Aviso tinha como objetivo criar um grupo de trabalho para evitar problemas
A Red Eléctrica (REE) e a Comissão Nacional dos Mercados e da Concorrência (CNMC) alertaram, já em 2023, para o risco crescente de apagões no sistema elétrico espanhol devido a sobretensões perigosas, avança o El País. A advertência de que eram necessárias "medidas urgentes" constava de uma resolução publicada em novembro de 2023 no Boletim Oficial do Estado (BOE), na qual se reconhecia que os níveis de tensão na rede de transporte ultrapassavam os limites normativos, podendo levar à desconexão automática de centrais elétricas.
O cenário que culminou no apagão do passado dia 28 de abril, que deixou a Península Ibérica às escuras, já estava identificado nos relatórios técnicos. O documento da CNMC apontava que a REE não dispunha de ferramentas suficientes para evitar essas sobretensões e que os episódios de tensão excessiva se tinham triplicado entre 2021 e 2023.
"As tensões elevadas na rede poderem levar ao desligamento intempestivo das instalações ligadas à rede”, lia-se no texto de 13 de novembro de 2023, que acrescentava que os níveis de tensão eram "próximos ou mesmo acima dos valores admissíveis".
O aviso tinha como objetivo criar um grupo de trabalho para evitar problemas e que deveria atuar, principalmente, sobre duas zonas concretas: Galiza e Andaluzia.
Segundo o jornal, o CNMC validou então um projeto-piloto, que foi renovado no início de 2025 para recolher mais dados e que prossegue agora o seu trabalho.
O aumento da geração renovável, que não segue ordens de tensão em tempo real, e a redução da geração síncrona - como centrais térmicas ou nucleares - contribuíram para o desequilíbrio na rede que levou ao apagão. A queda da procura industrial e a maior presença de pequenas unidades de produção também foram apontadas como fatores críticos.
No dia do apagão, cerca de 15 gigawatts de geração elétrica - cerca de 60% da procura naquele momento - foram abruptamente desligados da rede.
Apesar de os riscos estarem identificados, as medidas recomendadas pelos técnicos ainda não foram totalmente implementadas. O Governo espanhol e a Redeia, holding da REE, admitem agora uma operação mais cautelosa, com menor peso das renováveis e maior recurso a ciclos combinados a gás.
As investigações continuam, sem conclusões definitivas previstas a curto prazo.