As pedras preciosas pouco conhecidas, como as espinelas e as turmalinas Paraíba, estão a ganhar destaque no mercado das jóias, conquistando colecionadores com a sua beleza vibrante, raridade e preços crescentes, enquanto oferecem alternativas únicas às tradicionais "quatro grandes".
Em 2016, a joalheira Olivia Young, da Ouroboros, vendeu um anel com espinela vermelha por seis mil libras (cerca de 7.060 euros). No ano passado, a seguradora do cliente pagou 30 mil libras (cerca de 35.300 euros) para substituí-lo. Especialistas afirmam que esta pedra preciosa, antes negligenciada, está a aumentar rapidamente a sua popularidade e valor, à medida que os colecionadores procuram além das chamadas “quatro grandes” (diamantes, esmeraldas, rubis e safiras) por pedras mais acessíveis e de nicho, que podem ser um investimento inteligente.
Encontradas no Sri Lanka, Myanmar, Vietname, Afeganistão, Tajiquistão e em alguns países africanos, as espinelas apresentam-se numa ampla gama de cores, desde azul vibrante, rosa e vermelho até cinzento, verde e roxo. Até serem devidamente identificadas no século XVIII, as espinelas vermelhas eram chamadas de rubis; o "Rubi do Príncipe Negro" de 170 quilates, na parte frontal da Coroa Imperial de Estado das Joias da Coroa Britânica, é, na verdade, uma espinela. Em 2015, a casa de leilões Bonhams vendeu a espinela Hope de 50.13 quilates por um recorde mundial de 962.500 libras (cerca de 1,13 milhões de euros) — mais de seis vezes a sua estimativa — ajudando a catapultar a pedra para a consciência pública.

“Historicamente, as espinelas eram vistas como menos importantes e, por isso, mais acessíveis, mas estão a tornar-se cada vez mais desejáveis” diz Jennifer Tonkin, codiretora de joalharia da Bonhams, por email. Destaca que as espinelas “vermelho bombeiro” e rosa-choque de Burma, bem como os exemplares rosa-claros do Tajiquistão, são os mais procurados pelos conhecedores. Rahul Kadakia, chefe internacional de joalharia na Christie’s, concorda que as espinelas rosas e roxas “continuarão a valorizar no mercado,” acrescentando que exemplares de qualidade elevada podem ser vendidos por até 23 mil euros por quilate.
“O aumento dos preços das ‘quatro grandes’ gemas levou os compradores a explorar alternativas não convencionais,” afirma Kadakia por email, mas explica que a apreciação pelas cores ricas das espinelas não é novidade. “Afinal, foram uma das gemas favoritas dos governantes Mogóis".
Uma questão de ética
A joalheira londrina Lily Gabriella apresenta espinelas em várias tonalidades nas suas coleções de edição única para colecionadores. Ela observa um “aumento notável” nos preços, refletindo “tanto o apelo estético quanto a raridade” destas pedras, diz, acrescentando que as espinelas são “frequentemente extraídas de operações de pequena escala, apresentando menos preocupações éticas em comparação com outras pedras.”
Charles Abouchar, diretor da Abouchar SA, uma empresa sediada em Genebra que expõe na feira comercial Gem Genève, diz que a crescente procura por pedras coloridas levou à escassez de exemplares de qualidade, fazendo os preços dispararem. “Como os rubis, safiras e esmeraldas se tornaram muito caros e escassos, as pessoas começaram a comprar outras pedras preciosas que antes eram mais acessíveis, fazendo os preços subir significativamente” esclarece. “As espinelas e as turmalinas Paraíba têm registado um aumento constante na procura na última década.”

Originalmente descobertas nos anos 1980, numa mina agora esgotada no estado brasileiro Paraíba, esta variedade outrora de nicho de turmalina distingue-se pelo seu tom turquesa elétrico, resultado de vestígios de cobre. Especialistas estimam que apenas uma turmalina Paraíba é extraída para cada 10 mil diamantes — e, enquanto tons semelhantes são encontrados em Madagáscar, a escassez das pedras brasileiras fez os preços dispararem.
Na Bonhams, Tonkin afirma que os preços das turmalinas Paraíba de alta qualidade atingiram 71 mil euros por quilate em 2022, em comparação com 4.500 euros por quilate em 2009. Roberto Boghossian, sócio-gerente da joalharia Boghossian, acrescenta que o preço das turmalinas Paraíba duplicou nos últimos três a cinco anos, o que ele atribui à sua “raridade, beleza e apelo duradouro,” descrevendo o seu brilho néon como “uma alternativa refrescante às pedras preciosas mais tradicionais.”
Moti Ferder, fundador da Lugano Diamonds, começou a trabalhar com turmalinas Paraíba há mais de 20 anos. “Há uma atração inegável por elas — são muito raras e absolutamente hipnotizantes”, explica. Ferder prevê um crescimento contínuo no valor à medida que a procura aumenta e a oferta diminui, “tornando-a uma das pedras preciosas mais cobiçadas e valorizadas do mercado.”
E se já não puder pagar uma Paraíba? Olivia Young está a comprar o máximo possível de turmalinas do Afeganistão, porque esses depósitos mais recentes oferecem “um material incrivelmente bonito e bicromático, azul-esverdeado numa direção e verde-grama a 90 graus,” descrevendo-as como “as pedras preciosas mais requintadas e vibrantes que já vi.”

De forma semelhante, a gemóloga e fundadora da Minka Jewels, Lucy Crowther, considera as turmalinas azul-esverdeadas a escolha dos conhecedores, tendo-as descoberto pessoalmente na Índia há 15 anos. “Estas pedras incrivelmente vibrantes e limpas despertaram algo em mim,” admite. Agora, procura exemplares de alta qualidade para anéis de noivado não convencionais e anéis de cocktail coloridos. “Com os diamantes de laboratório a tornarem-se cada vez mais populares, as pedras preciosas coloridas são uma ótima escolha para quem quer destacar-se e ter algo natural que também seja único.”
Crowther e Young estão ambas empenhadas em educar os clientes de que há mais na vida além das “quatro grandes.” “Acredito, de forma geral, que as turmalinas de material de alta qualidade e tamanhos significativos vão disparar em popularidade,” diz Young. “Há uma quantidade finita desse material incrível, e é excecionalmente bonito, por isso só consigo imaginar a sua popularidade a explodir.”