Um quadro raro do célebre pintor Francis Bacon vai a leilão este mês, na Sotheby's London, pela primeira vez na história desta obra de arte
"Estudo para um Retrato de Lucian Freud", pintado em 1964, foi concebido como peça central de um grande tríptico – o formato artístico em várias partes predileto de Bacon – mas Bacon decidiu que as suas criações deveriam ser vistas como peças individuais. Os quadros captam intimamente o artista britânico Lucien Freud, que tinha sido amigo de Bacon e, mais tarde, em meados da década de 1980, se tornou inimigo. As três obras de arte foram expostas em conjunto, em Estocolmo e Hamburgo, pouco depois de concluídas, em 1965. Agora, um painel lateral pertence a um museu em Jerusalém e o outro a uma coleção privada.
O leilão daquela que já foi a pintura central terá lugar no dia 29 de junho, na leiloeira londrina, e os especialistas calculam que a obra possa chegar aos 35 milhões de libras (cerca de 40 milhões de euros). "Estudo para um Retrato de Lucian Freud" tem estado longe da vista do público, numa coleção de arte privada, nos últimos 40 anos, de acordo com a Sotheby's, que vai expor o quadro no fim de semana antes de ir a leilão.
A relação tumultuosa e bem documentada entre Bacon e Freud confere uma camada adicional de complexidade e valor à obra. Os dois conheceram-se em 1944 e dizia-se que eram inseparáveis até à década de 1980, quando foram consumidos pela rivalidade profissional. Várias gravações da época, partilhadas com o jornal britânico “The Observer”, em 2018, revelavam Bacon a ridicularizar abertamente a técnica de Freud. Em 1982, Freud e Bacon, dois pilares da arte contemporânea britânica, não se falavam. "Estudo para um Retrato de Lucian Freud", pintado décadas antes do desentendimento, é ainda mais melancólico, visto que se tornou o símbolo de uma amizade perdida.
Segundo Bella Freud, estilista e filha de Lucien Freud, o fim da amizade dos dois artistas lançou uma longa sombra sobre ambos que perdurou por muito tempo. "O Francis era claramente alguém que ele adorava e admirava. E não havia muitas pessoas de quem o meu pai falasse dessa forma", disse Bella num comunicado de imprensa. "As coisas que repetia sobre ele eram simplesmente deslumbrantes, totalmente desarmantes e incrivelmente maravilhosas, e silenciadas por causa do seu brilhantismo. Imagino que ele não se tenha apercebido disso, quando deixou de ser amigo dele."
As obras de Bacon costumam alcançar grandes valores em leilões, chegando a superar as avaliações feitas em pré-venda. Em 2020, a sua obra de 1981 intitulada "Tríptico Inspirado na Oresteia de Ésquilo" foi vendida por 84 milhões de dólares, superando a estimativa original de 60 a 80 milhões de dólares.
Há quase 10 anos, em 2013, outro tríptico de Lucien Freud de 1969 foi vendido por 142 milhões de dólares em apenas seis minutos e arrecadou o título de obra de arte mais cara alguma vez vendida em leilão. Este título pertence agora a "Salvator Mundi", de Leonardo Da Vinci, depois de o controverso quadro ter arrecadado 450 milhões de dólares, em 2017.