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“Trump já deu praticamente tudo o que a Rússia quer”: Paulo Portas traça cenário de cedência geoestratégica e caos orçamental nos EUA

6 jul, 21:56

Num dos seus comentários mais críticos até à data, Paulo Portas acusa Donald Trump de ceder à Rússia e de empurrar os EUA para o abismo fiscal, com impacto direto na guerra na Ucrânia, nas relações com a Europa e na política energética global

No comentário deste domingo no “Global”, Paulo Portas alertou para o impacto da suspensão do apoio militar dos EUA à Ucrânia — a terceira em seis meses — e apontou Donald Trump como responsável por uma cedência sem precedentes à narrativa russa. “Já deu praticamente tudo o que a Rússia quer”, afirmou, referindo-se ao silêncio sobre a Crimeia, à aceitação das quatro províncias ocupadas, à limitação futura do exército ucraniano e ao veto tácito à entrada na NATO, tudo sem qualquer contrapartida do Kremlin.

A política externa norte-americana, sob influência de Trump, é descrita por Portas como errática e perigosa. A tentativa de separar a Rússia da China falhou, com Pequim a assumir que não pode permitir uma derrota russa na Ucrânia — o que, segundo o ex-ministro, consolida o “eixo de aço” entre Moscovo e Pequim e complica o xadrez internacional para o Ocidente.

No plano económico, Portas antecipou o regresso de uma guerra comercial com a Europa, a poucos dias do fim do prazo para negociações tarifárias. Produtos portugueses como vinho e azeite poderão ser afetados se Trump avançar com novas taxas, especialmente no setor agroalimentar.

A nova legislação fiscal republicana — a chamada Big Beautiful Bill — reforça este cenário de desequilíbrio: cortes massivos de impostos para grandes empresas e classe média alta, penalizações às renováveis, restrições à saúde pública e incentivos aos combustíveis fósseis. Um pacote “ideológico”, segundo Portas, que agravará a dívida dos EUA em 3,2 biliões de dólares e gerará encargos anuais de 600 mil milhões só em juros.

Portas destacou ainda a tensão entre Elon Musk e Trump, com o bilionário a preparar um terceiro partido para sabotar a campanha republicana em distritos decisivos. “Não se deporta dinheiro”, comentou, sublinhando o impacto potencial do investimento político de Musk.

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