Pepe dividiu as águas no Brasil (e ajudou a salvar Ederson)

24 fev 2023, 09:20
Pepe (Lars Baron - FIFA via Getty Images)

O central deu início, mesmo sem saber, a uma nova era na seleção brasileira, que depois de o ver brilhar com a camisola do Real Madrid percebeu que casos como este não podiam voltar a repetir-se: «Criámos um gabinete especial e não admitíamos perder mais potenciais grandes jogadores, como tinha acontecido com o Pepe»

Quim, Ricardo, Bosingwa, Miguel, Caneira, Paulo Ferreira, Bruno Alves, Fernando Meira, Jorge Andrade... e Pepe. No dia 30 de agosto de 2007, coincidentemente pela mão de outro brasileiro, o selecionador Luiz Felipe Scolari, Portugal anunciava que passava a contar com os serviços de um central ímpar, que não tardaria a ser histórico e vitorioso.

Cerca de duas semanas depois de obter a nacionalidade portuguesa, Kepler Laveran De Lima Ferreira, que vai completar 40 anos este domingo, deixava oficialmente de fazer parte dos eventuais planos da seleção brasileira. Defendia o Real Madrid e tinha sido um dos escolhidos para representar a Seleção Nacional diante de Polónia e Sérvia, no apuramento para o Euro-2008.

Na altura, a nada surpreendente chamada de Pepe, natural de Maceió, em Alagoas, e destaque nas épocas anteriores no FC Porto, praticamente passou despercebida no Brasil.

A seleção canarinha, vale a pena lembrar, tinha à disposição outros nomes de peso para o eixo defensivo, como Lúcio (Bayern de Munique), Juan (Roma), Alex (Chelsea), Luisão (Benfica), Cris (Lyon) e até começava a olhar para Thiago Silva, então jovem uma promessa do Fluminense.

Foram necessários cerca de seis anos para os adeptos e, sobretudo, os dirigentes brasileiros perceberem de vez que tinham deixado escapar um central de excelência.

Um divisor de águas.

Só em 2013 é que a Confederação Brasileira de Futebol reparou na situação de Pepe como um caso exemplar. Ficou então claro que o cenário não poderia mais repetir-se: perder um jogador de qualidade para outra seleção com grande projeção.

A dupla Gallo e Maurício Copertino, treinador e treinador-adjunto da seleção brasileira sub-20, respetivamente, ficou então com a missão de elencar e monitorar os mais diversos jovens nascidos no país, mas que estavam espalhados - e escondidos - pela Europa.

A longa pesquisa e o árduo acompanhamento tiveram efeito imediato, inclusivamente em Portugal, onde curiosamente Pepe tinha despontado.

Hoje indiscutível na baliza do Manchester City e presença constante nas convocatórias do Brasil, tendo participado nos últimos dois Mundiais (Rússia-2018 e Qatar-2022), Ederson foi descoberto desta forma.

Ainda nem sequer jogava no Benfica.

«O caso do Pepe sempre nos chamou a atenção. Era um tema frequente nas nossas conversas internas, nas nossas reuniões. Ele já jogava pela seleção portuguesa, brilhava no Real Madrid e tudo isso nos serviu de alerta. Era um expoente e passámos a usá-lo como exemplo do que não podia acontecer, para observar jovens brasileiros pelo mundo, atletas que tinham saído muito cedo para a Europa, até mesmo para Portugal, muitas vezes sem terem defendido equipas brasileiras. Criámos então um departamento especial para monitorar os brasileiros fora do Brasil», explicou Maurício Copertino, em entrevista ao Maisfutebol.

«Desta forma, garantimos vários jogadores, como, por exemplo, o Ederson. Na ocasião, ele ainda estava no Rio Ave. Cheguei a viajar para acompanhar alguns treinos e resolver a situação dele. Sinceramente, nem sabíamos que o Ederson existia. Como tinha idade olímpica, resolvemos fazer a convocatória dele em 2016. Foi um grande exemplo. Nós não admitíamos perder mais potenciais grandes jogadores, como tinha acontecido com o Pepe.»

Atualmente a ocupar o cargo de treinador da equipa sub-23 do Baniyas Sports Club, da primeira divisão do futebol dos Emirados Árabes Unidos, Copertino reconhece sem qualquer tipo de esforço que Pepe, campeão europeu (2016) e da Liga das Nações (2019) com Portugal, teria espaço na seleção brasileira.

«O Pepe é um central de alto nível, indiscutível na seleção portuguesa, teve anos de sucesso no Real Madrid e continua em alta no FC Porto. Teria todas as condições de lutar pelo seu espaço na seleção brasileira, que, no meu entendimento, ainda é a seleção que tem mais jogadores com qualidade por metro quadrado. Ele teria a concorrência forte do Thiago Silva, do David Luiz, do Marquinhos, de outros grandes nomes do passado recente, mas teria sim condições para entrar no grupo», finalizou.

Além de Ederson, o Brasil conseguiu nos últimos anos, através de pesquisas e monitoramento, garantir a convocatória de outros jovens na Europa, entre eles Rafinha Alcântara (ex-Barcelona e Celta de Vigo) e Andreas Pereira (ex-Manchester United e hoje no Fulham).

Houve, no entanto, casos de insucesso.

O ex-Sporting, e agora no Wolverhampton, Matheus Nunes chegou ser convocado pelo Brasil em 2021, recusou e logo na sequência escolheu representar Portugal. Para onde veio morar com 13 anos.

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