Apesar da segurança e eficácia comprovadas das vacinas, os países europeus, bem como de todo o mundo, continuam a registar surtos de doenças evitáveis por vacinação devido a taxas insuficientes de cobertura vacinal
Perto de 2,4 milhões de crianças na Europa podem não ter recebido, entre 2012 e 2021, a vacinação completa contra a poliomielite, mantendo o risco de reintrodução do vírus no continente europeu.
Os dados do Centro Europeu de Controlo de Prevenção de Doenças (ECDC, sigla em inglês) foram divulgados esta segunda-feira, início da Semana Europeia da Imunização, e resultam de uma atualização da situação da poliomielite neste período, que revela que “aproximadamente 2,4 milhões de crianças na UE/EEE [União Europeia e Espaço Económico Europeu] podem não ter recebido a tempo as três doses de vacinas contra a poliomielite”.
Além disso, o recém-publicado Relatório Epidemiológico Anual do Sarampo 2022 do ECDC destaca também os riscos quando há bolsas de uma população subvacinada ou grupos não imunizados.
“Embora a região europeia tenha sido declarada indemne da poliomielite em 2002, o vírus continua a ser detetado periodicamente na sua forma selvagem ou como estirpes derivadas de vacinas noutras regiões. Devido a métodos de vigilância adequados e a uma cobertura de vacinação geralmente elevada, estes acontecimentos esporádicos não conduziram, felizmente, a uma transmissão sustentada na UE/EEE nem à deteção de casos humanos”, refere o ECDS em comunicado.
A diretora do ECDC, Andrea Ammon, avisa citada no comunicado, que “enquanto existirem grupos populacionais não vacinados ou subvacinados nos países europeus e a poliomielite não for erradicada a nível mundial, o risco de reintrodução do vírus na Europa mantém-se”.
“Além disso, no caso do sarampo, que é altamente transmissível, o vírus pode-se espalhar em bolsas de populações desprotegidas quando a cobertura vacinal é subótima. Isso pode levar a surtos que podem criar uma sobrecarga para os sistemas de saúde, inclusive em países que eliminaram o sarampo", alerta Andrea Ammon.
O EDCD realça que, apesar da segurança e eficácia comprovadas das vacinas, os países europeus, bem como de todo o mundo, continuam a registar surtos de doenças evitáveis por vacinação devido a taxas insuficientes de cobertura vacinal.
“Independentemente do bom desempenho geral dos programas de imunização da UE/EEE durante a pandemia de covid-19 e dos esforços tremendos para que isso aconteça, existem lacunas de vacinação significativas e disparidades entre a cobertura vacinal entre diferentes países e regiões”, salienta.
Embora o Relatório Epidemiológico Anual do Sarampo mostre uma diminuição de 99% nos casos em 2022 comparativamente a 2018, isso deveu-se provavelmente às medidas de prevenção e controle implementadas durante a pandemia, sendo que os dados mostram que os bebés até um ano continuam a ser o grupo com maior incidência de sarampo, uma vez que são demasiado jovens para serem vacinados e devem, portanto, ser protegidos pela imunidade comunitária.
O ECDC refere que a Semana Europeia da Imunização é “um momento-chave” para aumentar a sensibilização para os benefícios e a importância da vacinação, sendo para isso necessários “esforços contínuos” para identificar lacunas de imunidade em todas as pessoas, especialmente em populações vulneráveis e de difícil acesso, como refugiados, migrantes, requerentes de asilo.
“São necessários esforços acelerados para melhorar as campanhas de imunização e promover a aceitação e a aceitação da vacina, a fim de alcançar e manter uma elevada cobertura vacinal contra doenças evitáveis por vacinação”, defende.