Governo admite privatizar a TAP em quatro anos. Interessados? “Há mais do que a Lufthansa”

22 dez 2021, 07:00

Pedro Nuno Santos revela que a TAP pode ser parcialmente privatizada durante o processo de reestruturação, até 2025. “No mercado global da aviação, a TAP não pode sobreviver sozinha”

A injeção de capital do Estado vai tornar a TAP ainda mais pública, mas o governo admite desde já a necessidade de integrar a companhia aérea numa aliança estratégica através de um processo de privatização a realizar ainda durante o plano de reestruturação agora aprovado por Bruxelas, e que dura até 2025.

“Achamos que a TAP tem de se enquadrar num grupo maior do que si própria. Não há nenhuma companhia de aviação, nomeadamente com a dimensão da TAP, que consiga sobreviver neste mercado altamente competitivo isoladamente.”

A afirmação pertence ao ministro Pedro Nuno Santos, que tutela a companhia e liderou as negociações com a Comissão Europeia, e foi proferida em entrevista exclusiva à CNN Portugal, esta terça feira à noite, horas depois de fechado o acordo para viabilizar a empresa. O custo da salvação da TAP para os contribuintes será de 3,2 mil milhões de euros.

“Não existe essa imposição” de privatizar por Bruxelas. Mas “o que existe é, também da nossa parte, a ideia muito clara que no mercado global da aviação a TAP não pode sobreviver sozinha, e que nós vamos ter de encontrar nos próximos anos uma parceria estratégica muito estreita para a TAP”, afirmou o governante. O processo “pode” decorrer até 2025. “Como é evidente”.

A Lufthansa chegou a entabular conversações para entrar no capital da TAP no início de 2019, interesse que caiu com a chegada da pandemia. Questionado sobre se veria com bons olhos que o futuro da TAP passasse de novo pela companhia alemã, Pedro Nuno Santos preferiu não falar “de potenciais interessados, porque há mais do que a Lufthansa.”

“Posso dizer que são vários grupos de aviação, e não só”, acrescentou.

“Achámos que se cometeu um grande erro não só na privatização como na forma como se fez e a quem se fez”, o norte-americano David Neeleman, que saiu da companhia após o choque provocado pela pandemia, após um conflito com o ministro das Infraestruturas. “Um dos problemas é que o acionista privado não tinha um cêntimo para meter na TAP.” E o que é que isto quer dizer? “Que qualquer parceria que se encontre no futuro tem de ser obviamente com grupos com dimensão, com solidez e consistente.”

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Numa eventual privatização, o valor injetado pelos contribuintes, de 3,2 mil milhões de euros, dificilmente será diretamente recuperado. Mas Pedro Nuno Santos defende que a conta não pode ser feita assim:

Esse é um ponto importante e um erro do debate político sobre a TAP. Nós temos estado a olhar para a TAP como empresa em si. Quando fizemos este investimento na TAP, não o estávamos a fazer como um banco que empresta uma empresa. Investimos numa empresa que tem um impacto macroeconómico brutal.”

Ou seja, parte do retorno do investimento do Estado na TAP é indireto, no efeito que produz na economia. “A TAP é uma empresa que exporta três mil milhões de euros. É uma empresa que compra 1.300 milhões de euros a mais de mil empresas. É uma empresa tão importante para a economia nacional que nós entendemos que era um desastre para a economia portuguesa perdermos a TAP.”

“Estamos a capitalizar uma empresa que vai valer no momento em que se fizer qualquer negócio, [então] a empresa tem valor. Estamos a fazer uma injeção que, do ponto de vista da Comissão Europeia, faz sentido do ponto de vista do mercado e do valor da empresa. Quer dizer que a Comissão Europeia entende que a TAP é uma empresa potencialmente valiosa. E que justifica este montante tão elevado.”

É por isso que Pedro Nuno Santos concorda que o investimento na TAP “é um mal menor, nós não gostávamos de injetar dinheiro na TAP”.

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