Uma "nova era". PKK anuncia o fim após décadas de conflito com a Turquia e dezenas de milhares de mortos

CNN , Jessie Yeung
12 mai, 20:17
PKK (Frederik Florian/AFP via Getty Images)

O Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) anunciou esta segunda-feira a sua dissolução, o que constituirá um passo histórico após décadas de conflitos com a Turquia que mataram dezenas de milhares de pessoas.

O grupo militante declarou em comunicado que “todas as atividades” realizadas sob o nome do grupo acabaram.

A questão curda chegou “a um ponto em que pode ser resolvida através de políticas democráticas”, afirmou o PKK num comunicado. O 12.º Congresso, uma reunião de alto nível de tomada de decisões do grupo, “decidiu dissolver a estrutura organizacional do PKK e pôr fim à luta armada”, diz o comunicado, acrescentando que a implementação do processo será gerida e dirigida pelo seu líder preso, Abdullah Ocalan.

A declaração não esclarece se a decisão se aplica a todas as filiais do PKK no Iraque, na Síria e no Irão, nem indica como será efetuado o desarmamento ou o que acontecerá aos combatentes existentes.

O grupo afirmou que “a reconstrução das relações turco-curdas é inevitável” e que a decisão foi também influenciada pelos “atuais desenvolvimentos no Médio Oriente”.

O grupo apelou ainda ao governo do presidente turco Recep Tayyip Erdogan e a todos os partidos políticos para que “assumam a responsabilidade e se juntem ao processo de paz e de sociedade democrática”.

A presidência turca afirmou esta segunda-feira que a decisão do PKK é uma indicação de que o “processo Turquia Livre de Terror” sob a presidência de Erdogan “ganhou força e chegou a uma fase importante”, acrescentando que todas as “medidas necessárias serão tomadas” para garantir que o processo avance.

O porta-voz do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), do presidente Erdogan, afirmou que a decisão poderá conduzir a uma “nova era”.

“Se o terrorismo acabar completamente, abrir-se-á a porta para uma nova era”, disse Omer Celik, acrescentando que “esta decisão deve ser implementada na prática e concretizada em todas as suas dimensões”.

Durante quase cinco décadas, a Turquia esteve em guerra com o PKK, fundado por Ocalan em 1978. Grande parte dos combates centrou-se no desejo do grupo de criar um Estado curdo independente no sudeste do país. Mas, nos últimos anos, o grupo tem vindo a reivindicar uma maior autonomia no interior da Turquia.

Em março, o PKK declarou um cessar-fogo imediato depois de Ocalan ter apelado aos combatentes para deporem as armas e dissolverem o grupo.

Estima-se que o conflito tenha matado pelo menos 40.000 pessoas.

O povo curdo tem tido uma relação complicada com Erdogan. O líder turco cortejou os curdos em anos anteriores, concedendo-lhes mais direitos e revertendo as restrições à utilização da sua língua. Em 2013, Erdogan colaborou com o Partido Democrático Popular (HDP), pró-curdo, no breve processo de paz com o PKK.

As conversações fracassaram e os laços azedaram em 2015. A guerra da Turquia contra o PKK conduziu a uma repressão generalizada nos últimos anos contra os partidos pró-curdos, acusados pelo Governo turco de terem ligações ao grupo e aos seus filiados.

Os curdos são a maior minoria da Turquia, representando entre 15% e 20% da população, segundo o Minority Rights Group International. Têm também uma presença significativa no norte da Síria, no norte do Iraque e no Irão.

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