No programa 'Global', na TVI, Paulo Portas destaca que o relatório de Mario Draghi alerta para o declínio económico da Europa, comparando o crescimento do PIB e a produtividade europeia com a americana, além de sublinhar o domínio dos EUA e China na tecnologia e inteligência artificial. Já sobre o debate presidencial nos EUA, o comentador elogia a estratégia de Kamala Harris, que se aproximou dos eleitores, enquanto Trump, com um discurso "desconexo" falhou em focar-se na economia e levantou preocupações com a sua posição sobre a guerra na Ucrânia
O comentador da TVI, Paulo Portas, sublinha que o relatório que Mario Draghi concebeu para uma nova política económica e industrial na União Europeia é “certamente o mais importante relatório sobre o estado da Europa escrito por uma autoridade respeitada na Europa”. Isto porque, garante, “usa a palavra que apavora os europeus, mas que os europeus sabem que é verdadeira: declínio”. “Se não fizermos nada, entraremos em declínio”.
Diz também alguns dados essenciais, Paulo Portas sublinha aquele que considerou o mais importante: “Se compararmos o PIB a preços constantes entre os EUA e a Europa, a diferença era 17% a favor dos americanos há algumas décadas e agora é 30% a favor dos americanos”.
Por outro lado, Paulo Portas refere que há outro assunto que os europeus não querem falar: “a produtividade por hora trabalhada dos americanos é 20% superior à dos europeus”. “Para subir rendimentos também é preciso acordar ganhos de produtividade”, acrescenta.
Draghi toca também na ferida da economia do futuro e da Inteligência Artificial, ressalvando que neste espectro a indústria é “completamente dominada pelos americanos e chineses”. “Nas 50 maiores companhias tecnológicas do mundo, há quatro apenas que são europeias”. “Nas dez primeiras, não há nenhuma europeia”.
Se as pessoas olharem para o relatório de Draghi com atenção, destaca o comentador da TVI, vão perceber que na “Europa é tudo excessivamente regulado”. “Não há dúvida nenhuma que Mário Draghi tocou na ferida”.
Paulo Portas e os bastidores da frase viral de Trump: A senhora viu o debate e a vizinha disse-lhe: ‘eu ouvi dizer isso, não sei, não foi o meu cão’
No programa Global, Paulo Portas deu também destaque à política norte-americana, referindo que Kamala Harris conseguiu uma vitória importante no debate contra o ex-presidente Donald Trump. Ainda assim, o comentador da TVI é cauteloso a fazer previsões: “a diferença entre ambos está nos 0,2% nos 7 Estados norte-americanos que vão decidir tudo”
Kamala Harris, garante, utilizou uma estratégia simples mas eficaz: “o seu sorriso”. Que funcionou como uma espécie de "microfone aberto", permitindo-lhe aproximar-se do espectador, especialmente quando Trump apresentava argumentos mais “exóticos”. Esta abordagem, somada à sua prestação no debate, fez desta semana talvez a melhor da vice-presidente.
“Kamala queria que os americanos a vissem como uma possível presidente e Trump teria o objetivo de sossegar alguns eleitores e centrar o debate na economia. Manifestamente em termos objetivos, Kamala Harris aproximou-se mais do seu objetivo, pareceu mais presidenciável”, afirma Portas, reiterando que Trump não conseguiu fazer o mesmo, “sobretudo porque disse coisas muito desconexas, e caiu na armadilha de ir atrás das coisas que Kamala lhe dizia.
A sequência dos eventos também jogou a seu favor. Logo após o debate, Harris conquistou o apoio público da famosa cantora Taylor Swift, e os números da inflação caíram para 2,5%, fortalecendo ainda mais a sua imagem junto ao eleitorado. Harris conseguiu, na ótica de Paulo Portas, dar passos importantes “para se mostrar como uma alternativa presidencial viável”.
Ao invés, Donald Trump pareceu mais disperso e acabou por cair na "armadilha" de reagir às provocações de Kamala. Segundo Portas, Trump apresentou um discurso desconexo, incapaz de manter o foco na economia, que era um dos seus principais objetivos no debate. O contraste ficou claro: de um lado, Kamala surgiu como uma candidata simpática e centrada; do outro, Trump apareceu “rabugento, confrontador, e com um discurso de divisão.
Um dos momentos mais “terríveis” do debate foi a posição de Trump em relação à Ucrânia. “Quando questionado, Trump não foi capaz de afirmar que desejava a vitória da Ucrânia no conflito com a Rússia”. Para Portas, este é um ponto alarmante, pois nunca se viu “um candidato dos EUA ser sequer minimamente suspeito de estar a ser manipulado pela Rússia”.
Aliás, garante, o plano de paz apresentado por Trump alinha-se com as diretrizes estabelecidas pelo próprio Vladimir Putin, meses atrás, levantando preocupações sobre a sua política externa.
Portas também criticou a forma como Trump baseou algumas das suas declarações em rumores sem fundamento. Nomeadamente, quando alertou para o facto de imigrantes estarem a comer animais de estimação em Springfield. “Como é possível um um candidato a presidente dos EUA fazer uma afirmação daquelas baseado numa publicação que uma senhora tinha feito, dizendo ‘eu ouvi dizer da minha vizinha que o cão dela tinha desaparecido e estava a ser comido por imigrantes’”. “A senhora viu o debate - foi falar com a vizinha - e a vizinha disse-lhe: ‘eu ouvi dizer isso, não sei, não foi o meu cão. Foi uma série de “não sei, não foi assim”.