William Lai advertiu que o autoritarismo continua a expandir-se globalmente, colocando “sérios desafios” à ordem internacional
O Presidente de Taiwan, William Lai, apelou à China para que “renuncie ao uso da força ou da coerção” para alterar o status quo no estreito de Taiwan, visando preservar a paz na região do Indo-Pacífico.
“Se olharmos para trás, para a Segunda Guerra Mundial, veremos que muitos sofreram os horrores da guerra e a dor da invasão. Devemos aprender com essas lições e garantir que as tragédias da história nunca mais se repitam”, declarou Lai, num discurso proferido durante as celebrações do Dia Nacional.
Apontado por Pequim como um “independentista” e “provocador”, Lai advertiu que o autoritarismo continua a expandir-se globalmente, colocando “sérios desafios” à ordem internacional.
“O equilíbrio regional no estreito de Taiwan, no mar do Leste da China e no mar do Sul da China – e até a segurança de toda a primeira cadeia de ilhas – está sob grave ameaça”, afirmou, classificando Taiwan como um “elo crucial para a paz e estabilidade do Indo-Pacífico”.
A chamada “primeira cadeia de ilhas” é um conceito estratégico usado por militares e analistas para descrever o arco de territórios que se estende do Japão e das ilhas Ryukyu, passando por Taiwan e pelas Filipinas, até Bornéu, formando a primeira linha de contenção marítima ao largo da costa leste da China.
Para Pequim, essa cadeia representa uma barreira geopolítica imposta pela presença militar dos Estados Unidos e dos seus aliados na região; para Washington e Taipé, constitui uma zona crucial de defesa e dissuasão frente à crescente influência naval chinesa no Pacífico Ocidental.
A reunificação de Taiwan tornou-se um objetivo primordial no projeto de “rejuvenescimento da grande nação chinesa” do líder chinês, Xi Jinping.
Lai reiterou que Taiwan se compromete a manter o status quo, a garantir a estabilidade do estreito e a promover o desenvolvimento regional. O Presidente também reafirmou a meta de aumentar o orçamento de Defesa para 3% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2026 e 5% em 2030.
O discurso ocorre num momento de renovadas tensões entre Taipé e Pequim, intensificadas nas últimas semanas por divergências quanto à interpretação da resolução 2758 da ONU, aprovada em 1971. O texto reconheceu a República Popular da China como representante legítima de “China” nas Nações Unidas.
Pequim alega que a resolução legitima também a sua soberania sobre Taiwan, o que Taipé rejeita, acusando o Governo chinês de distorcer o conteúdo original para criar uma base legal que possa justificar uma eventual agressão militar contra a ilha.
As críticas do Governo chinês a Lai subiram de tom esta semana, com acusações de que o Presidente estaria a conduzir Taiwan para “uma situação perigosa de conflito militar” e a “enganar o povo taiwanês e a opinião pública internacional”.
“Temos a vontade firme, a determinação resoluta e a poderosa capacidade para esmagar qualquer ato separatista de ‘independência de Taiwan’ e qualquer ingerência externa”, advertiu na quarta-feira Chen Binhua, porta-voz do Gabinete para os Assuntos de Taiwan do Conselho de Estado chinês.
Taiwan anuncia novo sistema avançado de defesa aérea face à pressão da China
O Presidente de Taiwan, William Lai, anunciou hoje o desenvolvimento de um “rigoroso sistema de defesa aérea” para reforçar a proteção da ilha face à crescente pressão militar da China.
Durante o discurso nas celebrações do Dia Nacional, Lai revelou que o novo sistema, denominado T-Dome, vai estabelecer uma “defesa em múltiplas camadas”, com “deteção avançada e interceção eficaz”, formando uma rede capaz de “proteger a vida e os bens dos cidadãos”.
O chefe de Estado referiu ainda que o plano prevê a integração de “tecnologias de ponta e inteligência artificial” para construir um “sistema inteligente de combate defensivo”, com o objetivo de “maximizar a dissuasão eficaz” da ilha.
Taipé pretende igualmente continuar a investir em tecnologias “inovadoras” e aprofundar a cooperação com indústrias de defesa de países avançados, a fim de “reforçar as capacidades” do setor nacional de defesa.
“Taiwan, como parceiro de segurança fiável dos nossos amigos e aliados, será capaz de evitar em conjunto a cadeia de abastecimento ‘vermelha’ e de fomentar a confiança na área da defesa entre países livres e democráticos, ao mesmo tempo que constrói uma linha sólida de defesa para salvaguardar os valores da liberdade e da democracia”, afirmou Lai.
“Estamos determinados a manter a paz através da força”, sublinhou o líder taiwanês.
As declarações foram feitas no âmbito do Dia Nacional de Taiwan, que assinala a revolução republicana de 1911 e o derrube da última dinastia imperial chinesa, dando origem à República da China – nome oficial do governo sediado em Taipé. É habitual que os Presidentes usem esta ocasião para transmitir mensagens políticas de grande alcance.
Nas semanas que antecederam a data, intensificaram-se os atritos diplomáticos entre Taipé e Pequim em torno da resolução 2758 das Nações Unidas, aprovada em 1971, que reconheceu a República Popular da China como a única representante legítima da China na ONU.
Pequim sustenta que a resolução confirma também a sua soberania sobre Taiwan, interpretação que Taipé considera uma “distorção” usada para criar uma “base legal fictícia” que poderia justificar “uma futura agressão armada” contra a ilha.
O Governo chinês voltou esta semana a criticar duramente William Lai, acusando-o de conduzir Taiwan para uma “situação perigosa de conflito militar” e de “enganar o povo taiwanês e a opinião pública internacional”.
“Temos a vontade firme, a determinação resoluta e a poderosa capacidade de esmagar todos os atos separatistas de ‘independência de Taiwan’ e qualquer ingerência externa”, advertiu na quarta-feira Chen Binhua, porta-voz do Gabinete para os Assuntos de Taiwan do Conselho de Estado chinês.