A caça por planetas habitáveis pode ter ficado muito mais limitada

CNN , Jackie Wattles
29 out 2022, 16:00
Planeta

A caça por planetas capazes de suportar vida pode ter ficado drasticamente mais limitada.

Há muito que os cientistas esperam e teorizam que o tipo mais comum de estrela no nosso universo — chamada anã M — poderia hospedar planetas próximos com atmosferas potencialmente ricas em carbono, perfeitos para a criação de vida. Mas num novo estudo de um mundo na órbita de uma anã M a 66 anos-luz da Terra, os investigadores não encontraram indicação alguma de que um desses planetas conseguisse manter qualquer atmosfera.

Sem uma atmosfera rica em carbono, é improvável que um planeta possa ser habitado por seres vivos. Afinal, as moléculas de carbono são consideradas os blocos de construção da vida. E as conclusões não auguram nada de bom para outros tipos de planetas que orbitam as anãs M, disse a coautora do estudo, Michelle Hill, cientista planetária e aluna de doutoramento na Universidade da Califórnia, Riverside.

“A pressão da radiação da estrela é imensa, suficiente para fazer explodir a atmosfera de um planeta”, disse Hill numa publicação no website da universidade.

As estrelas anãs M são conhecidas por serem voláteis, lançarem erupções solares e fazerem chover radiação sobre os corpos celestes próximos.

Mas houve a esperança durante anos de que os planetas de grande dimensão na órbita de anãs M pudessem estar num ambiente habitável, próximos o suficiente da pequena estrela para se manterem quentes e grandes o suficiente para fixarem a sua atmosfera.

No entanto, a anã M próxima pode ser demasiado intensa para a atmosfera se manter intacta, segundo este novo estudo publicado na revista The Astrophysical Journal Letters.

Ocorre um fenómeno semelhante no nosso sistema solar: a atmosfera da Terra também se deteriora devido a explosões da sua estrela próxima, o Sol. A diferença é que a Terra tem atividade vulcânica suficiente e outras atividades emissoras de gases que substituem as perdas da atmosfera e tornam a deterioração praticamente indetetável, segundo diz a pesquisa.

Porém, o planeta da anã M que foi analisado no estudo, o GJ 1252b, “pode ter 700 vezes mais carbono do que a Terra, mas mesmo assim não tem atmosfera. Ela terá começado a formar-se, mas depois reduziu e erodiu-se”, diz Stephen Kane, coautor do estudo e astrofísico da UC Riverside, num comunicado de imprensa.

Onde começou e como está a correr

O GJ 1252b orbita a menos de 1,6 milhões de quilómetros da sua estrela hospedeira, chamada GJ_1252. Durante o dia, o planeta atinge temperaturas escaldantes até 1228 ºC, concluiu o estudo.

A existência do planeta foi inicialmente sugerida pela missão Transiting Exoplanet Survey Satellite, ou TESS, da NASA. Os astrónomos apontaram o Telescópio Espacial Spitzer, com quase 17 anos, àquela zona em janeiro de 2020 — menos de 10 dias antes de o Spitzer ter sido desativado para sempre.

A investigação para apurar se o GJ 1252b tinha atmosfera foi chefiada pelo astrónomo Ian Crossfield da Universidade do Kansas e envolveu uma coletânea de investigadores da UC Riverside, do Jet Propulsion Laboratory da NASA, da Caltech, da Universidade do Maryland, da Carnegie Institution for Science, do Max Planck Institute for Astronomy, da Universidade McGill, da Universidade do Novo México e da Universidade de Montreal.

Esta ilustração mostra um dos possíveis cenários para o exoplaneta quente e rochoso chamado 55 Cancrie, que tem quase o dobro da largura da Terra. Os dados do Telescópio Espacial Spitzer da NASA mostraram que o planeta tem oscilações de temperatura extremas.

Eles analisaram os dados produzidos pelo Spitzer, procuraram assinaturas de emissões ou sinais de que uma bolha gasosa pudesse envolver o planeta. O telescópio captou o planeta quando passou por detrás da sua estrela hospedeira, o que permitiu aos investigadores “verem a luz estelar quando passava através da atmosfera do planeta”, o que lhes deu “uma assinatura espetral da atmosfera” — ou da falta dela, disse Hill.

Hill disse ainda que não a surpreendia não encontrar sinais de uma atmosfera, mas ficou dececionada. Ela procura luas e planetas nas “zonas habitáveis”, e os resultados fizeram com que analisar mundos ao redor das omnipresentes anãs M se tornasse menos interessante.

Os investigadores esperam ficar ainda mais esclarecidos acerca deste tipo de planetas com a ajuda do Telescópio Espacial James Webb, o mais poderoso até à data.

Em breve, o Webb vai focar-se no sistema TRAPPIST-1, “que é também uma estrela anã M com um grupo de planetas rochosos ao redor”, indicou Hill.

“Há muita esperança de que nos consiga dizer se esses planetas têm atmosfera à sua volta ou não”, acrescentou ela. “Acho que os entusiastas das anãs M estão a suster o fôlego neste momento, até conseguirmos ver se há atmosfera à volta desses planetas.”

No entanto, continuam a existir bastantes sítios interessantes para procurar mundos habitáveis. Sem ser procurar planetas mais distantes das anãs M com maiores probabilidades de aguentarem uma atmosfera, há cerca de mil estrelas semelhantes ao sol relativamente perto da Terra que podem ter os seus próprios planetas a orbitar nas zonas habitáveis, como indica a publicação da UC Riverside acerca do estudo.

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