A poeira do Saara faz mal à saúde? Devo ficar em casa? Oito perguntas e respostas sobre a poeira laranja e os efeitos na saúde

16 mar 2022, 18:01

Céu pintado de cor de laranja, pó em tudo o que é superfície. As poeiras do Saara mudaram o cenário nos últimos dois dias, mas estão prestes a desaparecer. Saiba tudo sobre este fenómeno

Qual a origem desta poeira?

Este fenómeno que está a pintar os céus de cor de laranja deve-se a uma massa de ar proveniente do Norte de África, mais concretamente do deserto do Saara. A depressão Célia, que se faz sentir nesta região do continente africano, contribui para o transporte das poeiras em suspensão no ar, fazendo-as chegar, por exemplo, a Portugal e Espanha.

Qual o efeito?

“Os efeitos mais visíveis são a alteração da cor do céu, visto que as poeiras estão normalmente acima da superfície, embora dependendo da sua concentração possam atingir níveis mais baixos, com implicações na qualidade do ar e possíveis impactos na saúde”, escreve o Instituto Português do Mar e da Atmosfera numa publicação feita no Facebook.

Até quando vai durar este fenómeno?

Esta poeira, que se faz sentir de norte a sul do país e começou em Espanha, em consequência da aproximação da tempestade Célia, vai ficar, pelo menos, até quinta-feira, dia 17. Numa entrevista à TVI/CNN Portugal, Bruno Café, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), explicou que todo o território nacional pode ser atingido, em particular o interior Norte e Centro, por estas poeiras oriundas do norte de África. 

É a primeira vez que acontece?

Não, seja em Portugal ou noutros países. Ainda em fevereiro do ano passado o céu ficou tingido de amarelo ocre, quando uma nuvem de poeira das tempestades de areia na Argélia passou. E também já tinha acontecido em 2012.

Em 2020, por exemplo, as poeiras com origem no norte da África atravessaram o Atlântico, “atingindo uma extensa área desde o sudeste das Caraíbas até ao norte e oeste da Península de Yucatán no México”, descreveu o IPMA.

Um recente estudo da NASA prevê menos poeira do Saara em tempestades futuras.

Faz mal à saúde?

A massa de ar proveniente dos desertos do Norte de África - que transporta poeiras em suspensão - está a causar a fraca qualidade do ar que se sente no Continente, o que, por si só, pode ter impacto na saúde.

Uma vez que aumenta “as concentrações de partículas inaláveis de origem natural no ar”, mais concretamente de partículas até 10 micrómetros de diâmetro (0,01 milímetros) - poluente denominado PM10 - esta poeira tem efeitos na saúde humana, sobretudo junto da população mais vulnerável, que são as crianças, os idosos e os doentes com problemas respiratórios crónicos, como é o caso de quem tem asma, ou que tenham problemas cardiovasculares, esclarece a Direção-Geral da Saúde no seu site.

Em 2019, um estudo publicado na revista científica International Journal of Occupational Medicine dava conta do impacto deste tipo de poluente na saúde quando a exposição acontece de forma continuada, salientando que estas pequenas partículas como as que chegam do Saara são respiráveis e, por isso, entram em contacto direto com o trato respiratório, podendo causar distúrbios respiratórios. Por serem pequenas, podem entrar também na corrente sanguínea e causar problemas cardiovasculares, diz o estudo.

Sou asmático, e agora?

Segundo a Sociedade Portuguesa de Pneumologia, os doentes asmáticos devem minimizar a exposição ao ar livre, cumprir a medicação e, em caso de terapêutica de SOS, reforçar a utilização. A Comissão de Trabalho de Alergologia Respiratória da Sociedade Portuguesa de Pneumologia reforça ainda a importância do controlo da asma e da rinite, nomeadamente a “não existência/aceitação de sintomas persistentes, limitação funcional nem agudizações”, fatores que considera “ainda mais determinantes numa altura de maior risco inalatório”.

As alergias vão piorar?

É possível que sim, uma vez que “os fatores que contribuem para o aparecimento da doença alérgica podem ser intrínsecos, mas também ambientais e conduzem a irritação das vias aéreas e sua inflamação”, começa por explicar Ana Castro Neves, imunoalergologista na Clínica Lusíadas Oriente. 

Os fatores ambientais, “como a qualidade do ar, interior e exterior, a poluição, fumo do tabaco, entre outros, são fatores conhecidos de agravamento o desencadeantes de sintomatologia alérgica”, continua a também membro do grupo de Anafilaxia e de doenças Imunoalérgicas Fatais da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunoalergologia Clínica. 

Deste modo, diz a médica, é possível que a poeira do Saara, por diminuir a qualidade do ar, “possa desencadear sintomas em doentes predispostos e que doentes com doença alérgica respiratória (rinite, conjuntivite, asma) possam ter agravamento da sua sintomatologia”.

Além das recomendações já dadas acima neste texto, Ana Castro Neves sugere, “sempre que possível, a utilização de óculos de sol no exterior, bem como a utilização de máscara, uma vez que esta ajuda a filtrar as partículas”.

Tenho de ficar em casa?

Se pertencer a um grupo de risco, a recomendação da Direção-Geral da Saúde (DGS) é para que fique em casa. Nestes dias de maior poeira, a DGS deixa alguns conselhos: evitar esforços prolongados; limitar a atividade física ao ar livre; evitar a exposição a fatores de risco, como o fumo do tabaco e o contacto com produtos irritantes. Os grupos vulneráveis devem manter-se ainda no interior dos edifícios e preferencialmente com as janelas fechadas.

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