Dois outros agentes ficaram feridos no tiroteio em North Codorus Township, uma área a cerca de 185 quilómetros a oeste da Filadélfia
No final de agosto, uma carrinha estacionada na entrada de uma casa rural na Pensilvânia foi incendiada por um suspeito desconhecido. Embora a mulher que lá vivia suspeitasse que o ex-namorado tivesse cometido o ato, pediu à polícia para não investigar mais o incidente.
A mulher disse à polícia que apenas namorou com Matthew Ruth, de 24 anos, durante pouco tempo, que ele nunca tinha estado na sua casa e que nunca o convidou a ir lá, de acordo com funcionários do Condado de York.
Após semanas de alegado assédio, as autoridades dizem que a casa da mulher se tornou o local de um tiroteio entre Ruth e a polícia local que tentava executar um mandado de detenção contra ele, culminando na morte do atirador e de três detetives que tentavam proteger a mulher.
Dois outros agentes ficaram feridos no tiroteio em North Codorus Township, uma área a cerca de 185 quilómetros a oeste da Filadélfia, onde as casas estão separadas por extensas terras agrícolas.
Pouco antes da meia-noite de 16 de setembro, a mãe da mulher chamou a polícia depois de um homem com a descrição de Ruth ter sido avistado numa câmara de vigilância instalada fora da casa da mulher, de acordo com os resultados iniciais de uma investigação da Polícia Estadual da Pensilvânia.
Com uma espingarda tipo AR-15 presa ao peito, o homem na foto observava a casa com binóculos antes de desaparecer na noite, de acordo com o procurador do Condado de York, Tim Barker.
As autoridades dizem que a carrinha preta de Ruth também foi encontrada a cerca de 800 metros da casa.
Agentes do Departamento de Polícia Regional do Condado de Northern York e deputados do Departamento do Xerife do Condado de York vasculharam a área durante a noite, utilizando um drone para auxiliar na procura, disse Barker durante uma conferência de imprensa na quinta-feira.
“Apesar de vasculharmos durante várias horas, foi emitido um mandado de detenção (para Ruth),” revelou Barker.
‘Uma emboscada brutal’
Quando os agentes se aproximaram da quinta da mulher na tarde de quarta-feira, tomaram precauções, vasculhando cuidadosamente o local com um drone, conscientes de que Ruth poderia estar próximo.
Ao aproximarem-se da porta da frente, que tinha sido trancada pela mulher que fugiu para se proteger, descobriram que agora estava destrancada – e, ao entrarem, foram recebidos por uma chuva de tiros.
Os agentes foram identificados como o detetive sargento Cody Becker, o detetive Mark Baker e o detetive Isaiah Emenheiser, do Departamento de Polícia Regional do Condado de Northern York, segundo Barker.
“Assim que (os agentes) abriram a porta, (Ruth) disparou repetidamente contra eles com várias munições de uma espigarda estilo AR-15,” acrescentou Barker na quinta-feira. Becker, Baker e Emenheiser morreram no local.
O atirador avançou para a casa, onde mais dois agentes foram baleados e feridos.
As autoridades ainda estão a investigar os movimentos do atirador antes do tiroteio, mas salientam que este conhecia muito bem a casa, embora a ex-namorada tenha afirmado que ele nunca a tinha visitado.
“Ele vigiou cuidadosamente toda a residência e as áreas de anexos,” afirmou Barker, acrescentando que os agentes ainda investigam como o homem entrou na casa.
O homem também matou o cão da família da ex-namorada, segundo Barker.
“Além de descobrir os cartuchos iniciais de onde (Ruth) começou a sua atividade homicida, também descobriram na cave que ele tinha matado o Labrador preto que pertencia à mãe da sua ex-namorada,” revelou Barker.
Ambos os agentes permanecem hospitalizados, segundo Maggi Barton, porta-voz do Wellspan Health Hospital.
“Um dos dois pacientes sob os nossos cuidados teve o seu estado atualizado para satisfatório. O outro ainda está listado como crítico, mas estável neste momento,” revelou Barton.
Foram disparados pelo menos 30 tiros, segundo um vizinho. “Parecia uma zona de guerra, soava como uma zona de guerra,” contou Dave Miller à CNN.
