*Enviado Especial da CNN Portugal aos EUA
Em Portugal gostamos de ser poupadinhos. O dinheiro nunca é investimento, é sempre gasto. E se mete política, então, é regra da casa que se deixem os cordões da bolsa fechados que isto é gente em quem não se pode confiar.
Falar de bons salários para políticos é tabu e até o nosso Presidente faz jurisprudência das campanhas baratinhas.
Ora, falando em campanhas e Presidentes, por aqui a conversa é outra.
Dinheiro nunca é problema porque flui como um rio de champanhe nas faustosas recolhas de donativos. E isso dá jeito porque uma campanha na América não é cara, é caríssima.
Quer ver?
Desde o princípio deste ano, só em anúncios para passar nas rádios e televisões locais, os dois partidos e os grupos que os apoiam já gastaram qualquer coisa como, prepare-se, 8 mil milhões de dólares. Eu vou repetir, agora com conversão: quase oito mil milhões de euros em anúncios para passar nas televisões, para tentar convencer eleitores.
A liderança nos gastos vai para os democratas, que gastaram quatro bis e meio a impulsionar Kamala (e outros candidatos do partido que concorrem noutras eleições) contra os 3,5 bis que saíram dos cofres do Partido Republicano.
E quase metade desta fortuna foi gasta especificamente em 3 estados que podem fazer a diferença entre a vitória de Kamala ou a vitória de Trump: a Pensilvânia, que conquistou a maior fatia, o Michigan e o Wisconsin.
Um verdadeiro jackpot a beneficiar, sobretudo, as televisões locais que, em ano de eleições, sabem que lhes vai sair sempre a sorte grande e a terminação.
Precisamente por vir de um país poupadinho, não deixo de me impressionar com a banalidade com que eu próprio escrevi quatro mil milhões para ali, três mil milhões para aqui. Mas por aqui é mesmo assim.
Esta é uma festa despudoradamente milionária, porque o que está em jogo (pelo menos até ver) é demasiadamente importante para ser deixado à sorte ou às contas de merceeiro.
Na primeira versão deste texto cheguei a pôr como título “A festa milionária da democracia”. Mas, em bom rigor, não é só pela democracia que se gasta este dinheirão.
O que isto também nos mostra é como nos Estados Unidos não há quaisquer escrúpulos em financiar a política com os interesses que vêm sempre colados ao dinheiro privado.
E ainda é preciso olhar para a forma como este montante está, na prática, a ser aplicado. Esse é todo um problema sobre o qual falarei daqui a uns dias.