Personal trainer vs. fitness influencer: a formação faz a diferença

27 jul 2024, 11:00
Exercício físico (Getty Images)

Opção de escolher entre uma pessoa sem formação mas que mostra a sua evolução física ou uma pessoa especializada na área. Uma dualidade que tem inundado as redes sociais

“Isto é ilegal e devia ser denunciado”, “esta situação é grave, muito, muito grave!”. Foram estas as frases que uma personal trainer disse num vídeo, e que levaram ao início de uma discussão entre personal trainers e criadores de conteúdo fitness na rede social TikTok.

No vídeo, a tiktoker e personal trainer critica o facto de criadores de conteúdo venderem planos de treino sem qualquer tipo de formação, apenas com “base na experiência que têm de treino; experiência não tem nada que ver com ter capacidade ou não para prescrever exercício para outra pessoa”, afirmava.

A partir da publicação surgiram várias opiniões, tanto por parte dos profissionais como dos fitness influencers - o termo utilizado nas redes sociais para definir os criadores de conteúdo que têm como foco publicações relacionadas com atividade física, principalmente associadas aos ginásios.

Por um lado, personal trainers que acreditam que estes criadores de conteúdo sem formação estão a fazer algo errado - apesar de serem um exemplo por “atingirem o corpo dos sonhos”, não é por isso que conseguem criar um plano de treino para pessoas que necessitam. Por outro, os fitness influencers fazem algo que “adquire quem quer”, como muitos afirmam em publicações no TikTok.

Os planos de treino são apresentados como “personalizados, adaptados às suas necessidades”, algo que chama a atenção. Para Luís Cerca, doutorado em educação física e desporto e docente na área há 39 anos, os exercícios “são prescritos por achismo”, ou seja, não têm base em conhecimento, mas naquilo que quem vende estes planos acha que é o correto.

O docente e investigador do Centro de Investigação em Desporto, Educação Física, Exercício e Saúde da Universidade Lusófona (CIDEFES) considera que esta situação é “complicada, porque é uma democratização da profissão do exercício, sem conhecimento técnico para tal”.

A ausência de conhecimento científico na área pode levar a más experiências e, consequentemente, à desistência da prática de exercício, afastando as pessoas “da adesão continuada do exercício”, algo que “não deve ser lembrado só no verão”, acrescenta.

Para Luís Cerca, é essencial existir formação e continuar a investir nela mesmo exercendo, pois os profissionais estão a “trabalhar a máquina mais complexa que existe, o corpo, seja a componente física, seja a mental”.

“As pessoas acham que basta tirar um TEEF [curso de técnico especialista em exercício físico] ou uma licenciatura e não precisam de estudar mais, o que promove muitas pessoas com pouca qualidade”, afirma Bruno Cortez, personal trainer com licenciatura em educação física e desporto. Para o também criador de conteúdos, o investimento na área é aquilo que faz a diferença nos profissionais, mesmo após o fim da formação, “temos de ser muito autodidatas”.

Apesar de ter vários pontos negativos, esta situação também pode ser positiva para os profissionais da área. Para Paulo Piedade, técnico especialista em exercício físico e criador de conteúdo, os fitness influencers estão a contribuir positivamente para os profissionais da área. Ao inspirarem-se no que veem na Internet, as pessoas inscrevem-se nos ginásios, o que é favorável para quem lá trabalha, já que permite que “os personal trainers tenham mais pessoas para ajudar”.

Bruno Cortez acredita que as pessoas que procuram este tipo de serviços online não o fazem devido ao conhecimento daqueles que oferecem o serviço, mas pela ligação com a pessoa, “as pessoas procuram por sentimento”.

“Não quer dizer que o influencer tenha mais conhecimento na área do desporto, mas tem mais conhecimento de como usar a plataforma”. O personal trainer sublinha que o alcance das redes sociais é também um dos fatores que pode levar à aquisição de serviços online com pessoas sem formação, pois “um personal trainer com cinco mil seguidores não vai conseguir alcançar tantas pessoas como um influencer com 100 mil”.

Paulo Piedade aponta a ligação criada com os seguidores como uma das principais razões para as pessoas adquirirem os serviços com fitness influencers. “Além da ligação, as pessoas procuram o exemplo”, complementa.

Este novo cenário cada vez mais digital leva a que os personal trainers adaptem o seu conteúdo, utilizando outro tipo de linguagem “para as pessoas comuns, e não complicar para parecer mais inteligente”, completa Bruno Cortez, acrescentando que os profissionais estão a deixar a “maneira chata de falar e explicar”.

Tendências

Mais Tendências

Na SELFIE

Mais Lidas

Patrocinados