O militante número um do PSD morreu na terça-feira, aos 88 anos
O antigo Presidente da República António Ramalho Eanes elogiou esta quarta-feira o contributo de Francisco Pinto Balsemão para a democracia, destacando a sua ação como primeiro-ministro "numa altura de grande crispação", que acompanhou enquanto chefe de Estado.
Ramalho Eanes compareceu à noite no velório de Francisco Pinto Balsemão, no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, acompanhado pela mulher, Manuela Eanes, e falou aos jornalistas à saída da igreja.
O antigo Presidente da República elogiou o papel de Balsemão "na conquista da democracia" e "da liberdade e da independência da comunicação social" e na fundação do então PPD, atual PSD, "um partido extremamente importante na altura e ainda hoje".
"Como todos os homens, terá tido os seus defeitos e os seus erros, mas acho que a sua ação foi extremamente importante na luta pela democracia, e isso desde os tempos da Ala Liberal, na sua luta por uma democracia mais livre, mais autêntica, mais responsável", declarou.
Depois, Ramalho Eanes destacou a ação governativa de Balsemão, recordando o período em que coincidiram como Presidente da República e primeiro-ministro, entre 1981 e 1983.
Segundo Eanes, "foi particularmente importante" a ação de Balsemão como primeiro-ministro "numa altura de grande crispação, de grandes dificuldades" em Portugal, "e da qual ele se saiu com sucesso e desenvolveu com patriotismo".
O antigo chefe de Estado considerou ainda que Balsemão teve uma ação "notável na libertação e independência da comunicação social" e realçou a criação do Expresso e da SIC.
"Acho que se poderia dizer que a ação dele foi uma ação de excelência, e que também se poderá dizer, sem exagero, que ele tem direito a permanecer na memória dos portugueses", concluiu.
A seguir, Manuela Eanes quis "sublinhar que o doutor Balsemão teve sempre ao seu lado uma mulher que é um exemplo de dignidade, de espírito de solidariedade, de espírito de família", Mercedes Balsemão, "e que tem uma obra, que como sabem é a SIC Esperança, uma obra importante no aspeto social".
Francisco Pinto Balsemão, que assumiu a liderança do PSD e o cargo de primeiro-ministro a seguir à morte de Francisco Sá Carneiro, chefiou o VII e o VIII governos constitucionais, da AD, entre 1981 e 1983.
Quando chefiava o VIII Governo Constitucional, o terceiro da AD, Balsemão comunicou a decisão de deixar funções governativas, em setembro de 1982, seis dias após eleições autárquicas, declarando que tinha tomado essa opção "há muito". A demissão do primeiro-ministro levou Eanes a dissolver o parlamento.
Ao anunciar a sua decisão, Balsemão defendeu que se tinha atingido entretanto "a plenitude do regime democrático", com marcos como a revisão da Constituição, alcançados "apesar de muita oposição, de muita incompreensão e mesmo de algumas traições".
O antigo primeiro-ministro, fundador e militante número um do PSD, do qual também foi presidente, morreu na terça-feira, aos 88 anos.
Francisco Pinto Balsemão presidia ao grupo de comunicação social Impresa, do qual fazem parte o Expresso, que fundou ainda durante a ditadura, em 1973, e a SIC, primeira televisão privada em Portugal, criada em 1992.
Era membro do Conselho de Estado, órgão político de consulta do Presidente da República.