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Musk percebeu que "ser empresário é uma coisa e político outra". Quem quer ser tudo vai sempre esbarrar em "conflitos de interesse"

1 jun, 23:50

Quanto a Trump, Paulo Portas deixa um conselho à Academia: esta mediação norte-americana assente em "tweets" e "insultos" deve ser "caso de estudo sobre o que não deve ser uma mediação"

Paulo Portas considera que a saída de Elon Musk da esfera da administração de Donald Trump mostra que “estava escrito nas estrelas que a Sala Oval é demasiado pequena para dois egos tão grandes”. A saída do multimilionário “não é irrelevante politicamente” e evidencia incompatibilidades de fundo com a política da atual liderança republicana.

O comentador da TVI (do mesmo grupo da CNN Portugal) considera que Musk teve choques diretos com Trump em três áreas centrais: China, tarifas comerciais e energias limpas. Sendo um empresário "global, inovador, exportador" e profundamente comprometido com a transição energética, Musk não tem nada a ganhar com “uma escalada tarifária” ou com uma economia virada para o protecionismo.

“Ele terá percebido que ser empresário é uma coisa, ser político é outra, e querer ser as duas coisas ao mesmo tempo gera inevitavelmente conflitos de interesse”, nota Paulo Portas.

A política tarifária da administração Trump, diz Portas, está marcada por uma enorme instabilidade. “Compreender os estados das coisas é muito difícil porque isto é um imbróglio monumental em que, exclusivamente Donald Trump, meteu a América”.

Segundo o comentador, a relação EUA-China, duas das maiores economias do mundo, “tem de ser gerida com responsabilidade”. No caso das tarifas, o mundo está “a pagar o preço da incerteza e de uma grande confusão política e jurídica”.

No plano internacional, Paulo Portas considera que a Rússia deveria refletir: “se pretender permanecer coercivamente na Ucrânia, vai viver dia após dia com terrorismo dentro do seu próprio território. Os ucranianos são resistentes”.

Critica duramente a mediação norte-americana, que classifica como um “caso de estudo sobre o que não deve ser uma mediação”. Uma verdadeira mediação, afirma, “é discreta, não é vocal, não vive de tweets nem de insultos”. Como contraponto, aponta o exemplo do Vaticano: “nunca os ouvem falar, mas estão lá, constroem pontes”. 

Para afetar realmente o cálculo estratégico de Putin, Paulo Portas defende duas linhas: dar armas à Ucrânia - para que possa defender-se e atacar - e redirecionar os ativos congelados que interessam aos oligarcas russos.

Virando-se para a Europa, Portas analisa o início de mandato do novo chanceler alemão Friedrich Merz, destacando os sinais de mudança política na Alemanha e a atenção redobrada que Berlim voltará a dar à indústria, à energia e à defesa.

Na Polónia, define as eleições como “impróprias para cardíacos” e aponta um país profundamente dividido: “não é uma escolha entre Rússia e Ocidente, porque ambos os lados são anti-russos”. A clivagem está entre candidatos “mais europa e menos europa”. A memória do passado, tanto do domínio nazi como do comunismo soviético, une o país contra Moscovo, considera.

Em Espanha, o foco volta-se, novamente, para o apagão que deixou vastas regiões às escuras. Segundo Paulo Portas, o primeiro-ministro Pedro Sánchez atravessa um “momento péssimo” politicamente com impacto direto na sua autoridade e na perceção pública de competência governativa.

No Médio Oriente, Paulo Portas é contundente: “continua o desastre que vai produzir décadas de ódio e impossibilitar qualquer solução diplomática”. Acusa o primeiro-ministo israelita, Benjamin Netanyahu, de “estar sempre à procura de um inimigo externo para se proteger internamente”.

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