Eis como as cobras pitões conseguem devorar veados, cabras e até jacarés

CNN , Christian Edwards
8 out 2022, 20:27
Uma pitão birmanesa nos Everglades da Florida engoliu um veado de 34 quilos. O Serviço Nacional de Parques procedeu a uma necropsia

A pele extremamente elástica à volta da mandíbula permite que a boca da pitão se estique ainda mais à volta da sua presa

A expressão “estou com tanta fome que podia comer um boi” não é uma mera expressão idiomática, pelo menos para a pitão birmanesa.

Há muito que se acredita que o tamanho da cabeça e do corpo da pitão lhe permite devorar presas tão grandes. Estas cobras enormes podem atingir cerca de 5,5 metros de comprimento e pesar até 90,7 quilos. Há testemunhas que já as viram a engolir veados, cabras e até jacarés.

Mas não é só o tamanho da pitão que determina o que consta na sua ementa, revelou um estudo recentemente publicado na revista Integrative Organismal Biology. O que mais importa é o tamanho da “abertura” da pitão, ou seja, o quanto ela consegue abrir a boca.

“Um equívoco comum destas cobras é que elas deslocam as suas mandíbulas para engolir as presas”, disse Bruce Jayne, professor de ciências biológicas na Universidade de Cincinnati e autor principal do estudo, à CNN.

“A característica principal das cobras é que elas têm maxilares com grande mobilidade, mas os maxilares não se deslocam.” Em vez de deslocar o seu maxilar antes de engolir a presa, a pitão devora os animais devido a um pedaço de tecido conjuntivo elástico que liga o seu maxilar inferior ao seu crânio. A estrutura óssea na parte da frente da boca também ajuda.

“Os ossos da esquerda e da direita não estão unidos (no queixo). Essa é uma diferença fundamental entre os nossos maxilares inferiores e os de uma cobra”, explicou Jayne.

A pele extremamente elástica à volta da mandíbula permite que a boca da pitão se estique ainda mais à volta da sua presa.

E, no final, a boca de uma pitão tem um último truque na manga. “Elas têm ossos adicionais no céu da boca, ao contrário dos nossos, que têm dentes”, acrescentou.

Enquanto os humanos têm uma fila de dentes laterais, as cobras têm esta fila lateral e uma que “corre no sentido longitudinal”, segundo Jayne. Estas filas de dentes “agitam para trás e para a frente”, arrastando as presas mais para o estômago.

Um jacaré americano e uma pitão birmanesa numa luta pela sobrevivência no Parque Nacional Everglades, na Florida

O seu impacto na vida selvagem

Os cientistas examinaram 43 pitões birmaneses eutanizados. A equipa mediu as suas bocas utilizando uma série de objetos de plástico impressos em 3D de tamanhos incrementais, de forma a medir o máximo que cada cobra podia abrir a sua boca.

A maior abertura tinha 22 centímetros de diâmetro. Apenas uma cobra tinha uma largura suficiente para engolir um objeto, uma pitão que media 4,3 metros e pesava 63,3 quilos.

Ao contrário das cobras, víboras e cascavéis, uma pitão birmanesa não é venenosa. Ela não mata a sua presa com a sua mordida, mas sim por asfixia, enrolando-se à volta da vítima e comprimindo fortemente os seus músculos para restringir o seu fluxo sanguíneo antes de a engolir.

Recentemente foi provado que as pitões são uma ameaça para os conservacionistas da vida selvagem nos Estados Unidos. O Parque Nacional Everglades, no sul da Florida, em tempos estava repleto de veados, guaxinins, gambás e raposas. Mas nos últimos anos têm sido vistos cada vez menos estes animais na área.

A razão? Pitões birmanesas

Consequentemente, isto levou ao regresso da iniciativa anual de conservação chamada Florida Python Challenge. Este evento atrai centenas de caçadores profissionais de cobras aos Everglades para caçar e matar os répteis não nativos. A Florida Fish and Wildlife Conservation Commission e o South Florida Water Management District organizaram pela primeira vez o evento de 10 dias em 2020, com o apoio de parceiros privados e sem fins lucrativos.

“O ecossistema de Everglades está a mudar constantemente devido a uma espécie: a pitão birmanesa”, disse o autor do estudo, Ian Bartoszek, numa declaração apresentada num comunicado à imprensa. Bartoszek é um gestor de projetos de ciência ambiental para a Conservancy of Southwest Florida.

De acordo com o website do Serviço Nacional de Parques dos EUA, há mais de uma década que os funcionários do Parque Nacional de Everglades têm vindo a investigar como remover eficazmente as espécies invasoras deste frágil ecossistema. Um estudo de 2012 mencionado pelo website sugeriu que o número crescente de pitões birmanesas, que provavelmente se estabeleceram no local quando as cobras cativas do comércio de animais de estimação foram libertadas, poderia estar ligado a severos declínios nas populações de mamíferos no habitat de Everglades.

O governador Ron DeSantis da Florida detém uma pitão no Desafio Python de 2021

Porém, o último estudo realizado por Jayne sugere que pode não ser apenas mamíferos mais pequenos a correr perigo devido à superpopulação de pitões, mas sim mamíferos muito maiores, incluindo veados e jacarés.

Os investigadores questionaram se existe mesmo um limite máximo possível na medida da abertura da boca de algumas das maiores pitões.

“É necessário ter sempre cuidado ao supor valores a partir dos seus dados e análise, mas não me surpreenderia se uma pitão birmanesa muito, muito grande pudesse provavelmente ter um diâmetro de 30 centímetros”, disse Jayne.

Será que isto significa que se uma pitão grande tivesse com muita fome, seria capaz de comer um boi? “Talvez um novilho”, disse Jayne.

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