Cientistas criam pílula masculina que consegue impedir espermatozoides de nadarem até ao óvulo

15 fev 2023, 12:18
Espermatozóides (Getty Images)

Investigadores conseguiram inibir temporariamente enzima responsável pela mobilidade dos espermatozoides, lançando as bases para uma pílula masculina que não é hormonal e cujo efeito é reversível ao final de algumas horas

Um grupo de cientistas conseguiu descobrir um "interruptor" capaz de "desligar" o movimento dos espermatozoides, impedindo-os de nadar até ao óvulo da mulher e, assim, impedir a fecundação durante uma relação sexual. O estudo, que prevê um protótipo de pílula masculina assente nesta descoberta, foi agora publicado na revista Nature Communications e, caso os ensaios clínicos continuem a dar provas de eficácia, uma pílula masculina poderá em breve tornar-se uma realidade.

Esta pílula foi testada com êxito em ratinhos e não envolve hormonas, ao contrário do que acontece com a pílula feminina. Os cientistas assinalam que esta será, precisamente, uma vantagem deste contracetivo, uma vez que não interfere com os níveis de testosterona nem causará efeitos secundários por insuficiência da hormona masculina. 

A ideia dos cientistas, assinala a BBC, é que os utilizadores possam tomar um comprimido cerca de uma hora antes da relação sexual. O efeito da pílula será temporário: os testes em ratinhos mostraram que os espermatozoides ficam parados apenas durante algumas horas e que a eficácia do comprimido desaparece ao fim de um dia. Isto porque os cientistas conseguiram inibir temporariamente o funcionamento de uma enzima que é fundamental para a mobilidade do esperma, o adenilato ciclase solúvel.

Segundo o estudo, financiado pela agência do governo norte-americano dedicado à investigação na área da biomédica e saúde pública (US National Institutes of Health), uma única dose do medicamento, batizado de TDI-11861, imobilizou espermatozoides antes, durante e depois do acasalamento dos ratinhos.

Uma das investigadoras envolvidas no estudo, Melanie Balbach, garante que se trata de um contracetivo promissor, reversível e fácil de usar. Será agora testado em coelhos antes de os investigadores passarem aos ensaios clínicos em humanos: se tiver sucesso, os homens poderão tomar a pílula sempre que necessitarem e quiserem, ainda que este contracetivo não proteja das infeções sexualmente transmissíveis, tal como a pílula feminina. 

"Se os ensaios nos ratinhos forem replicados em humanos com o mesmo nível de eficácia, então esta pode muito bem ser a abordagem de um contracetivo masculino que procurávamos", disse à BBC Allan Pacey, professor de Andrologia na Universidade de Sheffield.

"A abordagem aqui descrita, eliminar uma enzima chave no esperma que é crítica para o seu movimento, é uma ideia realmente nova. O facto de que pode agir e ser reversível tão rapidamente é realmente empolgante", resumiu o especialista.

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