Segunda-feira, 18 de dezembro, Pedro Nuno Santos foi convidado da Fundação Ilídio Pinho para explicar a empresários e industriais do Norte o que quer fazer se vier a ser primeiro-ministro
Pedro Nuno Santos tinha celebrado a vitória nas eleições internas no PS no sábado à noite, em pleno Largo do Rato em Lisboa, mas não perdeu tempo para se sentar à mesa de um grupo de eleitores que está longe das suas ideias políticas e será provavelmente o mais difícil de convencer. O novo secretário-geral socialista almoçou na segunda-feira no Porto, na Fundação Ilídio Pinho, com alguns dos mais relevantes empresários e industriais do Norte. O objetivo do almoço era simples: Conhecer afinal quais são os projetos de Pedro Nuno Santos se vier a ganhar as eleições de 10 de março.
A desconfiança do setor empresarial em relação a Pedro Nuno Santos não é de hoje. Se apreciam o estilo do ‘político que faz’, rejeitam sem ambiguidades o lado “radical”, como dizia um dos convivas neste almoço. E com uma preocupação particular: A possibilidade de o PS levar o BE para o Governo, com pastas ministeriais para as principais figuras do partido como as “as manas mortágua”, Mariana Mortágua e Joana Mortágua, com uma agenda de intervencionismo e estatização da economia. Ilídio Pinho, um dos grandes empresários industriais, foi o anfitrião, mas participaram nomes como António Rios Amorim, Humberto Costa Leite, Domingos Matos ou Adalberto Neiva de Oliveira, de um grupo que terá juntado uma dúzia de empresários à mesa e personalidades do meio académico.
Oficialmente, ninguém confirma o repasto, mas o ECO sabe que o encontro foi franco e direto, e os empresários presentes fizeram saber a Pedro Nuno Santos, olhos nos olhos, as suas preocupações relativamente à geringonça. O novo secretário-geral do PS terá recusado a crítica de que é um “esquerdista”, garantiu num registo bem humorado que não vai “nacionalizar” empresas e fez questão de dizer que o PS poderá dispensar a geringonça se vier a ter uma vitória clara a 10 de março. Uns terão saído mais convencidos do que outros, mas terá servido para Pedro Nuno Santos fazer a aproximação ao setor empresarial, para aparecer como um líder moderado. A narrativa sobre as suas origens, filho de empresário, foi também ouvida neste encontro.
De resto, tendo em conta o sentimento de urgência da classe empresarial em relação à possibilidade de regresso da geringonça, e desta vez com bloquistas no Governo, há já empresários a dizerem em público o que muitos dizem apenas, e ainda, em privado. Em entrevista ao ECO, José Manuel Fernandes, um dos empresários históricos da indústria metalúrgica, foi claro nos recados. “Se, porventura, o país vier a encaminhar para uma geringonça de esquerda, posso dizer-lhe que isso vai gerar uma instabilidade muito forte na economia. Não tenho dúvida nenhuma. A experiência anterior, para nós, empresários, foi negativa. Completamente. Tomaram-se medidas não balanceadas, não equilibradas no fator economia, no fator empresa e na parte da coesão social (…) Agora, a nossa visão, que traduz o sentimento geral, é que os empresários não querem uma nova geringonça de esquerda. De maneira nenhuma. Isso vai afetar a atitude investidora dos nossos empresários. O recado está dado“, afirmou o presidente do Conselho Geral da AEP.
Curiosamente, depois do almoço na Fundação Ilídio Pinho, Pedro Nuno Santos fez a sua primeira visita oficial (e pública), estaleiros da CP em Guifões, Matosinhos, no distrito do Porto, para ‘vender’ o trabalho na ferrovia. “Esta atitude perante a governação, que é o fazer, o concretizar, é uma das nossas grades marcas, o país não pode estar sistematicamente a arrastar os pés, tem que avançar e nós temos esta capacidade de fazer avançar o país e a ferrovia é um desses sinais”, disse. No entanto, o ex-ministro das Infraestruturas admitiu que “não está tudo bem na ferrovia, há muito caminho ainda para fazer” e que o país está “muito longe” de ter a ferrovia que ambiciona.