Governo de Costa só aprovou 100 milhões para a Ucrânia com acordo do então "líder da oposição" e teve de ser Montenegro a pagar a fatura: a entrevista a Paulo Rangel

28 mai, 22:47

Em entrevista à CNN Portugal, o ministro dos Negócios Estrangeiros explicou que o pacote de ajuda de Portugal à Ucrânia é mais amplo do que os 126 milhões de euros anunciados esta terça-feira - e onde se contam 100 milhões já anunciados por Costa. E apontou que a fórmula de Zelensky deveria ser a “matriz” para negociar a paz, sem cedências de território

O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, clarificou esta terça-feira que a verba de 126 milhões de euros para o apoio de Portugal à Ucrânia inclui um valor que já havia sido anunciado pelo ex-primeiro-ministro António Costa, mas que resulta de uma negociação com o então líder da oposição, Luís Montenegro, agora à frente do Governo.

“De repente, estamos a fazer de política de Estado política partidária. E, num caso destes, é inaceitável”, classificou, em entrevista à CNN Portugal.

Rangel explicou que os valores deste apoio “foram acordados entre o ex-primeiro-ministro em gestão e o líder da oposição”. “Não são uma iniciativa do PS como hoje já ouvi dizer”, insistiu.

Em causa está o facto de, nos 126 milhões, estarem já incluídos 100 milhões de euros prometidos à Ucrânia por António Costa. Foram utilizados, confirmou o ministro, para a compra conjunta de munições na chamada iniciativa checa.

“E, curiosamente, quando o Governo lá chegou, não estavam pagos. Foram pagos no dia 24 de abril”, indicou o governante.

Rangel vincou que estes 126 milhões de euros são apenas “apoios monetários”, existindo todo um outro conjunto de apoios à Ucrânia que representam uma verba maior. Por exemplo, no “apoio militar estamos a falar de mais 92 milhões de euros”, observou.

Já no que respeita aos equipamentos que não são novos, “mas que podem ser úteis para a Ucrânia”, o ministro dos Negócios Estrangeiros explicou que Portugal não está a contabilizar como apoio à Ucrânia o valor da substituição desses mesmos equipamentos, como fazem outros países.

(Lusa)

Uma "matriz" para a paz, sem cedências de territórios

Em dia de visita do presidente ucraniano a Portugal, Paulo Rangel considerou que Zelensky estava “muito satisfeito”, destacando os seus contactos com refugiadas ucranianas e com militares que estão no país a fazer treino.

Rangel destacou também que Portugal tem sido um “apoio político muito importante” para a Ucrânia na União Europeia e na NATO. E, numa farpa ao anterior Governo, argumentou que ficou agora claro que, na questão da adesão à União Europeia, “Portugal está na linha da frente”. Com o executivo de Costa, disse, “punha-se muitas condições”.

O ministro dos Negócios Estrangeiros justificou que a entrada da Ucrânia na União Europeia irá vincar a relevância da posição atlântica de Portugal e acelerar a necessidade “de avançar já para as reformas” no que respeita aos fundos comunitários.

Questionado sobre a possibilidade de uma liderança portuguesa do Conselho Europeu beneficiar a Ucrânia, com António Costa, Rangel disse que “até ao dia 9 de junho, é um assunto sobre o qual não se deve falar”. E explicou que haverá pelo menos uma presença nacional nesse órgão alinhada com os interesses da Ucrânia: “O primeiro-ministro de Portugal”.

Rangel reconheceu que a fórmula para a paz apresentada por Zelensky “devia ser a nossa matriz” para a negociação na cimeira prevista para junho na Suíça. Para o Governo português, as concessões territoriais são “uma linha vermelha”, porque colocam “em causa todo o sistema internacional”. “Se aceitarmos este precedente, estamos a dizer que o uso da força tem como consequência direta a mudança de fronteiras”, completou.

Questionado sobre o envio de instrutores militares para território ucraniano, Rangel descartou o cenário. “Tudo o que seja escalar, preocupa-nos, é sinal de que a situação se está a deteriorar”, disse.

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