Filha de Manuel Matias, ex-líder do Partido Pró-Vida/Cidadania e Democracia Cristã, aos 22 anos foi eleita para a direção nacional do Chega, um partido que outrora não via com bons olhos. Hoje lidera uma juventude de 500 inscritos, que pretende oficializar já no próximo ano.
Ainda pequena, os pais já a levavam a ações em campanha pelo país, e estas são as memórias mais antigas da altura em que Rita Matias descobriu a política. “O meu pai sempre foi muito ativo”, conta à CNN Portugal a filha de Manuel Matias, ex-líder do Partido Pró-Vida/Cidadania e Democracia Cristã. Hoje com 23 anos, é vogal da direção do Chega, e lidera a juventude do partido mais polémico da última legislatura. Envergando a camisola de militante, fala do pai como uma referência de “responsabilidade” e como o primeiro impulsionador do “desejo de estar envolvida na sociedade civil e na política”, ou de outra forma não estaria a dar esta entrevista na campanha eleitoral de André Ventura.
Foi na Juventude Popular que deu início ao seu percurso, mas não por muito tempo. “Acabei por não me identificar com o projeto e com as ideias”, lembra. Ideias essas que acredita ter encontrado no Chega depois de vários anos a viver na Margem Sul, onde afirma ter assistido à realidade dos bairros sociais. “As pessoas que não tomavam pequeno-almoço, e só podiam comer na escola, não eram depois incluídas nestas políticas um pouco elitistas”, conta, servindo-se da “conversa do português comum” que acontece muitas vezes no café, mas que para a jovem “são as necessidades reais do país”.
A sua integração no Chega não foi por acaso - “Estaria a mentir se dissesse que sim”, reconhece. Conheceu o partido pela voz do pai, era ainda estudante de Ciência Política no ISCTE, e agora encara-o como uma “nova casa”, mas garante que não foi amor à primeira vista. “É o maior erro que podem fazer”, foram as primeiras palavras que dirigiu a Manuel Matias quando o PPV e o Chega decidiram coligar-se, tendo chegado até a acusar o partido de “populista” e “possível fracasso”. Atualmente responsabiliza as redes sociais e a comunicação social pelas ideias “preconcebidas” que tinha, e lamenta que muitos jovens se encontrem na mesma posição. “Tive a oportunidade de me informar dentro do partido, quebrar barreiras, e depois revi-me nas ideias e propostas que eram apresentadas”, explica.
Eis que, aos 22 anos, subiu para a direção nacional do partido, e à sua eleição juntaram-se as acusações de nepotismo que, para Rita Matias, são “fruto daquilo que foram os últimos anos de socialismo em Portugal”. “As pessoas estão cansadas de ver famílias socialistas, muitas vezes sem mérito, ocupar determinados cargos, e quando vêem semelhanças esse é o primeiro pensamento”, comenta. “O meu nome foi a votos, tentei fazer os possíveis para corresponder à confiança que me foi depositada e penso que tenho conseguido, na medida do possível”. Promete ainda fazer o partido crescer, sobretudo na área da juventude, que acabou por lhe ser atribuída pela idade.
O que traz os jovens ao Chega?
Há 40 mil militantes no Chega e 500 pessoas inscritas na juventude, de Norte a Sul, entre os 15 e os 30 anos, mas militantes jovens ativos “é impossível contar”. O grupo tem cerca de um ano, mas ainda não é oficial enquanto organismo. “Não estamos independentes porque achamos que é preciso consolidar o projeto, crescer, e depois dar os passos todos”, explica a líder, que prevê ainda abranger as regiões autónomas e o interior do país. “Todos têm necessidades diferentes e quero que o projeto consiga dar resposta”. Rita Matias não evita apontar o dedo às restantes juventudes, “que acabam por ser muito fortes em Lisboa e no Porto, mas no resto não têm uma resposta adequada”.
No momento em que as sondagens apresentam o Chega como terceira força política, uma das perguntas que não quer calar é “O que leva os jovens a bater à sua porta?”. Sem hesitação, Rita responde, “é mesmo a necessidade de dizer chega”, e continua: “Hoje em dia vendem-nos o sonho de ir para a faculdade, mas depois é muito difícil sermos inseridos no mercado de trabalho. Quando conseguimos é com condições laborais precárias e arrendar casa é um sufoco”. Por outro lado, também acusa os outros partidos de terem falhado nas soluções governativas e orçamentos. “Não há legitimidade para agora usarem slogans de ‘É hora de mudança’ quando, em 46 anos, não fizeram diferença nas condições de vida dos jovens”, critica.
De acordo com Rita Matias, chegam muitos jovens de “vários backgrounds políticos”, desde o PSD, CDS, PS, e até do BE e do PCP. “Sentem que não tiveram voz nas outras forças políticas e querem tê-la aqui”, explica. “Acima de tudo vêm descontentes com o sistema de ensino e por não se constituírem como adultos independentes”.
As acusações de xenofobia
Sobre as acusações de que o partido é alvo recorrentemente, a líder da juventude refuta: “Qualquer ideia que o Chega apresente é para o bem das pessoas, nunca é sobre uma raça, uma cor ou religião, há sempre algo por trás”. Afirma ainda que rotular a força política de xenófoba e racista “é uma forma muito superficial de olhar para aquilo que se quer falar”, serve de exemplo a comunidade cigana que diz tratar-se, na verdade, “de um comportamento de subsidiodependência”.
Já o Chega, esse sim, considera alvo de preconceito. “Há uma série de organismos e instituições que não convidam o partido a estar presente, o que é uma forma de ostracizar e colocar de parte”, protesta. “Não promove uma democracia, nem o diálogo, e acaba por extremar mais posições de parte a parte”. A jovem aproveita o momento para mostrar a sua preocupação com casos de assédio moral e abuso em contexto académico, que lhe têm caído diariamente nas mãos. “Os jovens são postos de parte e marginalizados nas escolas por se tornarem de direita, do Chega, ou por terem um discurso patriota ou mais conservador”. Com efeito, decidiu lançar uma plataforma de recolha de dados juntamente com os membros do partido e com a coordenação de Gabriel Mithá Ribeiro. “Queremos ajudar as escolas e as universidades porque essa foi uma das promessas de abril”.
No fim de contas, o futuro da juventude do Chega dependerá dos resultados de domingo. “Acreditamos que irá ter uma representatividade maior, e além de termos mais tempo de antena, teremos mais meios para atuar”, diz Rita Matias, acreditando que irá contribuir para “uma normalização do Chega” no país. “Julgamos que no próximo ano teremos a juventude já oficializada”.