"Isto é guerra": sistema de alerta da Ucrânia "não funcionou" num dos ataques russos mais mortíferos desde 2022

CNN Portugal , BCE
4 set, 08:00
Ataque russo a Poltava (GettyImages)

Tempo entre o acionamento do alarme e a chegada dos mísseis “foi tão curto que as pessoas não conseguiram chegar aos abrigos”, admitiram as autoridades ucranianas. Especialistas militares entendem que alguma coisa falhou nos sistemas de alerta e de defesa aérea

Pelo menos 51 pessoas morreram e mais de 200 ficaram feridas na sequência de um ataque russo contra um estabelecimento de instrução militar e um hospital na cidade de Poltava, na região de Kharkiv, a cerca de 110 quilómetros da fronteira. Este é já considerado um dos ataques mais mortíferos da Rússia desde o início da invasão da Ucrânia.

Segundo as informações preliminares, a Rússia lançou dois mísseis balísticos Iskander-M contra um estabelecimento do Instituto Militar de Telecomunicações e Tecnologias de Informação de Poltava.

O tempo entre o acionamento do alarme e a chegada dos mísseis “foi tão curto que as pessoas não conseguiram chegar aos abrigos”, assumiu o Ministério da Defesa ucraniano. Várias pessoas foram, por isso, atingidas enquanto tentavam entrar no abrigo antiaéreo.

“Isto é guerra”, observa o major-general Agostinho Costa, relativizando o facto de o ataque ter atingido o instituto militar e sugerindo que o que terá acontecido foi que as forças russas “detetaram a presença de um volume muito grande de forças” naquele centro, provocando assim um elevado número de vítimas mortais, como já não havia registo desde o bombardeamento da estação ferroviária de Kramatorsk, em abril de 2022, que matou 61 pessoas e feriu mais de 160, atingindo uma multidão de civis que tentava abandonar a cidade.

Para o major-general, este ataque dirigido “mostra que houve um trabalho de informações da parte da Rússia”, ao atacar uma infraestrutura onde foi detetada “uma concentração de forças ucranianas”.

O especialista em estratégia militar afirma que os mísseis balísticos, que têm um alcance de até 500 quilómetros -, foram lançados “relativamente perto” da cidade, pelo que o tempo de reação terá sido demasiado curto, levando a uma falha no sistema de defesa aérea ucraniano.

Segundo o major-general Agostinho Costa, estes mísseis estão atribuídos a “escalões mais baixos do exército,” nomeadamente no nível de brigada. Logo, “devem ter sido lançados relativamente perto”, da linha da frente, “o que não deu tempo à defesa aérea de acionar o alerta”.

Assim, “é compreensível que a Ucrânia não tenha tido grande tempo” para reagir, admite Agostinho Costa, à CNN Portugal.

Na pespetiva do major-general Isidro de Morais Pereira, mesmo que os mísseis tenham sido lançados a partir do solo russo, o tempo de reação seria sempre "muito curto". Basta verificar que Poltava se situa a cerca de 110 quilómetros da fronteira com a Rússia e que "os mísseis balísticos viajam a cerca de 4000 km/h". É "três a quatro vezes a velocidade do som", sublinha.

"O que aconteceu foi que a distância do local de disparo ao local de impacto é relativamente curta para os mísseis balísticos. Alguma coisa no sistema de alerta não funcionou como devia", teoriza o especialista em estratégia militar. "O míssil não foi detetado a tempo, as sirenes soaram muito tarde e, quando soaram, já não havia tempo para as pessoas se abrigarem. Se não se abrigarem, normalmente tornam-se alvos fáceis", diz, explicando que "ficam expostas quer à onda de choque, quer aos estilhaços" dos bombardeamentos.

Segundo as autoridades locais, além das vítimas mortais e dos feridos já registados, pelo menos 15 pessoas estão debaixo dos escombros dos edifícios que foram atingidos.

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