A "ilusão", a "narrativa" e o "plano do PS": João Oliveira rejeita responsabilidades comunistas na maioria absoluta socialista

2 fev 2022, 00:59

O dirigente e ex-deputado comunista não tem dúvidas que exista uma "estratégia socialista" clara e que já tinha vários meses: "O PS fez cálculos à possibilidade de ter uma maioria absoluta e provocou a não aprovação do Orçamento do Estado para obter essa maioria"

Depois de ver o grupo parlamentar da CDU cair de 12 para 6 deputados, naquele que foi o pior resultado na história da coligação, o PCP rejeita culpas pelo mau resultado nas eleições legislativas de 30 de janeiro. De acordo com o dirigente comunista João Oliveira, não havia nada que pudesse ser feito pelos comunistas: "O que é que nós podíamos fazer mais?", questionou em entrevista à CNN Portugal, apontando a luta política dos "últimos meses".

Foi assim que o até aqui líder da bancada parlamentar do partido respondeu, apontando depois responsabilidades ao PS, partido que acusou de "apropriação" de propostas e da "ação e iniciativa" da CDU.

Maioria absoluta: o "plano" socialista com mais de três meses

O antigo líder parlamentar da bancada comunista alerta que, quando o novo Governo socialista entregar o próximo Orçamento do Estado, acabará por ser "aquilo que o PS apresentou há três meses [proposta de Orçamento que acabou chumbada no Parlamento]". "Foi o primeiro passo para a maioria absoluta." João Oliveira insiste que o PS premeditou todo o enredo que culminou na maioria absoluta.

"O PS fez cálculos à possibilidade de ter uma maioria absoluta e provocou a não aprovação do Orçamento do Estado para obter essa maioria, sobretudo assente naquele discurso de vitimização que todos ouvimos. Esse objetivo estava associado ao objetivo de se desfazer da influência do PCP e da CDU.”

O ex-deputado argumenta que com a última proposta do PS os aumentos nas pensões, o aumento do salário mínimo, as modificações no Serviço Nacional de Saúde e os apoios à habitação continuariam a ser apenas miragens distantes nesta altura do ano e questiona: “O que é que os portugueses hoje diriam se aquele Orçamento tivesse sido aprovado?”.

O dirigente comunista refere que três fatores possibilitaram o resultado eleitoral que acabou por se verificar: "o discurso de vitimização do PS"; a "influência das sondagens, que davam um empate técnico entre o PS e o PSD", que acabaram por fomentar o “agigantamento desse medo” de uma vitória do PSD e dos tempos da troika; e a ideia de que o voto no PS poderia significar uma continuidade dos avanços que foram feitos ao longo das últimas duas legislaturas. “Tudo isso criou uma grande ilusão relativamente ao voto no PS.”

Está o PCP isento de responsabilidades neste desfecho político?

João Oliveira lembra que desde que o Orçamento do Estado de 2022 foi chumbado que o PCP tinha vindo a alertar para a "estratégia socialista". Para o ex-deputado, o PS tinha um único objetivo há vários meses: "a maioria absoluta".

O dirigente comunista retira assim o PCP de responsabilidades maiores e questiona: “O que podíamos fazer mais do que explicar aquilo que explicámos durante este tempo todo relativamente ao curso que teve a situação política nos últimos meses?”.

Perante o novo cenário político nacional, João Oliveira lembra que nem tudo "se resolve apenas dentro das quatro paredes” da Assembleia da República e promete novas formas de luta no PCP. “Cada voto e cada deputado do PCP e da CDU serão postos ao serviço dos trabalhadores e do povo, do desenvolvimento do nosso país e da resposta aos problemas nacionais.”

Partidos

Mais Partidos

Patrocinados