Cirurgia de Jerónimo de Sousa vai ter impacto nos votos no PCP? Politólogos respondem

11 jan 2022, 13:44

Líder comunista vai ser submetido a cirurgia de urgência e vai ter de estar ausente da campanha durante dez dias. Politólogos dizem à CNN Portugal que o impacto da sua ausência será mitigado pelo restante partido. "Jerónimo de Sousa é um líder carismático", mas "PCP não vai ser prejudicado" com a sua ausência, consideram

O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, vai ser submetido a uma operação urgente na quarta-feira e vai falhar a campanha das eleições legislativas enquanto estiver a recuperar, sendo substituído por João Ferreira e João Oliveira.

Mas, que impacto vai ter a sua ausência do líder comunista na campanha do PCP? Em entrevista à CNN Portugal, o politólogo José Adelino Maltês considera que o partido "não vai ser prejudicado" com a ausência de Jerónimo de Sousa porque o líder comunista é "representante de um coletivo".

"O PCP é o partido que tanto faz ir o Jerónimo ou o João Oliveira, porque dizem todos o mesmo. Não é propriamente a cassete, é a disquete. É aquilo a que estamos habituados no PCP, que funcionem todos como deve ser", afirma José Adelino Maltês.

Também o politólogo André Freire afirma que o partido comunista terá um substituto à altura de Jerónimo de Sousa na campanha às legislativas.

"O Jerónimo de Sousa é um líder carismático, mas ele estava realmente muito cansado e isso era visível. O Partido Comunista é um partido com uma vertente bastante coletiva, portanto eu acho que, apesar de tudo, será com certeza bem substituído pelo líder parlamentar e pelo João Oliveira".

André Freire refere ainda que "Jerónimo de Sousa já não estava a participar em todos os debates", o que poderia ser um sinal de cansaço, mas também de desgaste da sua saúde. Apesar de frisar que o PCP é um coletivo, o politógo lembra que Jerónimo "é o rosto do partido e isso, com certeza, terá alguma importância."

"Mas, por outro lado, penso que é compreensível [a sua ausência] e o Partido Comunista, enquanto coletivo, não será muito prejudicado por isso".

"Substituição traz uma frescura"

Bruno Gonçalves Bernardes, politólogo e Investigador do Observatório, considera que a ausência de Jerónimo de Sousa e consequente substituição por João Ferreira e João Oliveira acaba por trazer "alguma frescura" ao partido até porque o líder comunista "estava bastante debilitado do ponto de vista físico", como "ficou bastante patente no debate com António Costa".

"O PCP coloca dois pesos pesados - João Oliveira e João Ferreira - o que demonstra que também tem outros quadros para se posicionarem, não só do ponto de vista de liderança do PCP, mas também no debate político hoje (...) O PCP não fez uma alteração da sua liderança, manteve Jerónimo de Sousa. E aqui é uma boa estratégia ter duas pessoas que são completamente diferentes e que abordam os debates de forma diferente. Traz uma frescura e traz uma nova atenção ao Partido Comunista que nas sondagens tem estado próximo do Bloco de Esquerda, mas um pouco abaixo das expectativas do PCP. Vai ser interessante e é bom para a democracia e para o PCP demonstrar que tem uma geração preparada".

Para o politólogo o partido não sai fragilizado e a mudança de liderança, ainda que temporária vai obrigar, por exemplo, Rui Rio, a repensar a estratégia no debate.

"Vai ser interessante. Obriga Rui Rio a posicionar-se de maneira diferente nos debates, vai ser bastante interessante."

"Debate com António Costa foi demolidor"

Por sua vez, o também politólogo José Fontes considera que a ausência de Jerónimo de Sousa vai trazer "mais energia" ao PCP depois de um "debate demolidor" frente a António Costa e uma ausência "inacreditável" dos debates no cabo.

O professor de Ciências Políticas lembra que "Jerónimo de Sousa tem demonstrado um cansaço, um conformismo que não era característica dele, que é um homem lutador".

"Acho que ele não ter desejado fazer todos os debates e não estar em grande forma pode prejudicar um pouco o PCP, embora o eleitorado seja muito tradicional e muito fiel ao partido. O debate que ele teve com o António Costa foi absolutamente demolidor, foi até confrangedor, até dava pena. Porque isso não tem a ver com a saúde dele, tem a ver com dois aspetos: com a falta de energia que ele tem (mas isso não é só saúde) e com a falta de energia dos argumentos. António Costa conseguiu demonstrar que não havia coerência e clareza nos argumentos para votar contra o Orçamento do Estado quando tinha apoiado o PS durante seis anos", afirma.

Quanto à escolha de João Ferreira e João Oliveira para substituir o secretário-geral, José Fontes diz que "a liderança bicéfala pode ser uma forma de cativar um eleitorado mais jovem". 

"Esta nova liderança bicéfala são os putativos candidatos. Certamente o PCP ainda não tinha chegado a acordo quanto à liderança e portanto usou essa liderança bicéfala. O facto de por esta liderança bicéfala também é porque certamente ainda não há um acordo entre quem será o próximo secretário geral. Mas certamente será um desses dois personagens.

Mas, lembra, que os resultados não dependem do mensageiro, mas sim da mensagem que o partido passa. 

"Acho que o João Ferreira tem servido para ser candidato a presidente da República e a candidato a presidente da Câmara e não tem tido grandes resultados. Mas acho que não passa só pela liderança, passa também pela mensagem do PCP".

Jerónimo de Sousa vai ficar fora da campanha eleitoral durante dez dias, ou seja, até ao final da próxima semana. No debate desta quarta-feira, frente ao PSD, o secretário-geral do PCP será substituído por João Oliveira.

João Oliveira é o líder parlamentar do PCP. João Ferreira deixou o cargo de eurodeputado em julho de 2021 para se dedicar à candidatura autárquica em Lisboa. Foi candidato a Presidente da República no ano passado e é atualmente vereador na Câmara Municipal de Lisboa.

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