“Ninguém cá fica para semente”, diz Jerónimo. Mas, para já ataca PS e promete campanha nas ruas

Agência Lusa , NM
31 dez 2021, 09:54
Jerónimo de Sousa

O secretário-geral do PCP considera que António Costa “não está empenhado nessa convergência em torno de coisas concretas”

O líder do PCP admitiu ser difícil reeditar um acordo à esquerda, como o da geringonça, após as legislativas de 30 de janeiro, e criticou o PS e António Costa por não estarem interessados nessa convergência.

Em entrevista à agência Lusa, a propósito das legislativas de 30 de janeiro, Jerónimo de Sousa afirmou que a repetição da solução política à esquerda que foi criada em 2015, depois da vitória da direita nas eleições, mas sem maioria no parlamento, “não é previsível que se concretize” e culpou o PS.

Pelos “objetivos programáticos, pelas declarações que têm sido feitas” pelos socialistas, afirmou ainda, o partido liderado por António Costa “não está empenhado nessa convergência em torno de coisas concretas”, dando exemplos do passado recente que levou ao voto contra do PCP no Orçamento do Estado para 2022, no parlamento.

“E esta é uma dificuldade objetiva. O PCP não se bate por lugares. O povo português é que decidirá o futuro”, declarou.

Apontando aos socialistas, o secretário-geral dos comunistas criticou a “política de direita” que, acusou, o PS tem seguido e que sintetiza numa frase: “Há cada vez menos para quem trabalha e quem trabalhou, e [há] mãos rotas particularmente para o grande capital, designadamente financeiro.”

Jerónimo recusa a ideia de que a experiência dos últimos cinco anos tenha sido “um parêntesis” – ideia defendida pelo ministro socialista Pedro Nuno Santos, conotado com a ala esquerda do PS – e afirma-se disposto a convergências à esquerda, mas tendo em conta os “conteúdos concretos”, advertindo, à partida, que “não contem” com o PCP para apoiar um “governo que continue a praticar uma política de direita”.

Entre os objetivos, além dos eleitorais – mais votos e mais deputados –, o líder comunista promete “lutar” pelos “salários e direitos, proteção social” e colocar a produção nacional e o reforço do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

É preciso, reforçou, “pôr Portugal a produzir como uma ideia-força só comparável com a necessidade do reforço do SNS”.

Como tem vindo a dizer nas últimas semanas, Jerónimo afirmou que, antes do chumbo do Orçamento, na origem da antecipação das legislativas, António Costa e o PS quiseram as eleições e corresponsabilizou Marcelo Rebelo de Sousa por ter estado “ao lado daqueles que defendiam eleições e não soluções para o país”.

A antecipação das legislativas “não tem grande fundamento a não ser porque o PS também quis estas eleições” e essa é “uma responsabilidade clara do Presidente da República”.

Jerónimo promete campanha nas ruas e afasta despedida

O secretário-geral do PCP garantiu que vai fazer uma campanha eleitoral de contacto nas ruas, dentro dos constrangimentos provocados pelo agravamento da pandemia, e descartou que estas sejam as legislativas da despedida.

Nas eleições autárquicas a campanha de Jerónimo de Sousa foi mais resguardada do que o habitual, com menos contacto com a população pelas ruas. De outubro para agora houve um agravamento da situação pandémica, que deverá persistir até às eleições de 30 de janeiro.

Questionado, em entrevista à agência Lusa, a propósito das eleições legislativas, sobre o que é possível esperar da campanha, o secretário-geral comunista assegurou a presença nas ruas e o contacto com os eleitores, dentro do possível por causa da pandemia.

“Vamos procurar fazer uma campanha pela positiva, com um sentido de esperança, de confiança, vivendo com essa situação sanitária que nos inquieta a todos, mas há que combater o medo”, completou.

Na ótica do dirigente do PCP, há um sério “risco de haver um grau de abstenção significativo” se a preocupação em relação à pandemia “se transformar em medo”. Para que isso não aconteça, Jerónimo de Sousa disse que tem de haver uma comunicação das medidas e da severidade da pandemia eficaz por parte do Governo, para que o pânico não se instale.

A CDU não vai prescindir, prosseguiu, da uma campanha eleitoral junto das populações, apesar dos constrangimentos com a pandemia.

“Não é incompatível esta articulação entre cuidados de proteção de cada um e de todos, e, simultaneamente, não abdicar de direitos fundamentais, designadamente o exercício da política e da batalha eleitoral (…). Da parte do PCP não haverá nenhuma medida que vise impedir a luta política que o exercício da democracia por parte do povo pode ser feito”, elaborou.

É o quinto mandato de Jerónimo de Sousa enquanto secretário-geral do partido, o último renovado em 2020. É o deputado à Assembleia da República com mais anos 'de casa' e foi também eleito deputado à Assembleia Constituinte, em 1975, um ano depois da filiação no PCP.

Questionado sobre se antevê que esta possa ser a última campanha eleitoral às legislativas, o dirigente comunista respondeu que “um dia será”, mas esse dia não é já.

O momento atual é de “uma tranquilidade imensa” e Jerónimo de Sousa confessou que dentro do próprio Comité Central há um incentivo e acompanhamento constante dos restantes membros.

No entanto, “ninguém cá fica para semente”, reconheceu.

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