opinião

Paulo Portas: "Estamos à beira de uma guerra entre potências nucleares e aquela que espera ser"

22 jun, 22:08

Na sua habitual análise no programa 'Global', o comentador alerta para o facto de o mundo estar a assistir a uma nova era de relações entre as potências mundiais e sublinha que a intervenção dos Estados Unidos no conflito entre Israel e o Irão "pode rapidamente escalar para um conflito global"

“O mero facto de estarmos à beira da guerra diz tudo”. Foi desta forma que Paulo Portas começou a sua análise dos recentes ataques dos Estados Unidos a três instalações nucleares no Irão. “Esta situação em particular é mais grave, a meu ver, porque já estão no teatro de operações a segunda maior potência nuclear do mundo, os Estados Unidos; Israel, que é a potência nuclear reconhecida mas não confessada; e um país que é um antigo império, que pretende ser um país do clube nuclear, que é o Irão”. 

Portanto, continuou Paulo Portas no seu habitual espaço de comentário no Jornal Nacional, não se trata de “uma guerra qualquer”. “É uma guerra entre potências nucleares — e aquela que espera ser”. O comentador sublinha que o conflito, que agora contou com a intervenção dos Estados Unidos, pertence a uma nova era. "Esta guerra já é daquilo que eu chamo a era do sistema de potências, que a administração americana pretende que substitua o sistema de alianças”. 

No sistema de potências, diz, “há um triângulo, que é o triângulo que Trump respeita”. “A saber, Estados Unidos, China e Rússia”. “Obviamente, um triângulo desconfortável para a ideia do Ocidente, mas é por isso que, neste conflito, conta pouco ou nada qualquer aliança ou qualquer sistema de intermediação”. As Nações Unidas, o Conselho do Golfo, a União Europeia — estão fora de jogo.

Para Paulo Portas, a intervenção dos Estados Unidos marcou ainda uma nova transição no espectro das relações entre Trump e Netanyahu. "Estávamos habituados a que os Estados Unidos apoiassem Israel, mas na condição de definirem os limites da ação militar externa de Israel”. “Agora temos este primeiro-ministro de Israel, que parece comandar a orientação da política externa americana”. “É uma novidade."

De resto, aponta o comentador no programa Global, a operação sigilosa norte-americana que decorreu durante a madrugada teve efeitos que, hoje, ainda não são completamente conhecidos."Não sabemos qual é o dano efetivo de deterioração, nomeadamente da instalação nuclear de Fordow”, uma das atacadas pelos bombardeiros B-2 dos EUA. “Não sabemos quantas das cerca de 3 mil centrifugadoras foram afetadas”. “Não sabemos se o Irão tinha retirado da instalação ou até do seu território o urânio enriquecido, que, a mais de 60%, é suficiente para construir mais de nove bombas nucleares” - “Bastaria uma, como sabemos”.

Há, portanto, alerta Paulo Portas, uma possibilidade de escalada global. "Este conflito pode escalar rapidamente para um conflito global”, gerado em torno da ameaça nuclear do Irão. Uma ameaça que o comentador diz ser bem real.  "No dia em que o Irão tiver a arma nuclear, temos um sério problema”.

Esse problema, acrescenta, advém do facto de não haver mais controlo sobre a proliferação de armas nucleares. “O Irão é muito pouco popular na região, exceto em determinados núcleos, e tem uma ambição doutrinária e retórica que não é conhecida noutros lugares”. “Se o Irão tiver a bomba nuclear — coisa que os Estados Unidos e Israel procuram travar há muitos anos, de formas diferentes — a consequência imediata é que há mais dois países islâmicos que seguramente terão a aspiração nuclear: a Arábia Saudita e a Turquia, que esta semana anunciou o alargamento da sua capacidade de mísseis de longo alcance”.

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