Pedro Abrunhosa espera que o Parlamento o defenda após ter sido ameaçado pela Rússia e revela que recebeu apoio "pessoal e institucional" de António Costa

26 jul 2022, 07:00

‘Vladimir Putin, go fuck yourself’”: esta é a frase do músico que espoletou uma polémica diplomática entre Portugal e a Rússia. "Isto não é um assunto pessoal, é um assunto nacional", diz Pedro Abrunhosa - que volta a lamentar que o adido russo não tenha sido expulso

Quando, durante um concerto em Águeda, no início do mês, Pedro Abrunhosa emitiu a sua opinião sobre a guerra na Ucrânia e lançou um "Vladimir Putin, go fuck yourself", nunca imaginou que iria ser ameaçado pela própria embaixada da Rússia  - que em comunicado avisou que a voz do músico “se ouviu nos corredores do poder russo e que as autoridades daquele país ficarão atentas às atividades do músico”. 

"Para nós que vivemos em democracia isto é muito inesperado", diz Pedro Abrunhosa à CNN Portugal. "A reação da embaixada da Rússia é um claro exagero, é um delírio de quem vive numa bolha ditatorial e está habituado a dizer o que quer sem ter consequências. Mas isto é muito grave. Quando uma embaixada ousa emitir um comunicado neste tom, a fazer ameaças a um cidadão do país onde está, isto é muito grave e era importante que a sociedade civil tomasse consciência disso."

Por esse motivo, o músico considera importante a proposta da Iniciativa Liberal para que o Parlamento manifeste um "protesto veemente" contra o comunicado da embaixada da Rússia em Lisboa, considerando que se tratou de “um atentado inaceitável à liberdade de expressão”. Sobre o apoio que recebeu por parte das instituições políticas, faz uma revelação: "Houve uma tomada de posição muito clara por parte do Ministério dos Negócios Estrangeiros. E recebi o apoio pessoal e institucional do primeiro-ministro e de outros membros do Governo. Não estou descontente. Mas se estivéssemos num país onde a cultura é levada mais a sério, talvez a reação tivesse sido mais dura". E vai mais longe: "Parece-me que o embaixador da Rússia deveria ter sido chamado para dar explicações - ao ministro dos Negócios Estrangeiros ou ao primeiro-ministro. Já para não falar  da expulsão do adido que teve a ousadia de emitir o comunicado naquele tom" - algo que já tinha defendido em entrevista à TVI.

Pedro Abrunhosa lembra que o PAN e a Iniciativa Liberal emitiram comunicados sobre o caso, mas "era importante saber o que pensam os outros partidos, nomeadamente o partido que está no poder e o principal partido da oposição". "Quando eu digo que a sociedade civil devia tomar posição, os partidos estão à cabeça, são instituições da sociedade civil", sublinha.

"Isto não é um assunto pessoal, é um assunto nacional. Pode não se gostar da música, pode não se simpatizar com a figura - não é isso que está em causa. Eu sou um artista que estou em palco, a trabalhar, sou um autor a manifestar as minhas ideias e sou ameaçado - há uma embaixada que diz que me vai vigiar e que vou ter represálias. Isto é demasiado grave para que os partidos não saiam da sua caixa, do seu conforto e não venham para a Assembleia da República e para a praça pública manifestar-se", sublinha.

"O país vive num estado de não-agitação e na verdade aqui ao lado há uma guerra violentíssima. Isto é uma questão que toca a todos. No momento em que a Rússia consegue que os partidos portugueses e os artistas portugueses se calem, então já não precisam de invadir o país porque o país já foi invadido. O silêncio sempre foi cúmplice dos tiranos."

Num concerto em Águeda, a 2 de julho, o músico falou sobre a guerra na Ucrânia, antes de começar a cantar o tema “Talvez Foder”, no qual aborda questões como a guerra, a fome e o fascismo. “Não podemos, nem vamos esquecer, que a Europa vive uma guerra. E a guerra mais estúpida de todas, uma guerra perfeitamente evitável, uma guerra de ódios, uma guerra em que famílias como as nossas todos os dias têm de fugir”, afirmou na altura. Lembrou que também “há quem não fuja e numa ilha da Ucrânia um marinheiro respondeu a um apelo de um barco russo dizendo: ‘Barco russo, go fuck yourself’, que é como quem diz ‘russian boat …’, que é como quem diz ‘Vladimir Putin, go fuck yourself’”.

"É uma frase dura", admite Pedro Abrunhosa. "Mas mais duros são os bombardeamentos que acontecem todos os dias a esventrar mulheres e crianças inocentes."

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