Mesmo assim, um dos agentes feridos conseguiu retaliar e matar o atirador, disseram os responsáveis. Mas Miller, escondido no carro, ainda não sabia disso. O seu coração batia forte.
“Eu simplesmente não conseguia acreditar no que via,” contou Miller à CNN. “E depois olhei para todo o milho alto ao meu lado e pensei, ‘Bem, se eles não o apanharam, ele está em fuga e pode vir através do milharal.’”
Um dos homens que ainda estavam hospitalizados na quinta-feira era um agente do Departamento de Polícia Regional do Condado de Northern York, revelou a agência num comunicado no Facebook.
“Pedimos à nossa comunidade que mantenha estes agentes, as suas famílias e os seus colegas nas suas orações e pensamentos durante este período de luto inimaginável,” afirmou o departamento.
Quarta-feira foi um dos dias mais mortíferos para a polícia da Pensilvânia no último século, segundo a Associated Press. Em todo o país, 37 agentes da lei foram mortos no exercício das suas funções este ano, reportou o FBI.
‘Vi um corpo na estrada’
Ruth enfrentava acusações de perseguição, delinquência e invasão noturna, além de invasão criminosa no dia do tiroteio, segundo documentos do tribunal do condado de York.
Miller estava a caminho de casa quando viu mais de uma dúzia de polícias a procurar alguém num celeiro. Um agente que lançava um drone perto da estrada aconselhou Miller a continuar a circular, contou o vizinho à CNN. Quando estava a poucas centenas de metros do local, começaram os tiros.
“Então vi um corpo na estrada,” afirmou Miller. “Vi-o praticamente bater, bater no chão.”
O governador da Pensilvânia, Josh Shapiro, disse que ele e outros responsáveis se reuniram na quarta-feira com as famílias dos agentes mortos.
“Este é um dia absolutamente trágico e devastador,” disse aos jornalistas. “Precisamos de fazer melhor como sociedade. Precisamos de ajudar as pessoas que pensam que pegar numa arma é a solução para resolver conflitos.”
O tiroteio de quarta-feira acontece apenas meses depois de um agente ter sido morto durante um tiroteio com um homem que mantinha funcionários reféns num hospital no Condado de York. O atacante também foi morto.
“O luto será insuportável, mas vamos suportá-lo,” disse o comissário da Polícia Estadual da Pensilvânia, Coronel Christopher Paris, numa conferência de imprensa na quarta-feira, onde prometeu uma investigação completa e justa.
O FBI, juntamente com agentes do Departamento de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos, está a apoiar os responsáveis locais, disse a procuradora-geral dos EUA, Pam Bondi, num post no X na quarta-feira à tarde.
“A violência contra agentes da lei é uma praga na nossa sociedade e nunca é aceitável. Rezemos pelos agentes envolvidos,” acrescentou Bondi.
Estatísticas do FBI divulgadas no mês passado mostraram que o número de ataques reportados a agentes da lei em 2024 atingiu um máximo de 10 anos.
“Saber que três agentes foram mortos no Condado de York, onde trabalhei muitos anos como procurador, e onde ainda considero minha casa, é incompreensível,” escreveu o procurador-geral da Pensilvânia, Dave Sunday, num post no X.
“A morte de qualquer funcionário público é uma tragédia absoluta,” acrescentou Sunday no comunicado.
Na tarde de quarta-feira, os agentes tinham bloqueado estradas perto do celeiro e o Distrito Escolar de Spring Grove ordenou temporariamente que os alunos se protegessem nos edifícios, antes de suspender a ordem algumas horas depois.
Departamentos de polícia de toda a região ofereceram as suas condolências e as pessoas começaram a deixar flores na sede do Northern York Regional Police Department, reportou a Associated Press.
Dezenas de veículos policiais e de emergência com luzes intermitentes formaram também uma procissão na quarta-feira à noite para os três agentes mortos, enquanto pessoas alinhavam-se nas estradas a segurar bandeiras americanas e a prestar continência enquanto passava.
Esta reportagem foi escrita por Andy Rose em Atlanta e Karina Tsui em Hong Kong, com reportagens de Gabe Cohen em Spring Grove, Pensilvânia; John Miller em Nova Iorque; Josh Campbell em Los Angeles; Danya Gainor em Washington, DC; e David Williams e Amanda Musa em Atlanta.
