta misteriosa
A ponte é feita de grandes e pesados blocos de calcário, alguns dos quais com 1,3 metros de diâmetro, e ainda não se sabe quais os mecanismos que permitiram aos antigos humanos construir a ponte.
Os investigadores acreditam que aqueles que construíram a ponte queriam um caminho seco e contínuo para ligar a entrada da gruta a uma câmara para além de um lago no interior da gruta.
A ponte da gruta foi descoberta pela primeira vez em 2000. Alguns anos mais tarde, um estudo escrito em língua catalã estimou a ponte em 3.500 anos, com base na cerâmica encontrada numa das câmaras da gruta.
Desde então, estudos que dataram por radiocarbono ossos e cerâmicas em Maiorca sugeriram a presença humana na ilha há 9.000 anos, mas a má preservação dos materiais levou os investigadores a questionar essa cronologia.
Investigações mais recentes, que estudaram as cinzas, os ossos e o carvão da ilha, sugerem que os seres humanos se estabeleceram na ilha há cerca de 4.440 anos.
Mas tendo estudado a subida do nível do mar noutras ilhas e as pegadas geológicas que a subida do nível do mar pode deixar, Onac e os seus colegas adotaram uma abordagem diferente.
“Só nos últimos quatro anos é que finalmente reunimos os dados necessários para abordar este tema de investigação de longa data e estimar melhor o tempo de chegada dos humanos a Maiorca”, disse Onac.
Atualmente, as passagens da Gruta de Genovesa continuam inundadas devido à subida do nível do mar.
Onac e os seus colegas estudaram uma faixa de cor clara na ponte submersa dentro da gruta, bem como incrustações de calcite que se formaram na ponte durante as épocas em que o nível do mar era mais elevado e enchia a gruta.
As incrustações são espeleotemas, ou formações geológicas que resultam de depósitos minerais que se acumulam ao longo do tempo nas grutas.
Ao reconstruir os níveis históricos do mar no local e ao analisar a faixa de coloração da ponte, bem como os depósitos minerais, a equipa determinou que a ponte foi montada há cerca de 6.000 anos.
A faixa de cor corresponde ao mesmo nível onde os depósitos minerais se formaram quando o nível do mar estava parado, indicando que deve ter sido construída antes de há 5.600 anos.
Reconstituindo passos antigos
A ponte foi provavelmente utilizada durante 400 a 500 anos antes de a subida do nível do mar ter feito com que o lago da gruta a cobrisse, disse Onac.
A equipa não dispõe de provas claras sobre a forma como os humanos antigos utilizavam a gruta, mas tem alguns cenários em mente.
Os mergulhadores da gruta encontraram restos fósseis de uma espécie de cabra, agora extinta, que viveu na ilha, conhecida como Myotragus balearicus. Também descobriram cerâmica dentro de uma câmara ligada à entrada da gruta pela ponte.
“Isto sugere que os humanos podem ter usado a área perto da entrada da caverna, uma grande câmara de colapso, para viver”, afirmou Onac. “O objetivo de atravessar o lago para aceder a essa câmara não é claro; pode ter servido como refúgio, local para rituais ou como local de armazenamento, mantendo os alimentos protegidos dos dias quentes de Maiorca”.
Há provas de pequenas casas de pedra e estruturas feitas de grandes pedras em Maiorca entre 2000 e 4500 anos atrás. Por isso, é provável que a ponte da caverna seja um precursor das obras de pedra maiores e mais sofisticadas encontradas na ilha, considerou o investigador.
Os paleontólogos ainda estão a tentar determinar por que razão Maiorca foi colonizada mais tarde do que as ilhas do Mediterrâneo Oriental. Apesar de ser grande e estar bastante perto do continente espanhol, a ilha tinha um clima quente e seco, com um solo pouco fértil para a agricultura. Para além do peixe e das cabras autóctones, Maiorca não dispunha de muitos recursos naturais.
“Em contraste, outras ilhas tinham condições ambientais mais favoráveis e recursos abundantes, como minerais e gado, o que as tornava mais atractivas para os primeiros colonos”, completou Onac.