"O problema com que infelizmente todos teremos de lidar". O três cenários para a inflação em Portugal, segundo Paulo Portas

26 jun 2022, 22:55

Na guerra, o comentador do Jornal das 8 considera que “a verdade é que os russos avançaram no Donbass de forma clara” e alerta para os acontecimentos no enclave de Kaliningrado, que diz ser uma “situação perigosa e que devia ser evitada”

Combustíveis, alimentos, serviços, produtos, etc, tudo ficou mais caro desde 24 de fevereiro de 2022, o dia em que a armada russa irrompeu pelas fronteiras ucranianas, naquilo a que chamaram uma "operação militar especial". A inflação não para de subir, os juros acompanham a tendência e Paulo Portas avisa todos os portugueses: "“É com este problema político que, infelizmente, todos teremos de nos confrontar", acrescentando que "vamos ter este problema este ano e ele ainda vai existir parcialmente no próximo ano”.

No já tradicional comentário no Jornal das 8 da TVI, Global, o comentador traçou três cenários possíveis para o valor da inflação no final do ano. No primeiro, a inflação a partir de junho deixaria de aumentar e fecharíamos o ano nos 6,7%; um segundo, em que a inflação sobe em média 0,5% a partir de junho que corresponderia a 8,3%; e no terceiro cenário, a inflação subiria em média 1% a partir de junho e aí o valor no final do ano seria 9,6%.

Portas realça que o primeiro cenário não vai acontecer e a dúvida persiste agora entre as outras duas hipóteses. Se o aumento mensal até ao fim do ano for, em média, de 0,5%, o comentador calculou quanto perderiam os portugueses em termos de poder de compra.

Perda de poder de compra, se inflação aumentar 0,5% todos os meses até dezembro:

Três cenários possíveis para a inflação no final de 2022.

Na Alemanha, para além da inflação, existe agora um problema com o fornecimento de gás após a Rússia ter decidido cortar o fluxo que chega a território alemão do gasoduto Nord Stream 1 em 60%. Paulo Portas considera que Munique está agora perante um novo dilema que "não o de saber o que é o essencial e o acessório, mas sim de saber o que é o essencial e urgente, porque tem de ter gás no próximo inverno".

O comentador da TVI elogiou, no entanto, a coragem de Robert Habeck, vice-chanceler alemão e líder dos Verdes, que se viu obrigado a prolongar a existência de centrais a carvão no país. 

“Ver o líder dos verdes, que é o vice-primeiro-ministro, dizer: Não tenho alternativa a não ser prolongar centrais a carvão de que não gosto implica uma certa coragem e isso eu gosto de reconhecer”, enaltece Paulo Portas.

Fornecimento de gás preocupa cada vez mais governo alemão.

Kaliningrado - “Situação perigosa e que devia ser evitada”

Quanto à guerra em solo ucraniano, Paulo Portas considera "factos militares, neste momento, não estão a correr bem à Ucrânia". O antigo ministro da Defesa lembra que após o plano A da Rússia - ocupar a principais cidades como Kiev ou Kharkiv - ter falhado, o regime de Vladimir Putin assumiu um plano B - conquistar todo o Donetsk e o sul - e desde aí "vai avançando com pendor favorável aos russos", apesar enormes custos humanos.

“A verdade é que os russos avançaram no Donbass de forma clara”, refere o comentador.

Rússia continua a avançar na região do Donbass.

Apesar das ajudas militares provenientes de várias partes do mundo que chegam à Ucrânia, Paulo Portas explica que “o armamento ocidental não chega em 24 horas e o treino para o poder usar leva tempo”, condições que estão a atrasar a capacidade bélica de Kiev.

Perante as sanções europeias e o mais recente bloqueio a Kaliningrado, o especialista diz acreditar que esta é uma região "militarmente muito importante para a Rússia", isto porque é lá que se encontra a frota moscovita do Mar Báltico. Apontando, no entanto, que é uma "situação perigosa e que deveria ser evitada", porque a União Europeia "corre o risco de isolar tragicamente a Lituânia e a Letónia e a Estónio, se porventura os bielorrussos, em nome dos russos, ocuparem o corredor de Suwalki”, passagem que liga o enclave à Bielorrússia.

Corredor de Suwalki, a ligação do enclave de Kaliningrado à Bielorrússia.

 

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